Casper Clausen: “Liima é sempre sobre nós quatro”
A menos de uma semana de se apresentarem na Zé dos Bois (ZdB), para o primeiro concerto em Portugal, o vocalista dos Liima, Casper Clausen, falou com a Comunidade Cultura e Arte. Ficamos a saber que se mudou para terras lusas, que a ZdB foi dos primeiros locais que visitou nos seus idos 18 anos e do muito que se passou desde então: a existência dos Efterklang, que ainda persistem, e a mudança do vocalista para a capital portuguesa, onde agora reside e trabalha no seu novo álbum. O concerto está agendado para dia 21 de Março – na ZdB – e, segundo o vocalista, trata-se de um espetáculo bem oleado.
Afirmaste em entrevistas anteriores que o processo criativo dos Liima, pelo menos no primeiro álbum, é muito diferente do dos Efterklang. Porque sentiste a necessidade de mudar o rumo? O que é que em Efterklang te fez tomar este caminho?
Não é bem uma mudança de rumo; é mais uma exploração. Continuamos a fazer música e a desenvolver o projeto Efterklang. Existe é um novo projeto chamado Liima. Fazer música enquanto Liima é definitivamente diferente do que em Efterklang. São como dois veículos diferentes; e também é estimulante para ambas as bandas.
Nós os três em Efterklang, Mads, Rasmus e eu, fazemos música juntos há quase 20 anos. Antes de Liima só o fazíamos enquanto Efterklang, nenhuma outra banda ou outros projetos. Depois conhecemos o Tatu. O Tatu tocava bateria nos Efterklang, e a sua musicalidade foi uma verdadeira revelação para nós, foi amor à primeira vista. Os Liima nasceram do entusiasmo de tocarmos juntos, e da vontade dos quatro de fazer música juntos. Foi como voltar a ser adolescentes, começar uma banda nova. Simplesmente juntávamo-nos e começávamos a improvisar, e os Liima rapidamente se tornaram um coletivo ao invés de um compositor lírico e de uma banda.
Quando fazemos música todos damos sugestões. Falamos sobre a música e as letras coletivamente, e continuamos a fazer o que nos entusiasma. É isso que torna os Liima uma criatura diferente dos Efterklang, que é um projecto que tem permanentemente mudado de forma e feitio, crescendo e diminuindo constantemente. Liima é sempre sobre nós os quatro.
Pelo que conseguimos entender, o primeiro álbum (ii) foi realizado ao longo de diversas residências artísticas. Uma delas ocorreu na Madeira. O que vos fez escolher este lugar? E chegou alguma inspiração ao álbum que tenha sido resultado direto desta estadia?
Nós ainda temos alguns amigos portugueses, depois de tantos anos a visitar Lisboa com os Efterklang e os Liima. Um deles é o Pedro Azevedo (La Flama Blanca) e ele é madeirense. O Pedro perguntou-nos se queríamos ir lá tocar no festival Aleste, e escrever alguma música. E foi daí que as músicas “Black Beach” e “Amerika” foram escritas. “Black Beach” por razões óbvias, a Madeira tem imensas praias com areia preta; e “Amerika” chegou até nós quando pensávamos no que encontraríamos do outro lado do horizonte quando contemplamos o Atlântico. A cultura americana com que todos crescemos. Hollywood e a esperança americana.
1982 soa mais negro e pesado que ii, o alinhamento das faixas foi feito para transmitir estas sensações?
Nah, foi mais ao contrário. As faixas ditaram o álbum. As músicas tinham uma vibe diferente quando começámos a escrever para 1982. Estávamos entusiasmados com tempos e batidas mais vagarosos e pesados, e de residência em residência o álbum começou a tomar forma. Honestamente, esteve em mutação quase até ao fim, e mesmo após estarem escritas. O produtor Chris Taylor dos Grizzly Bear trouxe um som e uma visão distintas ao álbum, que modificou as canções enquanto as gravávamos. O Chris fez algumas referências, como os Depeche Mode e os Joy Division, no modo de alinhar as faixas, e isso ajudou ao sentimento que o álbum transmite.
O segundo álbum dos Liima é também o primeiro onde publicaste as letras na cover art. Afirmaste “Consigo finalmente sentir-me um pouco mais confortável a publicar as minhas letras. Separando as letras da música” O que é que mudou para teres dado este passo?
Acho que me tornei mais adulto. Sempre fui muito cético ou tímido em publicar as minhas letras ou a separá-las da música. Mas também entendi que as pessoas são diferentes de mim, e muitos ouvintes apreciam as letras escritas enquanto ouvem a música. Comecei a entender isso. E as letras tornaram-se mais importantes para mim do que eram. Acho que as coisas estão simplesmente a mudar.
Quais são os planos a longo prazo para os Liima? Já existe um terceiro álbum a caminho?
Neste momento estamos a aproveitar a tour de 1982 e a fazer do espetáculo ao vivo algo espetacular. Esse é o nosso principal objetivo. Quando o verão e a época de festivais acabarem, veremos como seguimos em frente.
Disseste em entrevistas anteriores que os Liima te tiravam da tua zona de conforto. Que era um projecto muito mais baseado no improviso do que os Efterklang. Continuas a sentir-te nervoso com isto, ou já te habituaste a este novo método de fazer musica?
Disse isso? Nem me lembro. Bem, definitivamente já não me sinto nervoso em improvisar com Liima, é-me completamente natural e fácil de o fazer com os meus companheiros. Embarcamos mesmo em algumas viagens musicais inesperadas. De tempos a tempos, durante os espetáculos, rapidamente nos sentimos a vaguear no meio da floresta a meio de uma canção. Adoro a liberdade e a curiosidade que temos enquanto tocamos. Isso é algo importante que torna os Liima tão especiais para mim.
Eu vi Efterklang ao vivo em 2012 no Vodafone Mexefest. É um concerto que recordo com prazer, onde vários membros da plateia, eu inclusive, partilhámos o palco contigo. Podemos esperar uma abordagem semelhante nos concertos ao vivo com os Liima? Como será na ZdB?
Adorava fazer um Mexefest 2 [risos]. Foi realmente uma noite mágica, essa. Lembro-me perfeitamente do concerto! Estamos a vir para Portugal com um espetáculo que já está em digressão faz alguns meses, por isso neste momento está aprimorado e bem treinado. Pessoalmente estou super entusiasmado em tocar na ZdB pela primeira vez. Foi o primeiro espaço a que fui quando tinha 18 anos e visitei Lisboa pela primeira vez na minha vida. Fui e vi uma banda americana, Wolf Eyes, e lembro-me perfeitamente de ficar fascinado pelas janelas que permitiam ver a rua e as pessoas a espreitar – nunca tinha visto nada assim. Para além disso eu vivo literalmente a 100 metros, na rua da ZdB, no Bairro Alto. É um espetáculo em casa, para mim, e mal posso esperar para mostrar aos outros membros dos Liima o meu bairro.
Portugal não te é estranho. Já tocaste aqui várias vezes com os Efterklang e agora com os Liima. Estás agora aqui a viver e gravas em Cacilhas, não é verdade? O que te fez escolher Lisboa para trabalhar?
É verdade! Eu tento estar em Lisboa o máximo que consigo; adoro-a e tenho saudades de todas as vezes que estou longe. Mudei-me de Berlim para Lisboa há dois anos, e estou a trabalhar no primeiro álbum a solo em Cacilhas. A ida do meu apartamento no Bairro Alto para Cacilhas deixa-me imensamente feliz de todas as vezes que a faço. Nunca tive um caminho para um estúdio tão entusiasmante como este.
Mal posso esperar para te ver novamente, Lisboa!