Capitão Fausto: parece que vejo estes rapazes em todo o lado
Os Capitão Fausto estão em todo o lado. Pelo menos, é essa a impressão com que fiquei depois do seu concerto no Super Bock Super Rock 2017, quase uma semana depois de pisarem o palco NOS Clubbing no NOS Alive. Uns quantos membros como o grupo de indie rock Modernos, e o gangue todo como BISPO, o efusivo projecto electrónico dos autores de “Litoral”. Isto tudo depois de no espaço de pouco mais de um ano ter tido o prazer de os ver outras três vezes. De concertos “à porta” da MEO Arena (onde actuaram na passada edição do Super Bock Super Rock), foram catapultados para este palco principal, feito sinónimo da sua ascensão quase meteórica no panorama musical português. A sala estava cheia, foi provavelmente a maior audiência que os rapazes já tiveram num concerto. É certo que o objectivo final era a actuação que se seguia à desta banda rock de Lisboa, mas acredito piamente que ainda conseguiram convencer vários fãs de Red Hot Chili Peppers a aguçar o ouvido ao som das suas malhas potentes.
No meio de dois grupos veteranos – os incansáveis The New Power Generation, fabulosa banda que acompanhava Prince, e os gigantes Red Hot Chili Peppers – actuaram “timidamente” os rapazes que já contam com três álbuns de estúdio. Surgiram do backstage ao som de “Wuthering Heights” de Kate Bush, a já tradicional música de entrada da banda, que os reveste de uma glória nostálgica e vintage enquanto se dirigem para os seus instrumentos. O break de bateria de “Morro na Praia” dita a cadência inicial, e estão dados os primeiros passos de Tomás Wallenstein e companhia na MEO Arena. Há qualquer coisa de fantástico em testemunhar o espectáculo de uma banda que gostamos num palco desta envergadura. “Célebre Batalha de Formariz” soou ainda mais assertiva nesta arena, todos os instrumentos se ouviam numa simbiose sonora apelativa e “Febre” continuou a atmosfera mexida e aguerrida da música anterior, o tema “aquece e faz subir o delírio”.
“Sejam bem-vindos ao concerto”, declara Tomás enquanto tira o chapéu preto que enverga com muito estilo. A descontracção é a imagem de marca do quinteto e transparece o gosto que têm pela música. Mais do que notas e riffs intoxicantes, nota-se amizade, uma cumplicidade entre cinco pessoas que o universo sonoro uniu e, ao longo da actuação, tudo parece soar na hora certo com o som certo. “Uma salva de palmas aos meus amigos e à amizade”, exclama Tomás depois de um desabafo soturno que se revela alegre na sua parte final em “Mil e Quinze”. O vocalista ainda incentiva ao crowdsurf (“Deixem lá os miúdos fazerem crowdsurf!”) antes de “Corazón”. Faltavam os sopros presentes na versão do álbum para esta música ser perfeita. Sendo assim, tenho de me contentar em ouvi-la muito boa pela quarta vez.
Na recta final, “Santa Ana” põe toda a gente a dançar e relembra a garra indie rock de Gazela, jovial mas potente, a pujança cósmica transparece desde o início da carreira destes notáveis músicos. Transita para “Amanhã Tou Melhor” “sem espinha”, de maneira muito eficaz, e depois de um apoio avassalador do público ao longo da música as luzes fecham-se antes do último refrão. Quando se abrem, Tomás inicia a parte final a solo, com a sua guitarra e voz a encherem a MEO Arena. A música termina a todo o vapor, com a banda toda junta. Antes de acabar com “Alvalade Chama por Mim”, ainda há tempo para agradecimentos à enorme multidão que está de olhos postos no palco: “Meus queridos, obrigado a todos por estarem aqui”. Iniciou a música de maneira quase íntima para os milhares que ali estavam, sozinho com a sua guitarra, caminhando serenamente até ao final do segundo verso, altura em que se juntam os seus amigos Salvador, Manuel, Domingos e Francisco, apresentados pelo vocalista em “Verdade”. Referiu-se a ele mesmo em nome próprio, ainda não é desta que aprendo como se pronuncia o seu apelido. Onde é que é a próxima actuação? Vamos lá ver se é à quinta vez que oiço “Tui”. Sever do Vouga, aqui vamos nós!
Fotografia: Super Bock Super Rock