Entrevista. Bad Money: entre a indie pop e a libertação das amarras da indústria musical
A indie pop nasceu um dia. No seguinte, nasceram os Bad Money. A História não reza exatamente assim mas, no final da década de 70 do séc. XX, a pop mainstream e o movimento pós-punk britânico deram à luz o género musical que inspiraria Ben Williams (vocalista), de 30 anos, e Jacob Jenkins (guitarrista), de 26. Habitualmente, a indie pop é definida como o género musical através do qual os artistas se afastam do mercado predominantemente comercial e se focam nas harmonias, nos arranjos e na composição. Os dois jovens naturais de Redditch, cidade a cerca de trinta minutos de Birmingham, escolheram abraçar a descrição anteriormente referida com convicção. Por meio do projeto Bad Money, lançado no início deste ano, acreditam que utilizar rótulos nem sempre é negativo. Os ingleses estão certos de que esta sua nova colaboração resultará na libertação das amarras das “restrições ao nível das saídas musicais e do foco na arte enquanto negócio”.
“Fizemos parte de alguns grupos, explorámos estilos musicais distintos e é por isso que as nossas canções são tão diferentes umas das outras. Muitos estilos submergem na nossa música” adiantou Williams, explicitando que conheceu Jenkins há oito anos, enquanto preparavam o lançamento da primeira EP [extended play] do então primeiro projeto musical conjunto, Lost At Home. Esperam fixar-se no panorama artístico com o selo dos Bad Money. Mas recuemos no tempo para compreender a paixão que ambos nutrem pela arte de Apolo: Williams lembra-se de ter aulas de piano e de guitarra “desde sempre” e estudou Música no Ensino Superior. Durante a adolescência, Jenkins teve aulas de canto e de guitarra, sendo que se licenciou em Tecnologias da Música.
Redditch não é apenas o local de nascimento dos membros dos Bad Money mas também de John Bonham (baterista dos Led Zeppelin) e Harry Styles (antigo membro dos One Direction). Por outro lado, a cidade de Birmingham – onde residem atualmente – localiza-se no centro de Inglaterra e tem uma forte tradição musical. Bandas como os UB40, os Judas Priest, os Black Sabbath ou os Duran Duran são originárias desta metrópole. Deste modo, a Comunidade Cultura e Arte [CCA] quis perceber se os músicos sentem o “peso” da herança artística. “Com tantas referências, por vezes, sentimo-nos pequenos. Mas é muito interessante termos as nossas raízes assentes numa área com tantos músicos excecionais” responderam os jovens que produzem música de forma independente e consideram que, no cerne das suas criações, se encontram “as melodias cativantes, os sintetizadores, os funky riffs [progressão de acordes, intervalos ou notas musicais, que são repetidas no contexto de uma música] e as histórias reais com verdade e propósito”.
Porém, quais serão as maiores influências que os fizeram trilhar este caminho? “Tentamos não pensar demasiado acerca da forma como fazemos música em termos de instrumentalização e aspectos estilísticos. Criamos com base naquilo de que gostamos e igualmente nos sons que ouviríamos se fossem criados por outros artistas” esclareceram os músicos para quem a teoria económica de Gresham – que defende a existência de dois tipos de dinheiro diferentes em circulação, com o mesmo valor monetário mas com valores “intrínsecos” distintos: o bom e o mau – fez sentido e conduziu, de certo modo, ao batismo da banda. “Primeiro, pensámos que Bad Money soava bem. Depois, a um nível mais profundo, entendemos que a célebre frase ‘O dinheiro é a raíz de todos os males’ encaixava na perfeição na nossa linha de pensamento”, recordaram Williams e Jenkins.
O BBC Introducing trata-se de uma ferramenta online, disponibilizada pelo grupo radiofónico homónimo, através da qual artistas emergentes podem submeter músicas assim como informações importantes acerca do seu percurso. Posteriormente, os trabalhos são ouvidos por locutores e produtores de rádios locais. O primeiro single dos Bad Money, Tonight, valeu-lhes a menção de Artist Of The Week. A CCA questionou os músicos acerca do impacto desta conquista na sua carreira. “Foi o primeiro single que divulgámos e foi ótimo sermos reconhecidos por uma corporação tão importante. Gostaram do nosso trabalho e encorajaram-nos a produzir mais conteúdos” afirmou Williams, enquanto Jenkins concluiu o raciocínio do colega: “Compreendemos que estávamos a caminhar na direção certa”, disse.
Abordando essa canção, clarificaram que a letra se prende com a atração sentida numa noite por alguém e a necessidade de viver tudo ao máximo com essa pessoa num curto espaço de tempo – sendo que não se envelhece durante esses momentos. No single seguinte, Flatline [podemos dizer que flat line se trata de uma linha plana, uma medida de sequência do tempo que não mostra atividade. Por exemplo, presente num eletrocardiograma de alguém com arritmia cardíaca], pretenderam dar ênfase a problemas que vivemos como a destruição da camada de ozono ou a poluição desmedida e, deste modo, à importância que o abrandamento do quotidiano frenético, provocado pela pandemia, teve na melhoria ligeira do estado geral do planeta Terra e que se devia manter através de uma elevada consciencialização dos seres humanos. O que não é estranho vindo de Williams e Jenkins, que praticam o veganismo. “O ambiente é extremamente relevante para nós. Estamos a tentar reduzir ao máximo a nossa pegada de carbono assim como o desperdício alimentar. Acreditamos que se devem tomar decisões radicais para estagnar as alterações climáticas, não só em relação à intervenção do governo mas também a um nível individual. Sentimos que tínhamos a obrigação moral de compor uma música acerca deste período que vivemos”, explicaram.
Flatline já foi tocada variadas vezes na BBC Radio. Em que medida o apoio do maior grupo radiofónico britânico tem sido benéfico para a banda? “É um apoio similar àquele que a Tonight recebeu. A BBC dá-nos a oportunidade de chegar mais facilmente até ao grande público. O facto de obtermos reconhecimento com cada música é fantástico” elucidaram os compositores de Alpha, um instrumental que não trata a primeira letra do alfabeto grego que tem um valor numérico de um e, em muitas ocasiões, é utilizada para referir algo que vem em primeiro lugar ou uma ocorrência mais significativa de um modo literal. “Este single prende-se com uma espécie de análise introspetiva que realizámos ao início da nossa carreira”, garantiu Williams.
O último single, On The Rocks, tem alguns versos fortes como “I don’t wanna see your face” ou “Give me some fucking space”. Esta letra diz respeito a um indivíduo que tem a necessidade de se embriagar para esquecer a ex-namorada/o ex-namorado? Foi criada por meio de experiências pessoais? A CCA estava curiosa e abordou os Bad Money acerca desta questão. “É uma canção de cariz pessoal, especialmente para mim” começou por admitir Jenkins, adiantando: “É claro que a experiência que tive com a minha ex-namorada influenciou-me, mas o significado mais abrangente prende-se com a necessidade de fugir de qualquer situação tóxica que se possa estar a viver”.
Para além de composições originais, os Bad Money também fazem covers [gravação de músicas originalmente tocadas por outros artistas]. Por exemplo, da If You’re Too Shy (Let Me Know) dos The 1975. Terão escolhido realizar esta interpretação por se identificarem com a sonoridade da banda? “Somos fãs deles e, quando ouvimos a versão gravada ao vivo, pensámos que seria incrível gravarmos a nossa. Isto aconteceu há dois meses e acabámos por publicar a nossa cover antes da banda ter feito o upload do videoclipe da canção no YouTube, há cerca de duas semanas” confessaram.
Como Bad Money, nunca atuaram ao vivo “devido às restrições criadas pela pandemia”. Contudo, tocaram múltiplas vezes juntos e consideram que existe um concerto que jamais esquecerão: aquele que deram na O2 Academy de Birmingham aquando da apresentação da EP Blaze The Sky dos Lost At Home. “Tivemos o nosso nome anunciado no letreiro e a resposta da audiência foi inacreditável. É impossível não lembrar a energia existente” desvendaram com alguma nostalgia. E que projetos futuros têm em mente? “O nosso plano é lançar um single por mês até ao final deste ano. Acreditamos que nos esforçamos muito, e somos apaixonados por aquilo que fazemos, portanto, queremos obter o maior reconhecimento possível. Ao ouvirem um álbum, as pessoas costumam ignorar algumas faixas e isso significaria que muito do nosso trabalho não seria apreciado” partilharam os britânicos.
E qual será o maior objetivo de Williams e Jenkins enquanto banda? “Adoraríamos que uma das nossas músicas fosse tocada na BBC Radio 1. E, claro, o Glastonbury [segundo maior festival a céu aberto do mundo] é um dos nossos sonhos. Compomos músicas porque amamos fazê-lo e pretendemos que as pessoas se sintam bem ao ouvi-las. No fundo, queremos que as pessoas apreciem a nossa música ao máximo” concluíram os artistas em ascensão.
Podes estar a par das novidades dos Bad Money através do Facebook, Twitter e Spotify.