Caminhos da Água: uma história de amor pela região do Médio Tejo
Pelo segundo ano consecutivo, treze municípios da região do Médio Tejo uniram-se na iniciativa “Caminhos”. A edição anual é dividida em três partes – Caminhos do Ferro, Caminhos da Água e Caminhos da Pedra – realizadas em Abril, Julho e Outubro, respectivamente. E é nesta iniciativa que os concelhos de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Sertã, Tomar, Torres Novas, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha abrem as portas a iniciativas culturais, todas elas gratuitas, que pretendem dar a conhecer os concelhos por outros olhos.
A Comunidade Cultura e Arte foi convidada para estar nos Caminhos da Água e, agora numa nota mais pessoal, fui eu, nascida e criada num dos concelhos da iniciativa, a destacada para estar presente. Apesar da proximidade geográfica de todos estes concelhos, a experiência pessoal de quem ali vive dita que, no dia-a-dia, não é assim tão fácil ou habitual dedicar tempo a conhecer os concelhos mais próximos. Mesmo que tenhamos passado inúmeras vezes pelas mesmas ruas, é mais do que provável que o pormenor que está ali à vista de todos nos passe despercebido. E nesse sentido, como natural dali, vi a zona por outros olhos, ajudada pelos artistas e pelas actividades que, no âmbito desta iniciativa, se dedicaram de alma e coração a valorizar o que tantas vezes damos por adquirido ou nos passa, literalmente, ao lado.
Num dos dias, passámos pela idílica Praia Fluvial de Cardigos, no concelho de Mação, numa iniciativa que, embora tenha como público-alvo as crianças, vai buscar às memórias de todos os monstros que povoavam a nossa infância. “Bestiário à Solta, Histórias do Bestiário Tradicional Português” permite-nos voltar a ser crianças, numa performance que recria, entre outros, o homem do saco ou as cantadeiras. O imaginário e a história popular andaram ali lado a lado, cativando os pequenos e os graúdos que se reuniram para ouvir estas histórias que nos unem.
Passámos também por Vila de Rei, onde as marcas dos incêndios que fustigaram a zona no ano passado estão ainda bastante visíveis. Aqui somos agraciados por um percurso multissensorial, cuidadosamente pensado pelo colectivo BURILAR, e que faz dos pormenores monumentos. Ainda mais interessante foi a conversa que se seguiu, entre locais e não locais, num agradecimento honesto dos que ali vivem pelo reconhecimento da sua terra.
O dia haveria de terminar com um concerto na magnífica praça de Constância. Se há locais perfeitos para concertos, esta praça será certamente um deles; se há músicos portugueses que merecem que se diga uma e outra vez que são brilhantes, Samuel Úria será certamente um deles. As cartas já estão dadas, as músicas não nos saem dos ouvidos, e o entusiasmo com que Samuel fala da “sua” Tondela cimenta-o como um representante da música portuguesa e dos caminhos da nossa terra.
No dia seguinte andámos por Torres Novas, numa actividade mais dedicada às crianças, mas que ainda assim cativou alguns graúdos, e que consistia na construção e desconstrução de uma cidade de esponja e de uma cidade visível, de acordo com a visão de cada um. O final do nosso dia foi com sons, primeiro com a parafernália de aquários, tubos e taças que Gustavo Costa e Henrique Fernandes usaram para fazer sons com água. Sonoscopia, assim se chama, foi à primeira vista estranho; despertou-nos a atenção e a desconfiança de que algo sairia dali. Mas o resultado, no meio de pingos e plims, foi tão agradável quanto curioso.
A nossa incursão pelos Caminhos da Água terminou em Ferreira do Zêzere, para assistirmos ao concerto dos Alexander Search, num auditório há dias esgotado. Com um álbum lançado (homónimo), o colectivo liderado por um hiperactivo Benjamin Cymbra (vá, Salvador Sobral) e Augustus Search (Júlio Resende) musicaram poemas de Fernando Pessoa, contaram histórias e arrancaram risos. E, mais do que tudo, foi interessante ver a heterogeneidade do público, desde pessoas com mais idade a crianças de colo.
“Caminhos da Água 2018” continua no próximo fim-de-semana e por tudo o que já foi dito e por muito mais, recomenda-se a todos os que residem nestes municípios e queiram ver por outros olhos as terras que tão bem conhecem. Recomenda-se também a curiosos, a amantes de histórias e da História, a todos aqueles que queiram saber de que Caminhos se faz Portugal.
E teremos Bonga, Valter Lobo, Budda Power Blues e Maria João… e um sem fim de gentes e de paisagens. Vê o programa aqui:
PROGRAMA CAMINHOS DA ÁGUA – JULHO 2018
19 JUL (5ªF)
10:00-13:00 / 14:30-18:00 Casa das Brincadeiras – Praia Fluvial, Sertã – jogos e histórias
16:00 Correspondência: percurso sonoro para o jardim da Serrada, João Bento – Serrada, Sertã – percurso
18:00 Abrantes que já cá não moura, Francisco Goulão – Castelo de Abrantes, Abrantes – percurso
19:00 A Selva, Tiago Correia – Fábrica da Cultura de Minde, Alcanena – percurso
21:00 The Funes Van, The Funes Troup – Praça 8 de Maio, Alcanena – circo contemporâneo
22:00 Bonga – Praça 8 de Maio, Alcanena – música
20 JUL (6ªF)
10:00-13:00 / 14:30-18:00 Casa das Brincadeiras – Praia Fluvial, Sertã – jogos e histórias
16:00 Correspondência: percurso sonoro para o jardim da Serrada, João Bento – Serrada, Sertã – percurso
17:00 The Funes Van, The Funes Troup – Praia Fluvial do Penedo Furado, Vila de Rei – circo contemporâneo
18:00 Abrantes que já cá não moura, Francisco Goulão – Castelo de Abrantes, Abrantes – percurso
19:00 A Selva, Tiago Correia – Fábrica da Cultura de Minde, Alcanena – percurso
22:00 Sueños de Arena, Ytuquepintas – Praça Raimundo Soares, Abrantes – teatro de rua
21 JUL (SAB)
11:00 EZ SUB, Projecto EZ – Centro Histórico, Abrantes – teatro de rua
16:00 Correspondência: percurso sonoro para o jardim da Serrada, João Bento – Serrada, Sertã – percurso
17:00 EZ SUB, Projecto EZ – Praia Fluvial Ortiga, Mação – teatro de rua
18:00 Entremundos, PIA – Praia Fluvial, Sertã – teatro de rua
Abrantes que já cá não moura, Francisco Goulão – Castelo de Abrantes, Abrantes – percurso
Valter Lobo – Jardim Municipal, Mação – música
19:00 A Selva, Tiago Correia – Fábrica da Cultura de Minde, Alcanena – percurso
21:30 Sueños de Arena, Ytuquepintas – Centro Geodésico de Portugal, Vila de Rei – teatro de rua
22 JUL (DOM)
11:00 EZ SUB, Projecto EZ – Praia Fluvial do Bostelim, Vila de Rei – teatro de rua
Água, Circolando – Parque Tejo, Abrantes – teatro de rua
16:00 Correspondência: percurso sonoro para o jardim da Serrada, João Bento – Serrada, Sertã – percurso
17:00 Água, Circolando – Parque Tejo, Abrantes – teatro de rua
EZ SUB, Projecto EZ – Alameda da Carvalha, Sertã – teatro de rua
18:00 Abrantes que já cá não moura, Francisco Goulão – Castelo de Abrantes, Abrantes – percurso
19:00 A Selva, Tiago Correia – Fábrica da Cultura de Minde, Alcanena – percurso
21:30 Budda Power Blues & Maria João – Escadaria do Hotel do Convento, Sertã – música
Mais informações em Caminhos.MedioTejo.pt