‘daniela.’ comunha tecidos antigos com novos, numa nova roupagem do fazer roupa

por Liliana Pedro,    4 Junho, 2018
‘daniela.’ comunha tecidos antigos com novos, numa nova roupagem do fazer roupa
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Ao longo do seu crescimento, Daniela Duarte viu a sua vida rodeada de tecidos devido, em grande parte, à sua avó, que tinha a costura como profissão. Nunca se vestiu igual às outras pessoas, e, segundo a própria, “usar e deita fora” não é com ela. Foi a partir deste ideal que Daniela decidiu fazer nascer a marca “daniela.”, que tem como missão juntar em comunhão tecidos antigos com tecidos novos, criando peças de roupa jovens e frescas.

Como descreves a tua marca?

DD: “daniela.” é, antes de mais nada, um amor enorme à camisola! Mesmo! Começou por ser um reflexo de mim mesma, uma forma de não ser igual aos outros. Não gostava do que o mercado me oferecia na altura. Poder produzir a minha própria roupa, claro, contou com a preciosa ajuda da minha avó Fernanda, que foi a solução para os meus problemas. Sem dar conta, foi também a solução para outras “Danielas”! “Daniela Ponto Final” é uma afirmação, à partida, “É Daniela. Ponto final!”. É o descomplicar da coisa, sair do padrão, extravasar, é uma forma de estar na vida. Acho que é isso.

Que tipo de peças podemos encontrar à venda com a tua assinatura?

DD: Vestuário em geral, sendo que as nossas camisas são o produto-chave da marca, neste momento, mas temos também acessórios, como lenços, tote bags, elásticos para o cabelo… Enquanto houver tecidos, tudo pode sair do papel e ser experimentado.

Consegues explicar-nos como se comporta todo o processo de criação?

DD: Antes de qualquer coisa, o contacto com os materiais é super importante. O toque, o movimento, as histórias que contam! Os tecidos também contam histórias! “daniela.” é uma marca de produto, ou seja, temos a linha de camisas, a linha de acessórios, peças soltas e que vão sendo apresentadas ao longo do ano. Umas mais incidentes para Primavera/Verão e Outono/Inverno (isto é um negócio e temos que ter oferta que vá de encontro ao que os nossos clientes procuram). Depois, existem as peças by Daniela Duarte, que, essas sim, têm todo um conceito por trás, são histórias (não gosto de chamar colecções), e que não têm que ser “contadas” nesse formato de calendário.

Quais os desafios que enfrentas durante a criação das peças?

DD: O maior desafio é não querer ficar com as peças para o meu armário! É um problema para mim, desprender-me, colocar-me de fora, equilibrar o lado emocional que tenho com isto. Depois, focar que isto é realmente um negócio e que, por isso, nem tudo o que é possível produzir é viável para se vender. As pessoas não fazem ideia do tempo e dos custos para se fazer uma peça de vestuário, seja ela qual for. Não é só o rabisco na folha de papel. Todos os processos inerentes à produção de uma peça também estão presentes (infelizmente) no momento da sua criação. É um pouco castrador no sentido em que, ainda que seja tudo muito livre para a “daniela.”, considerar todos esses factores limitam de alguma forma a parte criativa.

Onde procuras inspiração?

DD: Vai parecer cliché, mas a verdade é que tudo é fonte de inspiração! Os livros que leio, a música que ouço, as pessoas na rua! Adoro feiras de antiguidades. Sempre que posso, vou e pego em coisas, deixo que as pessoas que as vendem me contem a história dessas coisas. As histórias delas! O apego que têm ou deixaram de ter por um objecto. Quando compro tecidos em lojinhas de rua e ouço as histórias da casa. Os anos de porta aberta, o brio com que se dobram os tecidos nas prateleiras, os gestos, o orgulho por ter atendido este ou aquele cliente, os elogios dos mais velhos, só porque os ouvimos! As pessoas! Acho que as pessoas são a maior inspiração.

Segues as tendências?

DD: Sinceramente, não é algo que tenha muito em consideração quando estou a desenvolver algo novo. Não sou alheia, nem info-excluída, nada disso, passo muitas horas em pesquisa, mas não é algo a que me prenda depois. Nem faz muito sentido para mim, uma vez que vou buscar coisas que já não são tendência. Todo o processo é muito mais intuitivo. Sai de dentro.

Daniela Duarte, a criadora do projeto “Daniela Ponto Final”

Como olhas para o aumento da produção têxtil e para a consequente poluição ambiental?

DD: Como já disse anteriormente, o “usa e deita fora” assusta-me. Não entendo. A facilidade com que se descartam coisas das nossas vidas… Eu não consigo, sou muito apegada, crio laços até com as peças de roupa. Penso que passa pelo consumidor querer mais do que isso. Não só por uma questão de identidade, mas temos que parar muitas vezes o ritmo e pensar no que andamos aqui a fazer. Colocarmo-nos no lugar do outro. O meu avô dizia muitas vezes que, “se cada um limpar à sua porta, a rua mantém-se sempre limpa” (acho que é um ditado japonês, não estou certa). Às vezes, sou um pouco ingénua, creio que as pessoas podem ser melhores. Entendo que se nos preocuparmos mais e se fizermos a nossa parte, a pegada ambiental pode ser diminuída e o nosso legado pode ser bom para quem vem. Na “daniela.”, o desenvolvimento de produtos tem tido, como premissa, o menor desperdício possível da matéria-prima. Quando já não se vê finalidade para aquele saco de tirinhas de pano, esse mesmo saco é oferecido a centros de dia onde os utentes desenvolvem actividades do foro cognitivo e da motricidade. Tentamos fazer a nossa parte!

Várias marcas, como a H&M e a Oysho, têm apostado na moda sustentável. Estará a indústria da moda num bom caminho?

DD: A “sustentabilidade”, para mim, é um chavão que está na moda, no sentido em que a definição do conceito não é exacta nos pilares em que se apoia. Partindo de valores como continuidade do período de vida, ou permanência no meio, comércio local, etiqueta “verde”… Vai da interpretação de cada um. Mas espero sinceramente que a indústria da moda, estando sempre em mutação, encontre caminhos mais amigos do ambiente, e que o factor económico, sendo o foco principal, não deixe de abrir portas para o interesse superior, que é continuarmos cá.

Se pudesses reeducar a sociedade para práticas mais amigas do ambiente, que medidas tomavas?

DD: Acho que passa pelo que já referi também, colocarmo-nos no lugar do outro. Querer mais do que um pedaço de pano para cobrir o corpo. Há pouco tempo, tive uma experiência no atelier, associada a outro projecto, em que convidei algumas pessoas para fazerem uma camisa. Escolhiam elas os tecidos, os moldes foram “daniela.”, e tinham elas que cortar as próprias camisas. A reacção foi linda. Não faziam ideia do processo. Do tempo, dos cuidados a ter… Claro, isto não é a uma escala industrial, mas penso que, se cada um nós, seja no sector que for, passar pela experiência de estar no lugar do outro, os patrões pagariam melhor, os funcionários reclamariam menos, as pessoas seriam mais felizes e conscientes, o mundo seria melhor!

Porquê o nome “daniela.”?

DD: “daniela.” surgiu numa conversa de café. Na altura (2009), estava a estagiar numa empresa no norte do país, e, numa pausa com um colega também estagiário, o Pedro Gurgel, falávamos sobre o filme que retratava a história da Chanel. Lá, havia uma passagem em que toda a gente dizia que era o fim da marca e Gabrielle Chanel respondeu “não, não. Isto é Coco Chanel e ponto final!” O Pedro disse-me: “já viste Dani, que máximo, um dia dizeres: isto é Daniela Duarte e ponto final! Sem mais explicações!”. Naquele dia, depois do trabalho, cheguei a casa e comecei a rabiscar o logótipo e assim surgiu o nome.

Quais os adjetivos que melhor caraterizam a tua marca?

DD: Descontraída, irreverente, portuguesa (com muito orgulho!) Mas também nomes, como entusiasmo, dedicação e amor.

As redes sociais têm sido usadas pelas empresas e marcas para a divulgação e venda dos seus produtos. Segundo o teu ponto de vista, serão as redes sociais uma forma eficaz de chegar a um maior público?

DD: Pelo percurso até aqui, em que tudo começou, pela página no facebook, o contacto com os clientes, ainda que virtual, é muito mais directo. Hoje em dia, as vendas online passam pelo nosso site, mas sobretudo pelo instagram. O feedback é imediato, o nosso retorno a dúvidas e encomendas também, e depois preocupamo-nos em acompanhar os nossos clientes. Queremos mais que a venda em si, queremos saber quem são, como vestem as nossas peças, como dizem “é daniela.”. As relações com as pessoas são super importantes, mesmo que não tenhamos contacto directo e pessoal com elas, todos contam! De outra forma, não faria sentido andar nisto há coisa 8 anos.

Onde podemos encontrar à venda as tuas peças?

DD: As minhs peças “daniela.” está disponível através do site www.danielapontofinal.com, mas vendemos e interagimos muito mais com os nossos clientes através do instagram @adanielapontofinal. O atelier fica no Porto (Rua Dr. António Sousa Macedo, nº39, 3ºandar – sala 3), e o atendimento é por marcação, basta enviar email para agendarmos a visita para danielapontofinal@gmail.com.

Outros pontos de venda:

CRU-LOJA (Rua do Rosário nº211 – Porto);
Mercado 48 (Rua da Conceição nº48 – Porto);
Hangfive Surf Culture (Avenida do Mar nº97, Fracção C – Casais do Baleal, Ferrel)
Tom Sobre Tom (Rua Conde Dom Mendo nº54, r/c loja 9 – Vila do Conde)
Ciclo Concept Store (Rua Major Afonso Pala nº25 A – Setúbal)

 

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