Conceitos em diálogo e temas em debate: a nova temporada do Teatro Municipal do Porto

por Comunidade Cultura e Arte,    28 Junho, 2022
Conceitos em diálogo e temas em debate: a nova temporada do Teatro Municipal do Porto
Fotografia de Pedro Sardinha – Teatro Municipal do Porto

Das novas criações de Marco da Silva Ferreira, António Lago e Né Barros às estreias nacionais de (LA)HORDE, El Conde Torrefiel e Philipe Quesne, a temporada 2022/2023 do Teatro Municipal do Porto contará ainda com a apresentação dos trabalhos de Cláudia Dias, Dançando com a Diferença (com criações de Tânia Carvalho e François Chaignaud) e o regresso da Companhia Nacional de Bailado. 

Um dos destaques da temporada é a ópera-performance “Sun & Sea”, das lituanas Lina Lapelytė, Vaiva Grainytė and Rugilė Barzdžiukaitė, projeto vencedor do Leão de Ouro da Bienal de Veneza, em 2019.

Ao longo do ano haverá ainda motivos para festejar: os 91 anos do Teatro Rivoli, os 70 anos do Teatro Experimental do Porto (TEP), os 35 anos do Teatro de Marionetas do Porto e ainda os 22 anos do ciclo poético Quintas de Leitura.

Na temporada 2022/2023 do Teatro Municipal do Porto apresenta cerca de 100 espetáculos, mais de metade em estreia absoluta e/ou nacional. Num total de cerca de 160 récitas, destaque para o facto de mais de 50 destes artistas e companhias trabalharem a partir da cidade, e cerca de 20 serem internacionais — envolvendo companhias de 15 nacionalidades (África do Sul, Senegal, França, Coreia do Sul, Eslovénia, Espanha, Bélgica, Turquia, Alemanha, França, Lituânia, Suíça, Polónia, Israel e Portugal). Dos cerca de 100 espetáculos, 28 são coproduções.

Rui Moreira e Tiago Guedes / Fotografia de Pedro Sardinha – Teatro Municipal do Porto

A estes acresce a programação do DDD – Festival Dias da Dança, que se realiza de 18 a 30 de abril, bem como os habituais festivais parceiros. 

Esta temporada fica marcada pelo regresso das grandes produções. A 16 e 17 de setembro, a companhia Via Katlehong apresenta o programa “Via Injabulo” – que significa Alegria em Zulo – com Marco da Silva Ferreira (que foi artista associado do TMP nas temporadas de 2017/18 e 2018/19) a levar a palco“forma Informa” que relaciona o sentido e o significado que a dança tem no contexto social ou na construção de uma identidade coletiva através da dança; e Amala Dianor (que se apresentou no DDD – Festival Dias da Dança 2018) a peça “Emaphakathini” que procura o que está entre a dança tradicional e urbana, recorrendo à herança técnica das danças gumboot e pantsula da África do Sul. 

Também em setembro, dias 23 e 24, António Lago estreia “Beetje bij beetje” no Campo Alegre. Um espetáculo que pretende devolver um retrato das nossas sociedades e problematizar o lugar do corpo nas interações que tecem a teia das várias relações: o poder, as forças instituintes, o coletivo, o privado, a elaboração das subjetividades.

Dias 1 e 2 de outubro, com a missão de promover a inclusão social e cultural através da dança inclusiva, o projeto Dançando com a Diferença apresenta “Blasons” de François Chaignaud e “Doesdicon” de Tânia Carvalho. A 21 e 22, Marco Silva Ferreira estreia “C A R C A Ç A” – uma coapresentação com o CCB – com um elenco de 10 intérpretes que usam a dança como ferramenta para pesquisar sobre comunidade, construção de identidade coletiva, memória e cristalização cultural.  

Em novembro, dias 4 e 5, Lina Lapelytė, Vaiva Grainytė and Rugilė Barzdžiukaitė convida-nos para “Sun & Sea”, uma ópera-performance que conquistou o público e a crítica em 2019, no Pavilhão Lituano da Bienal de Veneza, com curadoria de Lucia Pietroiusti. Na mundanidade veranil, esta criação – uma coapresentação com o Alkantara Festival na Culturgest – traz a beleza e a catástrofe lado a lado e leva-nos a mergulhar nas histórias de um mundo à beira do precipício. 

De 14 a 26, no Teatro Campo Alegre, o ciclo “Sete Anos Sete Peças” de Cláudia Dias vai rever e revisitar as criações da coreógrafa e intérprete, um projeto para cada dia da semana. Pretende-se, de igual forma, afirmar que a dança contemporânea é ela própria também um lugar de produção literária. Os livros “Sábado” e “Domingo” serão apresentados dia 19 de novembro no Campo Alegre.

De volta ao Rivoli, dias 2 e 3 de dezembro, (LA)HORDE/Ballet national de Marseille apresenta em estreia nacional “CHILDS CARVALHO LASSEINDRA DOHERTY”, um programa que parte de quatro coreógrafas de diferentes gerações que representam estéticas e coreografias distintas, mas que têm em comum a sua humanidade. 

De 12 a 14 de janeiro, o Rivoli recebe “Deste mundo e do outro” da Companhia Nacional de Bailado, com coreografia de Olga Roriz, criada no âmbito das comemorações do centenário de José Saramago. Segue-se o 91.º aniversário do Rivoli que conta, a 20 e 21, com “Mystery Sonatas/ for Rosa” de Anne Teresa de Keersmaeker & Amandine Beyer/ Rosas, Gli Incogniti. Um espetáculo onde a música e a geometria se enlaçam através de um símbolo: a rosa. Escritas por volta de 1676, as Sonatas dos Mistérios [Mystery Sonatas] são uma tradução musical dos 15 mistérios sagrados da vida da Virgem Maria. É também lançado o décimo volume dos Cadernos do Rivoli, centrado exclusivamente na dança e, pela primeira vez, em formato bilingue. Neste fim-de-semana, celebram-se ainda os 35 anos do Teatro de Marionetas do Porto com “Como um carrossel” que conta a história de uma menina que vai crescendo numa espécie de viagem ao longo da qual muitas perguntas são lançadas e estimulam a sua relação com o mundo.

Dias 11 e 12 de fevereiro, Philippe Quesne / Vivarium Studio estreia em Portugal “Farm Fatale”, na fronteira entre humano e fantoche, camponês e espantalho. O público é conduzido a um mundo que evoca uma quinta onde vive um grupo de espantalhos poetas que gerem uma estação de rádio independente, cantam, tocam música, inventam palavras de ordem.

“t u m u l u s” de François Chaignaud & Geoffroy Jourdin chega ao palco do Rivoli dias 16 e 17 de março. A pesquisa que norteia este projeto encontra-se no cerne deste paradoxo: um morto possui sempre vida. Nesta criação, Chaignaud inspira-se num sonho recorrente: imagina uma comunidade de bailarinos e cantores que transcendem os limites das duas disciplinas. Acompanha-o Geoffroy Jourdain, diretor de Les Cris de Paris, com quem partilha um interesse comum nas polifonias sagradas da Renascença – a idade de ouro do contraponto. 

“Una imagen interior” de El Conde de Torrefiel estreia-se em Portugal dia 31 de março e 1 de abril. O conceito de realidade é na sua essência problemático enquanto construção maleável e em constante movimento na tarefa humana de emancipação da natureza. Perante a evidência deste cenário de fracasso, “Una imagen interior” é um exercício poético que explora os princípios do conceito de ficção em luta permanente com a inquestionável lei da gravidade a que os corpos se encontram sujeitos. 

No fecho da temporada, dias 7 e 8 de julho de 2023, uma nova criação da companhia de dança Batsheva, pelo coreógrafo Ohad Naharin, criador da linguagem de movimento Gaga, baseada na pesquisa em torno da intensificação da sensibilidade e da imaginação, de ganhar consciência da forma, de descobrir novos hábitos de movimento e de ir além de limites conhecidos. 

Destaque ainda para a 7.ª edição do DDD – Festival Dias da Dança que se realiza entre 18 a 30 de abril de 2023. O espetáculo de abertura será “Encantado” de Lia Rodrigues, que marca o regresso da coreógrafa brasileira ao festival com um novo espetaculo, depois da sua passagem pelo festival na edição de 2019. Na cultura afro-brasileira, os “encantados” são entidades animadas que navegam entre o céu e a terra, dunas e rochas, transformando-os em lugares sagrados. São estas forças misteriosas, intimamente ligadas à natureza, que estão na base deste espetáculo de Lia Rodrigues.

Da temporada 2022/2023 fazem ainda parte o programa Retratos que apresenta, em fevereiro, “A minha vitória como ginasta de alta competição” de Lígia Soares, e “Já não sou a amar-te menos” de Guilherme de Sousa & Pedro Azevedo e, em junho, “Carta a Matilde” de Cátia Pinheiro/ Estrutura, e “INFO MANÍACO” de André Teodósio & José Vieira Mendes/ Teatro Praga.

Há duas edições do Double Trouble, em outubro de 2022 e março de 2023; as Quintas de Leitura continuam assiduamente todos os meses, no Campo Alegre, com muitos nomes conhecidos da literatura, da música, do novo circo e do teatro; em dezembro acontece a Mostra Estufa, programado pela Erva Daninha, dedicado a novos criadores de circo; e a primeira edição do Projeto Pendular – coprogramado com o CCB – que apresenta, em março, “NEON 80” de Beatriz Dias e “I’m still excited” de Mário Coelho, no Rivoli. No CCB serão apresentados os projetos das coreógrafas residentes no Porto: Luísa Saraiva & Senem Gökçe Oğultekin, (“Hark!”) e Susana Chiocca (“BITCHO”).

Para ver e fazer, com a escola ou em família, as propostas do Foco Famílias de 9 a 11 de dezembro, no Campo Alegre, debruçam-se sobre a empatia, convidando o espectador a colocar-se no lugar do outro: “Que grande estondro” de João Fazenda, Bruno Humberto & Philippe Lenzini, “A Menina, O Caçador e o Lobo” de Vasco Mendonça & Gonçalo M. Tavares, “Pequenos Mundos” de Joana Providência; e “Baile dos Opostos” de Joclécio Azevedo & Teresa Prima. 

Mensalmente, no Campo Alegre, mantem-se ainda o ciclo Palcos Instáveis, em parceria com a Instável — Centro Coreográfico.

Na programação musical do TMP, destaque para o concerto do jovem contratenor polaco Jakub Józef Orliński acompanhado pela orquestra il Pomo d’Oroque se estreia em Portugal dia 25 de março, no Rivoli. Vencedor do Grand Finals do Metropolitan Opera National Council Auditions, em 2016, e do Concurso Vocal Internacional Marcella Sembrich, em 2015. Este concerto surge no âmbito de uma homenagem a Jorge Gil, fundador do Em Órbita, referência no panorama radiofónico português e na organização de concertos de música erudita. 

Dia 17 de setembro, Joana Gama e Luís Fernandes aprofundam o diálogo entre o piano e eletrónica em “There’s no Knowing”, um objeto musical e cénico despojado que partiu da criação de uma banda-sonora.

Todos os meses realizam-se, ainda, os concertos no Subpalco do Rivoli, no âmbito do ciclo Understage do TMP em coprodução com a Matéria Prima, Lovers & Lollypops e Amplificasom. 

Os 70 anos do TEP – Teatro Experimental do Porto são celebrados com a apresentação de “Elas entram e ficam!” de Tânia Dinis, dias 16 e 17 de junho.  

Os festivais estão de regresso e o TMP vai acolher, ao longo do ano, o MICAR – Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista, FIMP – Festival Internacional de Marionetas do Porto, a Festa do Cinema Francês, o Multiplex – Universidade Lusófona do Porto, o Queer Porto – Festival Internacional de Cinema Queer, o Teatro Marionetas do Porto, o Festival Porta-Jazz, o FITEI – Festival Internacional De Teatro De Expressão Iberica, e o Trengo – Festival de Circo do Porto.

Nesta temporada, o TMP continua o trabalho iniciado na edição de 2022 do DDD – Festival Dias da Dança, assegurando sessões com audiodescrição em diversos espetáculos da programação. No sentido de fortalecer o seu trabalho na criação de condições específicas para que um maior número de pessoas possa, de forma equitativa, participar e fruir da sua programação, o TMP aumentará ainda o número de récitas e conteúdos digitais com legendagem e interpretação em Língua Gestual Portuguesa (ILGP). Procurando, ainda, desenvolver um trabalho mais próximo e continuado junto das equipas artísticas que recebe para uma maior integração da ILGP nos espetáculos.

Os bilhetes para os espetáculos da temporada 2022/2023 ficam disponíveis a partir de 1 julho, tanto nas bilheteiras do Teatro Rivoli e do Teatro Campo Alegre, como online, em tmp.bol.pt.

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