“Doismilevinteedois”, criação do Cão Solteiro: a misantropia sentimental sobe ao palco do São Luiz

por Linda Formiga,    16 Fevereiro, 2022
“Doismilevinteedois”, criação do Cão Solteiro: a misantropia sentimental sobe ao palco do São Luiz
“Doismilevinteedois” – Cão Solteiro / Mariana Sá Nogueira
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“Doismilevinteedois” é a mais recente peça com assinatura Cão Solteiro que estará em cena até sábado, dia 19 de Fevereiro, no Teatro São Luiz em Lisboa.

Ao ser uma produção Cão Solteiro (em co-autoria com Vasco Araújo) temos desde logo a certeza de que não será um espectáculo linear, não teremos respostas directas a grandes questões com que nos deparamos como sociedade nem teremos uma ordem pré-definida de actos, cenas ou contracenas.  

Pensada há 4 anos, a peça “Doismilevinteedois” sofreu tantas mutações como as que sofremos com a pandemia em que vivemos há 2 anos. “Muita coisa mudou nas nossas certezas, na nossa maneira de estar, na nossa forma de olhar a vida e o mundo e seria difícil este espectáculo não reflectir isso”, diz-nos Paula Sá Nogueira no final do primeiro ensaio no Teatro Municipal. Mas será este espectáculo sobre a pandemia? De certa forma sim, mas está muito mais ligado ao facto de, nas palavras de Vasco Araújo, “ter havido uma suspensão das nossas vidas e isso cria um espaço de reflexão quase existencial e a um questionamento do que somos, o que somos perante isto, qual é o valor da nossa vida? O que vamos apresentar, em que situação e em que espaço?”  

São estas mutações e questionamentos sobre o espaço que serão transpostos para um esqueleto do palco que nos permitirá ver o sub-palco (que raramente vemos), actores içados, conversadeiras e pássaros a caírem “que nem tordos”, enquanto a parede de fundo é tranquilamente limpa por duas ou três senhoras da limpeza. Não teremos falas, mas teremos um motosserra e um texto (da autoria de Diogo Bento) entregue ao público, para o ler e interpretar como lhe aprouver. “Doismilevinteedois” é uma desconstrução, mas não pretende ser iconoclasta. É um desafio para intervenientes e espectadores, com requintes do absurdo, que, nas palavras de Paula Sá Nogueira, “é uma característica do ser humano”. 

“Doismilevinteedois” é uma criação do Cão Solteiro e a 6.ª produção que conta com Vasco Araújo. É uma reflexão, é um não-espectáculo e é uma experiência, “é o não-espectáculo do Cão Solteiro & Vasco Araújo, que sabe pertencer à linha temporal de todas as calamidades, por isso contrai os espaços entre as letras do título, e aceita a ideia de que não existe ponto de fuga que nos salve” (Maria Sequeira Mendes).

Os bilhetes podem ser comprados aqui.

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