Bas Eickhout, eurodeputado: “Devíamos tratar a indústria dos combustíveis como tratamos a do tabaco”
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O esperado crescimento do mercado das renováveis vai alterar o equilíbrio de forças geopolíticas no setor energético. Grandes exportadores de combustíveis fósseis, como a Rússia e a Arábia Saudita, devem perder influência a favor da China, que tem liderado a produção e inovação em renováveis, bem como das tecnologias relacionadas, como a mobilidade elétrica – e que é, além disso, o maior mercado de energia do mundo. Em 2017, foram aplicados na República Popular da China 45% dos 279,8 mil milhões de dólares investidos a nível mundial no setor da energia renovável. Esse ano confirmou também uma clara divisão geográfica do investimento: se, em 2004, a Europa era o principal destino, a potência asiática assumiu rapidamente, e com uma enorme vantagem, esse lugar, como mostra um estudo da Frankfurt School-UNEP Centre.
Em Setembro de 2018, a União Europeia acabou com as restrições à venda de painéis solares chineses. A Comissão Europeia tomou a decisão de pôr fim às tarifas que, desde 2013, impediam a China de colocar painéis a baixo preço no mercado europeu, para ajudar os Estados-Membros a atingir as suas metas de energia renovável.
A importação será também inevitável para Europa quando quiser substituir a sua frota de carros por elétricos, diz o eurodeputado holandês Bas Eickhout. Porquê? Porque os Estados-Membros não têm políticas claras que conduzam os investimentos das suas empresas para a transição energética, acredita. Aponta para um exemplo concreto: “A indústria automóvel alemã que está aqui na Europa a bloquear políticas, está a investir em carros elétricos na China.”
Eurodeputado do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, desde 2009, Bas Eickhout é um dos dois candidatos do Partido Verde Europeu ao cargo de Presidente da Comissão Europeia – cujos candidatos são propostos pelo Conselho Europeu mas têm de ter a aprovação das e dos parlamentares eleitos nas eleições da próxima semana. É membro da Comissão de Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar e da Delegação para as Relações com os Estados Unidos da América. Antes de se dedicar à política, estudou Química e Ciências do Ambiente, tendo sido investigador na agência holandesa de avaliação ambiental.
Uma nota: há um erro nesta entrevista. Quando cito dados do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre a subida da temperatura mundial em 1,5 graus, digo que este órgão avisa de que a tendência de aumento das emissões, e consequente aquecimento do planeta, pode ser revertida no prazo de um ou dois anos. Queria dizer 11. É essa a janela de oportunidade que, segundo um relatório divulgado em outubro passado, as sociedades têm para fazer mudanças profundas e rápidas nos transportes, indústria, energia e agricultura.
O Fumaça foi convidado pelo Parlamento Europeu a assistir às últimas semanas de trabalhos antes das eleições europeias. Esta entrevista foi gravada na sede oficial, em Estrasburgo.
A conversa foi em inglês. Lê aqui a tradução completa.