Alt-J: até ao fim foi morno, e no seu momento final acendeu-se a chama

por Miguel de Almeida Santos,    8 Janeiro, 2018
Alt-J: até ao fim foi morno, e no seu momento final acendeu-se a chama
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No passado dia 6 de Janeiro, os Alt-J passaram pela Altice Arena para a sua primeira exposição musical de 2018. O grandioso palco para o concerto – ainda que não tão preenchido como se desejaria – é sinónimo de uma caminhada em franca ascensão. Desde que An Awesome Wave viu a luz do mundo, há quase seis anos atrás, que este quarteto tornado trio tem beneficiado de um carinho especial do público, que se rendeu às músicas de aguçada sensibilidade pop e arranjos vocais “transcendentes” da banda. Depois da sua estreia no país no Milhões de Festa 2012, foram finalmente a “atracção principal” do espectáculo, numa performance que, fazendo jus ao nome do seu mais recente álbum, foi conduzida de forma relaxada.

Antes dos britânicos subirem a palco, a jovem compatriota Marika Hackman abriu a noite com as suas guitarradas espaçosas e o seu rock alternativo descontraído, munido de harmonias vincadas pelas notas agudas do instrumento da artista. Foi um concerto morno e contido, sem o calor necessário para receber o público que ia aparecendo, uma actuação que não fez esquecer a noite fria que caía nas ruas de Lisboa. Não faltou empenho a Marika e à sua banda mas o público não se mostrava impressionado, limitando-se ao dever obrigatório de aplaudir o esforço musical no final das músicas. Ficou claro que a meta era outra, e depois de Hackman se despedir, ainda se esperaram largos minutos para que essa meta fosse ultrapassada.

Alt-J foram recebidos com um enorme aplauso pelo público, agradecendo discretamente e preparando “Pleader” para abrir a actuação. O tema foi acompanhado de forma quase fúnebre pela audiência que preferiu demonstrar o seu enorme apoio na música que se seguiu. “Fitzpleasure” ouviu-se com toda a pujança das notas graves envolventes e foi um dos melhores momentos da noite. O cenário visual foi um belo acrescento à bonita música de Alt-J. Depois da séria “Nara”, a jovial “Something Good” foi pintalgada de chuva eléctrica com LED’s claros que se apagavam e acendiam hipnoticamente ao som da música, sincronizadas com a energia sonora, uma surpresa que fez verdadeiramente a diferença. A atmosfera brilhante e aquosa da música de Alt-J sofre com a passagem do estúdio para as actuações ao vivo mas o espectáculo visual conseguiu ofuscar as lacunas que essa passagem demonstra. Separados por gaiolas luminosas, o triângulo humano no meio da luz tocou “The Gospel of John Hurt” com uma intensidade bem recebida pelo público.

Depois de umas palavras fugazes, “In Cold Blood” ressoou pela Altice Arena e trouxe Relaxer de volta para o centro da actuação. Mas o álbum mais recente da banda foi o que menos se ouviu, o centro da setlist (e do calor do público) foi An Awesome Wave. “Interlude 1” e “Tesselate” continuaram o espectáculo com a voz de Gus a mostrar algumas falhas (talvez ainda a acusar a ressaca de Ano Novo), seguidas de “Every Other Freckle” e “Hunger of the Pine”, esta última ornamentada por uma cascata vagarosa de LEDs escarlate que nem estalactites e estalagmites modernas. Depois da possante “Deadcrush” concluir esta pequena sequência cronológica de temas, “Bloodflood” acalmou os ânimos com a sua atmosfera pensativa e meditativa. Após esta música, ouvimos as primeiras palavras do vocalista Joe Newman: “Okay, Lisbon, sing along with me”, seguida das primeiras notas vocais do êxito “Matilda”, entoada a plenos pulmões por todos os presentes.

O espectáculo aproximava-se da recta final mas ainda houve tempo para alguns temas incontornáveis. “Dissolve Me” trouxe ao de cima 347 timbres diferentes mas o de Joe ouvia-se mais alto que todos os bravos cantores do público, enquanto ele e os seus companheiros eram trespassados por feixes de luz horizontais numa performance verdadeiramente bela de um dos melhores temas de An Awesome Wave. “Left Hand Free” e o seu calor de blues radical trouxe muita energia para este final de actuação e a última música veio com uma surpresa: “Esta música chama-se Tarot”, disse o teclista Gus Unger-Hamilton num surpreendente português pouco arranhado. Após uma hora e pouco mais de temas, os Alt-J despediam-se de Lisboa.

Mas ainda faltava o encore e guardaram o melhor para o fim. “Breezeblocks” foi sem dúvida o melhor momento da actuação, um agradecimento ao público, referido por Gus: “This is our first headline show in Portugal, that means a lot to us. Thank you.” A última música da noite foi um show de luzes frenéticas e toda a gente a cantar, com Joe a solicitar o público para o acompanhar na intensa parte final da música. Na última música da noite, finalmente se sentiu a adrenalina. Acredito que os fãs tenham saído satisfeitos. Ouviram as músicas que queriam ouvir, entoaram-se os êxitos, relembraram-se os hinos desta banda. Mas foi tudo executado de forma pacata, sem particular destaque para a grande maioria das músicas. Foi um espectáculo curto, bem apoiado visualmente mas com pouco para mostrar. Foram concisos e directos ao assunto, mas uma divagação não ficava nada mal. Até ao fim foi morno, e no seu momento final acendeu-se a chama.

Setlist:
Pleader
Fitzpleasure
Nara
Something Good
The Gospel of John Hurt
In Cold Blood
Interlude 1
Tesselate
Every Other Freckle
Hunger of the Pine
Deadcrush
Bloodflood
Matilda
Dissolve Me
Left Hand Free
Tarot

Encore:
Intro 1
3WW
Breezeblocks

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