Crónicas de uma Vida Parisiense: #7

por Miguel Fernandes Duarte,    9 Janeiro, 2017
Crónicas de uma Vida Parisiense: #7
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“Crónicas de uma Vida Parisiense – uma rubrica sobre a vida na capital francesa, pelos olhos de quem por lá está.”

É estranho chegar à cidade onde se vive ao regressar de uma ida a casa. Porque, no fundo, aquilo que estivemos a fazer ao regressar a casa, à nossa cidade, ao nosso país, foi viver lá em clima de férias. Em casa, tomamos contacto com todo o tipo de comodidades das quais já nos tínhamos esquecido ao estar fora, beneficiando até de um clima de benevolência aumentado pela saudade dos que ficaram. É por isso que, quando chega ao fim o nosso período de visita a casa e damos por nós de novo a abandoná-la para regressar ao sítio onde habitamos, não somos capazes de avaliar as vantagens de estar onde estamos.

As condições em que vivemos são boas, mas sabem-nos a pouco quando as comparamos com as que acabámos de ser relembrados que podíamos ter. O quarto parece pequeno, parece escuro e, ao chegar a nossa rotina é entre as aulas e o estudo e trabalho em casa, ou fechados onde quer que tenhamos de estar fechados a trabalhar. Estar em Lisboa ou em Paris é irrelevante quando aquilo que fazemos é sair de casa de manhã e chegar a casa à noite rodeados pelo nosso trabalho. Por isso aquilo que temos a menos em casa é a única coisa que vemos, por isso sabe-nos a pouco voltar para esta rotina quando ainda há dias estávamos no calor de verão do Natal lisboeta.

Chego a Paris após um nevão; ainda que a neve já tenha derretido, podem imaginar que esteja um frio desgraçado. Tenho pena de não ter visto a neve, ainda para mais porque ter frio e não ter neve é das sensações mais tristes; é ter a fama, mas não ter o proveito. Nem apetece passear, em casa é que se está bem. Mas a casa também sabe a pouco, e anda-se neste limbo. Porque é que vim para Paris, se podia tão bem estar em casa, pergunto-me, ao mesmo tempo que sei que tantos outros olharão para o facto de eu estar em Paris com inveja, a rotular-me de sortudo; e até têm razão, mas essa tem andado ausente da minha mente face ao pouco que tenho feito pela cidade desde que regressei. É só quando saio e começo a rever a cidade que me recordo como até que foi agradável ter estado por aqui nos meses anteriores, como até nem fazia questão de me ir embora. E que se calhar até aguento bem o tempo que falta sem as ditas comodidades que sinto ausentes. Porque se há algo que me liga à cidade, há também algo que me faz sentir em casa.

Para consultares as crónicas anteriores: #1 / #2 / #3 / #4 /#5 / #6

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