Curtas de Vila do Conde regressa em julho e destaca filmes de Ali Asgari, Farnoosh Samadi, Jacqueline Lentzou e Jorge Jácome

por Comunidade Cultura e Arte,    14 Maio, 2021
Curtas de Vila do Conde regressa em julho e destaca filmes de Ali Asgari, Farnoosh Samadi, Jacqueline Lentzou e Jorge Jácome
Farnoosh Samadi / DR
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Está de regresso, entre 16 e 25 de julho, o festival internacional português dedicado à curta metragem. À semelhança do que aconteceu na edição de 2020, o Curtas de Vila do Conde volta a apresentar um formato misto, entre a sala e o online, numa proposta programática que pretende criar novas formas de relação com o cinema contemporâneo, as referências incontornáveis e o desvendar de novos caminhos para a sétima arte. Neste primeiro anúncio, o festival vila-condense destaca quatro realizadores, cujo trabalho revelam uma abordagem contemporânea e vanguardista, pontualmente disruptiva, que atravessa as fronteiras dos géneros e ousa experimentar os limites da linguagem cinematográfica. Uma seleção de obras da dupla iraniana Ali Asgari e Farnoosh Samadi, da grega Jacqueline Lentzou e do português Jorge Jácome integrarão as secções não competitivas do festival, abrindo uma porta de entrada para o pensamento contemporâneo de uma nova geração de cineastas que, a par da relevância estética, levantam novas leituras para problemáticas políticas dos nossos dias.

Comecemos pela violência da afetividade pelo olhar de dois autores iranianos, Ali Asgari e Farnoosh Samadi, cujos trabalhos, individuais ou em dupla, em formato de curta ou longa-metragem, têm sido exibidos e premiados em alguns dos mais prestigiados festivais de cinema europeus (Locarno, Cannes, Veneza, entre outros). Resultados desta parceria, tanto The Silence (2016) como Pilgrims (2020) colocam em evidência a problemática da identidade e da sua busca constante, em que o sentimento de pertença (ou de ausência) afetiva e territorial surge em grande plano. Os argumentos, aqui, podem ser resumidos em poucas palavras porque Asgari e Samadi exploram sobretudo a dramaturgia dos corpos e o dramatismo dos diálogos, numa câmara que se rende permanentemente ao rosto, humano por excelência. Não será vã a referência ao cinema de Asghar Farhadi, realizador iraniano, pois mais do que afinidades geográficas e culturais, encontram-se sobretudo ressonâncias estéticas: a centralidade da feminilidade e da figura feminina ou, por exemplo, e mais concretamente, a exiguidade do espaço como método de densificação.

Ali Asgari / DR

As estruturas e as relações familiares são também uma das portas de entrada para a obra de Jacqueline Lentzou, jovem cineasta grega, que nunca deixou de estar em trânsito pela Europa: estudou na The American College of Greece mas também na Royal Holloway College e na London Film School, ambas em Londres. É no seio da pequena família que as histórias de Lentzou ganham corpo e em que se adensa, muitas vezes, o conflito geracional entre filhos e pais. O espírito de libertinagem (ou de libertação?) e de provocação típica destes coming-of-age, a que normalmente sucede ou antecede um momento de tédio profundo, incorpora também a câmara de filmar que corre e salta e dança, em perpétuo movimento. Talvez seja essa umas das principais singularidades do cinema de Lentzou face aos episódios quase universais da adolescência: tomar a posição do jovem, sem moralizar ou julgar, nem infantilizar.

Jorge Jácome/ DR

A poente, na ponta ocidental da Europa, nasceu o realizador português Jorge Jácome, que viria a estudar na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, e na francesa Le Fesnoy – Studio National des Arts Contemporains. Tendo exposto em vários espaços dedicados à arte contemporânea e colaborado em projetos no âmbito das artes performativas, o trabalho cinematográfico de Jácome é marcadamente interdisciplinar e um dos filmes, Past Perfect (2019) resulta inclusivamente da adaptação da peça de teatro Antes, concebida por Pedro Penim. Da arqueologia de antigas discotecas devolutas em Fiesta Forever(2017) ao apocalipse botânico de Flores (2017), a obra de Jácome assenta numa metodologia fortemente sensorial e impressionista, fazendo uso de todo o artifício que a técnica lhe pode oferecer – colorizações, sobreposições, entre outros efeitos: o cinema como lugar de fantasia, de hipnose, construído a partir de derivas narrativas, relações improváveis e de encontros inusitados. 

A programação do festival será revelada no decurso dos próximos meses, assim como os detalhes sobre a compra de bilhetes. O 29º Curtas Vila do Conde tem o apoio do programa MEDIA/Europa Criativa, da Câmara Municipal de Vila do Conde, do Ministério da Cultura, do Instituto do Cinema e Audiovisual e de vários parceiros imprescindíveis à realização do festival.

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