Bem-vindos ao universo negro e explosivo dos Before And After Science
É incrível como os subgéneros musicais em Portugal cresceram tanto nos últimos anos. Se olharmos cuidadosamente para o rock progressivo, post-rock, metal progressivo e low-fi eletrónico encontramos em Portugal inúmeros artistas de enormíssima qualidade.
Vindos do Porto, essa bela cidade que é um caldeirão artístico sempre a rebentar talento, os Before And After Science passaram por algumas mudanças de membros nos últimos anos, mas não foi por isso que perderam a sua identidade. Do seu anterior registo, “Vital Signs Of A Fallen World” encontramos várias semelhanças neste novo álbum, intitulado de “Relics & Cycles“, mas acima de tudo nota-se uma clara evolução para um projecto mais sólido e com maior afirmação.
Não é preciso pensar muito para descobrir as influências do grupo. Bandas como Caspian, Explosions in The Sky e Russian Circles certamente que figuram entre essa lista, mas o que se sente neste novo trabalho é que o grupo do Porto conseguiu rasgar as suas influências e criar uma identidade própria. Por vezes há um qualquer esoterismo nas suas musicas a fazer lembrar o instrumental mais pesado dos ISIS. E é essa maturidade e fusão de géneros que surpreende imediatamente com a música de abertura do álbum, “Downburst”, uma autêntica bomba de riffs pesados ao estilo de Russian Circles.
Os Before and After Science não devem nada a nenhuma das bandas internacionais de renome dentro do género. Se na primeira faixa assistimos a uma destruição massiva e demonstração de poder da banda, na segunda música “Howling” somos guiados pelas fantásticas guitarras (aqui mais ao estilo de Explosions in The Sky) e de uma excelente composição. É esta capacidade de construir narrativas visuais através da música que torna o género do post-rock um dos mais especiais da música instrumental. A banda sabe bem como dominar essa narrativa e usa a sua qualidade para criar ritmos alucinantes, ou momentos mais parados, de perfeita calma e contemplação.
No geral, “Relics & Cycles” é mais negro que o seu antecessor, com a elegante “Nostalgia” a fazer relembrar alguns arranjos de faixas de Chelsea Wolfe. Este ambiente sombrio combina na perfeição com o magnifico artwork do álbum, a cargo do artista espanhol “Andi “StillaKid” Rensen Aguion”.
É quando chegamos à última faixa do álbum, “Poinsenttia” que nos sentimos verdadeiramente infectados pelo som e ambiente que a banda criou para nós. A última faixa engloba as diversas influências do álbum, desde momentos mais math (principalmente na bateria) com outros mais pesados ou contrastando com ambientes calmos.
“Relics & Cycles” é um dos melhores álbuns de post-rock da história da música portuguesa. Além do ambiente negro e pesado, próprio da banda e do estilo, consegue ainda explorar outras temáticas e universos, transpondo-nos sempre para uma outra realidade tão confortável que custa deixá-la no fim. Este é uma clara evolução para o álbum anterior da banda e uma afirmação de uma banda que com dedicação e empenho poderá chegar a níveis mais elevados fora de Portugal.