Entrevista. Daniel Rodrigues: “É um orgulho colaborar com o New York Times e um privilégio aprender com os melhores”
Fotógrafo português Daniel Rodrigues lança curso de fotografia online.
Daniel Rodrigues é o fotógrafo português vencedor do World Press Photo em 2013 como também é fotógrafo freelancer há 8 anos, tendo decidido num momento em que devido a forças maiores não pode viajar e fazer o que mais dele precisa a câmara para compilar num curso online algumas lições para iniciantes bem como para profissionais. É também fotógrafo para o New York Times. Nesta entrevista fala-nos um pouco do seu percurso, projetos e a mais recente iniciativa que aqui apresentamos.
Desde 2013 o mundo apresentou-se com uma vastidão extrema para ti; o que ressalvas desta viagem?
Desde de 2013 que eu aprendi que não se deve desistir e que o mundo é um open space. Por mais que possamos pensar que a porta se está a fechar, há sempre uma janela que está pronta para abrir. Eu sou o próprio exemplo desse ditado. Tem sido uma viagem intensa e cheia de aventuras, de coisas boas e coisas más. Conheci culturas novas, novos destinos e pessoas extraordinárias nessa viagem. Fotografei muito e tive oportunidade de documentar e mostrar à sociedade partes do mundo através do meu olhar. Algo que sempre sonhei. Nada disso teria acontecido se não fosse o prémio que recebi em 2013 do World Press Photo, que mudou completamente a minha vida e fez com que eu seja o que sou hoje, quer a nível profissional, quer a nível pessoal. Por isso, tem sido uma viagem única, extramente inspiradora! A melhor viagem que uma pessoa podia desejar.
Para muitos deve ser um sonho ou terão no máximo uma curiosidade imensa, mas trabalhar para o New York Times é mesmo um privilégio? Os teus trabalhos têm sempre resultados inéditos.
Sim! Qualquer fotojornalista sonha em trabalhar para um jornal como o New York Times. É um privilégio enorme colaborar com a referência do jornalismo a nível mundial. Para além de ser um privilégio é também um orgulho aprender, trabalhar com os melhores e saber que as nossas fotografias são vistas por milhões de pessoas.
O que é que se busca numa fotografia? Que sentido de perceção pretende ser evocado? São aqueles ou aquelas, que por um momento ocupam as tuas lentes, que devem ser recordados?
Emoção e luz. Eu procuro criar emoções e reflexão com as minhas fotografias, com as minhas reportagens fotográficas. Tendo a oportunidade de viajar e fotografar lugares, pessoas e culturas diferentes eu tento mostrar a sociedade, de maneira mais genuína, como eu vejo o mundo e as pessoas através da minha camara fotográfica e da maneira como eu interpreto a luz. Não é fácil conseguir a fotografia perfeita, e acho que nunca a vou encontrar, mas a tentativa de tirar uma fotografia em que alguém me diga que chorou ao ver uma fotografia minha é tudo para mim.
Tendo já visto um pouco do que existe, continuas a crer que são imagens as melhores referências para qualquer situação?
Sim sem dúvida! A fotografia, as imagens, são referência em tudo ao que está ao nosso redor. As pessoas se calhar não se apercebem disso, mas nós, o ser humano, já não vive sem a imagem! A imagem é usada para tudo, e nem nos apercebemos disso. Numa capa de um CD, num cartaz na rua, nas nossas redes sociais. Ela está sempre presente! A fotografia cada vez mais é uma forma de expressão. Hoje em dia, ninguém começa a cantar os parabéns sem antes saber que alguém está a fotografar com o telemóvel para recordar o momento para sempre. É inevitável. A fotografia, a imagem, é referência para qualquer ser humano e principalmente para fotógrafos profissionais como eu, que às vezes, mostram os problemas que existem no nosso mundo através da fotografia – é a nossa referência.
Fala-nos um pouco da tua mais recente iniciativa, o curso online de fotografia que tens anunciado nas tuas redes sociais.
Desde há muito tempo que muita gente tem vindo a perguntar-me como eu fiz para chegar onde cheguei hoje. O que deve fazer, quais são as melhores dicas para fazer uma boa reportagem documental, como se deve preparar para a realização de uma boa foto reportagem. O que se deve fazer no terreno, e como vender depois as nossas histórias. Eu já andava a pensar em criar um curso online sobre esse tema: “Como se tornar um fotógrafo documental”. Como todos sabemos, vivemos uma situação estranha neste momento, e por isso, achei que era a altura ideal para eu criar um curso online para ajudar os fotógrafos que queiram ser fotógrafos documentais profissionais e que, através da minha experiência e as minhas fotografias, conseguissem ter inspiração para seguir o sonho deles. Em vários módulos, partilho a minha experiência em reportagens fotográficas e no mundo do fotojornalismo, cujas técnicas me ajudaram bastante a desenvolver a minha carreira nos últimos 10 anos.
Sou fotógrafo freelancer há 8 anos e grande parte do meu desenvolvimento enquanto fotógrafo foi construído sozinho, como autodidata. Assim, neste curso proponho-me abordar todos esses pontos que gostaria de ter conhecimento na altura em que comecei a trabalhar. E espero, que com o meu curso online, mais fotógrafos consigam ter sucesso e quem sabe vir a colaborar com um jornal como o New York Times ou até mesmo ganhar um World Press Photo.
Para finalizar, existe algum projeto aliciante em Portugal, tu que já fotografaste o Porto ou o Alentejo para o NYT, ou algo que para ti mereça ser mais do que fotografado? Alguma região ou tradição que tenhas conhecimento e que valha a pena ser preservada? O fotógrafo também é um antropólogo e um etnólogo.
Portugal sempre foi um projeto aliciante para mim, sempre houve vontade de fotografar Portugal e fazer um projeto em torno do nosso país. Tal é a vontade que é algo que já ando a fazer há alguns anos, mas que não posso adiantar muito. Um projeto secreto digamos. Mas posso adiantar que é algo sobre Portugal e para os portugueses. Neste momento este projeto está parado devido a situação atual de pandemia e porque estou a tentar arranjar apoios financeiros para continuar com o projeto, e conseguir o concluir num espaço de 2 a 3 anos. Penso que como fotógrafo português é a o meu dever, para além da minha vontade, de criar um documento histórico sobre o nosso país e a nossa cultura. Há milhares de histórias neste mundo, milhares de culturas, milhares de tradições, mas nada se compara a que Portugal tem para se mostrar e se fotografar.