‘Climax’, de Gaspar Noé, sugere dança, sangria e LSD

por Paulo Portugal,    16 Maio, 2018
‘Climax’, de Gaspar Noé, sugere dança, sangria e LSD
‘Climax’ de Gaspar Noé
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O realizador francês nascido na Argentina já é um filho de Cannes. Um filho maldito e extremo, diga-se, porque o seu cinema excessivo nunca foi bem diferido por muitos. Recordamos bem a primeira (e mítica) sessão de imprensa de Irreversível, em 2002, repleta de uma multidão ansiosa para ver as cenas de sexo entre Vincent Cassel e Monica Bellucci, mas que gradualmente foi abandonando a sala; tal como aconteceu em Enter the Void, sete anos depois, numa recepção semelhante, a culminar em 2015, com o apupo ao sexo explícito em 3D, de Love.

Talvez por isso, se compreenda o press kit deste ano em formato de cartaz de filme, citando os diferentes filmes, com o adjectivo negativo, e em baixo destes surge, Climax com a sugestão agora provem este! E este é um cocktail perigoso à base de sangria, mas com um cheirinho de LSD. Aliás, o filme, que se diz inspirado em factos reais, e assinalado com a data de 1996, pode até ser visto como um mix festivo e revisionista da obra anterior, justificado por uma festa do final do estágio de um grupo de dança num armazém isolado numa região florestal. Aliás, esses bailarinos estiveram na sessão oficial deste título da Quinzena dos Realizadores, e levaram a festa para o palco assim que acabou o filme, contagiando o público que seguiu o filme acompanhando todo o início com aplausos acalorados. Em Climax a temperatura vai rapidamente ao rubro, até para contrastar, lá fora, com o frio e branco da neve. E o sinal dessa mescla é-nos dado logo no pré-genérico com uma mulher nua e ensanguentada, em pranto, a correr e rastejar na neve.

‘Climax’ de Gaspar Noé

Noé sabe aguçar-nos a curiosidade e a libido, com este cinema em transe, feito de longos planos sequência subjectivos destinados a oferecer novos limites. O que começa com um casting vídeo, num monitor rodeado de cassetes VHS com diversos títulos, de Suspiria, o clássico de horror de Dario Argento, a 120 Dias de Sodoma, de Pasolini, Un Chien Andalou, de Buñuel, etc, evolui na sua primeira parte para uma trip psicótica para passar gradualmente desse êxtase do ritmo e movimentos para um abismo e pesadelo. Enfim, esses filmes no início não terão sido sugestões ocasionais.

Mesmo sem ser um grande filme, Climax junta-se assim aos anteriores como mais uma experiência de profundo êxtase, afinal de contas partilhando a forma como Noé observa o nosso mundo.

Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt

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