Entrevista. Dead Combo: “Somos uns tipos que não pensam no futuro, simplesmente deixamos a vida passar por nós”
O Pedro Gonçalves e o Tó Trips conheceram-se em 2001. No fim de um concerto, Tó pediu a Pedro boleia, mas este não tinha carro. Foram os dois a pé e assim nasceu uma amizade.
O pedido de boleia teve pouco sucesso; no entanto, o oposto se passou com a banda que acabava de nascer. O ano passado, conhecemos “Odeon Hotel”, um trabalho um pouco diferente dos anteriores. Este sábado, os Dead Combo vão estar no Party Sleep Repeat. Em jeito de antecipação a este dia, falamos com Tó Trips, o mestre das guitarras.
Agora que já passou algum tempo desde o início de “Odeon Hotel”, talvez seja mais fácil refletir sobre o mesmo. Como foi a experiência de trabalhar com músicos de fora?
A experiência foi ótima, como sempre. Os músicos que participaram neste disco já tinham participado em álbuns anteriores dos Dead Combo: Alexandre Frazão, João Cabrita, Bruno Silva e Mick Trovoada. O Alain Johannes foi nosso produtor e gravou algumas vozes e guitarras.
Que diferenças notam entre a criação a dois e a criação como banda? Da mesma forma, como caraterizam a experiência de passar este disco do estúdio para o palco?
A criação deste álbum foi feita pelo Pedro Gonçalves e por mim, ou seja, os Dead Combo são os autores das músicas de “Odeon Hotel”. Os outros músicos participaram como convidados, com toda a liberdade como sempre.
A forma é natural. A diferença neste disco é que agora somos uma banda “ao vivo” com mais elementos, em vez de sermos só os dois. Foi uma maneira de passarmos o que é o som do disco para “ao vivo”, enquanto nos álbuns anteriores normalmente éramos só os dois. Agora os concertos são mais fortes em termos sonoros, não tão intimistas como eram com dois gajos em cima do palco.
Qual a história por trás deste sexto trabalho? Qual é a origem deste título, as inspirações para estas músicas?
Os nossos discos estão sempre em sintonia com a cidade de Lisboa. Este álbum, “Odeon Hotel”, tem a ver com a gentrificação da cidade. Por isso, aparecem várias pessoas de diferentes culturas e etnias na capa do disco, connosco no meio delas (ideia original do Pedro Gonçalves e da Ainhoa Vidal, a sua mulher) – também somos cidadãos desta cidade. É um disco mais eclético, mais rock, talvez o disco menos português dos Dead Combo. Somos nós numa outra Lisboa. Uma Lisboa do final da segunda década do século XXI.
Sobre trabalhar com Alain Johannes e com Mark Lanegan: o que trouxeram este produtor e este músico a Dead Combo?
O Alain foi o primeiro produtor que tivemos; normalmente, eram o Pedro Gonçalves e o Hélder Nelson – nosso amigo e técnico de som – que produziam os nossos discos. Ele foi fundamentalmente responsável pela mudança no som deste disco, que é muito mais forte no sentido de ritmo e baterias. Ele resolveu gravar as estruturas das músicas logo de início com o Alexandre Frazão e nós a tocarmos ao mesmo tempo. Isso deu muito mais força à nossa música.
O Mark! Foi o Pedro que se lembrou de o convidar, deu-lhe um toque e ele aceitou o convite. Foi uma honra para nós, já que somos fãs do Mark. E ele já conhecia o Fernando Pessoa! Tem livros dele!
Conseguem contar histórias unicamente com instrumentos (tirando as poucas exceções com vocais) e, ao mesmo tempo, representar tão bem a essência do que é ser português. Pegar em notas musicais e atribuir-lhe significado, uma mensagem, é algo que requer esforço e tempo, ou já sai naturalmente?
Isso tem a ver com tipos que sabem onde vivem. Neste caso, somos de Lisboa, temos vantagens em viver aqui e aproveitamos essas vantagens, que são únicas e que existem no sítio onde vivemos, não em mais parte alguma do mundo. É-nos natural passar isso nas coisas que fazemos. Neste caso, na música.
Pensando no futuro de Dead Combo: têm ideias, planos que possam partilhar?
Os Dead Combo são uns tipos que não pensam no futuro, simplesmente deixam a vida passar por eles. O futuro, para nós, não vem embalado nem “selfie-marketingzzzzado”! Esta nossa maneira de estar (uma maneira estranha aos olhos de muitos, rara nos dias de hoje, principalmente no meio artístico) traz-nos tanto coisas boas como coisas más. Isso é da “Rua”, de onde viemos e nos encontrámos numa noite de março em 2003, há 16 anos atrás. Mas isso é a vida também. E nós gostamos de viver a nossa com tudo aquilo que ela nos traz pelo caminho.
O que esperam da atuação no Party Sleep Repeat?
Esperamos que as pessoas gostem! Porque nós gostamos do que fazemos e fazemos com alma. Portanto, vai ser muito fixe! Damos sempre o litro quando estamos em palco e não brincamos em serviço.