As nossas 25 melhores canções do ano

por Comunidade Cultura e Arte,    27 Dezembro, 2017
As nossas 25 melhores canções do ano
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A equipa da vossa Comunidade Cultura e Arte dedicou este ano de 2017 a uma cobertura extensiva do que melhor se fez na música, tanto cá dentro como lá fora. Com mais de 150 críticas a álbuns, e reportagens de variadíssimos concertos e festivais, este foi um ano recheado de música na CCA. Nesta altura de final de ano, consideramos importante fazer um balanço daquilo que mais nos marcou ao longo de 2017; tanto por nós como por aqueles que nos lêem e contribuem para o nosso crescimento. Desta vez, partilhamos convosco as 25 canções que mais nos marcaram em 2017.

25. Future – Mask Off
24. Perfume Genius – Die 4 You
23. Big Thief – Mary
22. Julien Baker – Turn Out the Lights
21. Planetarium – Mercury
20. Luís Severo – Escola
19. Tyler, the Creator – Where This Flower Blooms
18. Radiohead – Lift
17. SZA – Supermodel
16. St. Vincent – New York
15. Lorde – Writer in the Dark
14. Arca – Desafío
13. Lana del Rey – Lust for Life
12. Arcade Fire – We Don’t Deserve Love
11. Kendrick Lamar – FEAR.

10. LCD Soundsystem – How Do You Sleep?

Para aqueles cujas colunas são potentes o suficiente para aguentar o baixo desta peça central de American Dream, esta música certamente não terá passado despercebida. O build-up de batida fervilhante deixa antever uma viragem explosiva, que vem por volta dos 3 minutos e meio, e fascina pela sua força sonora. A partir daí é sempre a subir, até que o ritmo se solta na marca dançável da banda de culto de James Murphy. Esta estrutura tripartida torna cada audição de 9 minutos uma viagem auditiva que apetece fazer regularmente, com novas descobertas a cada mudança de ritmo. Como é que dormimos? Com este hino, é impossível.

9. Frank Ocean – Chanel

Depois de um 2016 que viu Frank Ocean regressar em grande com dois álbuns, Endless e Blonde, ninguém esperava ter, em 2017, mais notícias do esquivo músico norte-americano. Tornando o emblema da marca francesa símbolo da fluidez sexual que marca o próprio artista (“My guy pretty like a girl / And he got fight stories to tell / I see both sides like Chanel”), “Chanel”, o primeiro dos singles lançados por Frank Ocean este ano, num registo em que é a voz que ocupa o espaço deixado pela dispersa produção, é mais um exemplo de como é possível fazer imenso com algo que aparentemente é tão pouco.

8. Father John Misty – Things It Would Be Helpful to Know Before the Revolution

Josh Tillman, desde que utiliza o alias de Father John Misty, manifesta-se tanto pelo carácter espirituoso da sua lírica como pela intensidade das suas opiniões, quase sempre expressas de forma sardónica. Pure Comedy, editado este ano, é o culminar disso tudo. Uma reflexão ironicamente triste sobre o estado das coisas, cuja desilusão e descrença se revêm na excepcional “Things It Would Be Helpful to Know Before the Revolution”. Tendo como companhia principal o piano, Tillman descreve a revolta contra a inconsciência humana e o constante desrespeito pelo planeta Terra. O lamento cresce, bem como a desmoralização, e a melodia, com crescendos de violinos e sopros, acompanha-o; a desordem instala-se e a distorção metaforiza-a. Mas no fim tudo fica igual, resta-nos apenas o bom sabor de mais uma magnífica composição musical de Father John Misty.

7. Dirty Projectors – Cool Your Heart

Do épico álbum homónimo de electro-R&B orquestrado por Dave Longstreth, o pedaço mais infeccioso de música será certamente esta fabulosa canção pop de batida acelerada e futurista, com infusão de teclas tropicais à moda do calypso. Apesar do ritmo e bridge marcadamente experimentais, o refrão que fica no ouvido e voz familiar da ex-membro das Danity Kane, Dawn Richard, retiram-lhe toda a pretensiosidade da estrutura meticulosa. Aliás, é de estranhar que a canção não tenha sido omnipresente ao longo do ano, dada a sua qualidade feel-good, mas achamos que merece um lugar cativo nos palmarés das melhores canções de 2017.

6. King Krule – Czech One

King Krule é patrono da melancolia. “Czech One” assegura-nos disso, ao vir de um gélido e depressivo lugar longínquo de solidão dilacerante. “She grips me tight, she grips me tight/But I still rip at the seams”, bonita e triste poesia cantada e adornada por um latido de saxofone. A intensidade da música atinge-nos como um murro no estômago, é nos ouvidos o estímulo, mas no corpo todo a reacção. Os teclados quentes que fazem soar um discreto motivo melódico não aquecem o frio tristonho. Se um coração partido dançasse, seria ao som desta assombrosa música.

5. Salvador Sobral – Amar Pelos Dois

Nos dias que se seguiram à primeira apresentação de “Amar pelos Dois”, na semi-final do Festival da Canção da RTP, a música espalhou-se e entranhou-se na esfera pública como se já a conhecêssemos há muito. A força da interpretação de Salvador, sobre a composição da irmã Luísa, teve o condão de adicionar a canção ao cancioneiro português, ao lado de clássicos como “Porto Côvo”, “Loucos de Lisboa”, “Dunas”; aquelas canções a que voltamos há décadas, que são nossas. O tempo encarregar-se-á de confirmar aquilo que já sentimos ser verdade: esta canção veio e ficou; e pelo caminho ainda deslumbrou a Europa inteira.

4. Alt-J – 3WW

“3WW” é como uma espécie de viagem em forma musical. Os seus primeiros minutos, cinematográficos e quase místicos, perpassam um sentimento de isolamento através de atmosféricas guitarras acústicas e um denso ritmo percussivo, e é num tom distante e solene que a voz do teclista Gus Unger-Hamilton anuncia os versos iniciais. Mas a voz de Joe Newman traz consigo um alívio emocional, com o vibrante refrão a introduzir uma doce e apaixonada melancolia, que evoca o romance de uma noite passada na floresta à beira da fogueira. “3WW” balança entre vagueares solitários e manifestações de amor, e se, por um lado se pode sentir uma bem-vinda familiaridade nalguns dos seus momentos mais esperançosos, ao mesmo tempo também é diferente de qualquer coisa que os alt-J alguma vez fizeram. “I just want to love you in my own language”, Newman suspira, enquanto um delicado piano se faz ouvir no fundo e a música conclui com o regresso da batida inicial. Nunca terá o grupo sido mais directo a transmitir a sua mensagem, e a sua honestidade joga por completo em seu favor. Mais do que um momento criativo de grande excelência, “3WW” é uma das melhores oferendas a ser encontradas na carreira do grupo.

3. The xx – Say Something Loving

Apesar das suas virtudes, Coexist mostrava que uma mudança era necessária na abordagem dos The xx, se estes quisessem manter os níveis de qualidade e personalidade com que se deram a conhecer no seu álbum de estreia. I See You viu a banda inglesa a movimentar-se nesse sentido, partindo em busca dos territórios musicalmente densos, coloridos e ricos nos quais o próprio Jamie xx já se tinha começado a aventurar em In Colour. “Say Something Loving” será a música perfeita para espelhar os sucessos daí obtidos. Os vívidos pianos e toques de bateria fornecem uma lufada de ar fresco aos contos de amores hesitantes e perdidos que as vozes de Oliver Sim e Romy Madley Croft trocam entre si, e as suas belas melodias contrastam da melhor forma com o apaixonado desespero que revelam nos seus versos (“I do myself a disservice to feel this weak, to be this nervous”). Não é uma mudança radical para o grupo, que são, em essência, os mesmos jovens sonhadores que, há 8 anos, cativavam os críticos com o seu indie pop minimalista, mas faz parte de uma progressão natural que os permite explorar as suas sensibilidades pop de um modo mais desinibido e livre. Aliciante e memorável, é uma canção que combina o melhor dos seus dois mundos, capturando o grupo num dos seus melhores momentos de forma e permitindo antecipar ainda maiores conquistas no futuro.

2. Fleet Foxes – Third of May / Ōdaigahara

Qualquer recurso estilístico seria insuficiente para descrever o som criada pelos Fleet Foxes. Inspira e acrescenta-nos novas formas de experienciar emoções vindas de um mundo narrado pelas paisagens musicais. A banda surgiu em 2006 e até hoje deixa como que um manto mágico, uma subtileza marcada pela sua estética folk e vibração indie. Habituaram o público a uma complexidade musical, vasta e rica, dando especial atenção à pormenorização, seja ela nas narrativas, no ritmo, nas texturas ou nas escalas. A música que marca de forma transcendental o mais recente Crack-Up chama-se “Third of May / Ōdaigahara”, e é nela que temos a certeza que regressamos às emoções e típica sonoridade melódica de Fleet Foxes. Escalamos montanhas, exploramos florestas e reconhecemos o tom, e a harmonia dos ritmos e dissonâncias. Perdemo-nos num imaginário longínquo, voamos sem saber numa cantiga à fogueira. Fica-nos gravado um som que evoca, brilhantemente, o mundo natural; a água e a flutuação no imaginário aveludado.

1. The National – Carin at the Liquor Store

Os The National regressaram este ano aos álbuns de originais com Sleep Well Beast, editado em Setembro passado, e “Carin at the Liquor Store” surge como o terceiro single de promoção do álbum. A canção apresenta-se como uma viagem melancólica por um retrato de dor e amor, deixado a nu pela voz de Matt Berninger. Uma composição sublime, que começa com um piano e nos embala numa união harmoniosa de sons com um solo de guitarra celestial, naquela que é provavelmente uma das mais belas baladas deste ano.

Contribuições de: Bernardo Crastes, Daniel Dias, Joana de Sousa, Miguel Fernandes Duarte, Miguel Santos, Sara Camilo, Sara Dias e Tiago Mendes

Calendário do melhor de 2017 na música:

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