Entrevista. Joana Marques: “Os meus amigos dizem que por dentro sou uma idosa de 73 anos”
A Joana Marques é já um nome seguro e impossível de ignorar no panorama humorístico nacional (pfff, olha para ele a usar o jargão do panorama humorístico). Tem uma graça natural aliada a um talento superior para brincar com as palavras. É isso que lhe dá piada, que a faz ser reconhecida e que a destaca no meio de um mar de humoristas masculinos no nosso país.
Já anda nisto de ser guionista há alguns anos. Escreve para televisão (é, tal como outra das convidadas que já aqui tive, a Cátia Domingues, uma das cabeças criativas que enche de palavras bem escritas o programa Isto é Gozar com Quem Trabalha, apresentado por Ricardo Araújo Pereira), para a rádio e ainda para o Jornal de Notícias, ao Domingo e diz que por isso, a sua vida não tem 2 dias de trabalho iguais.
Para além de tudo isto e numa descrição que diz continuar a estar muito actual, é ávida consumidora de trash TV, sushi, jogos do FC Porto e alguém que nos tempos livres sonha com o que fará um dia, quando realmente tiver tempos livres.
Mas antes de arrancarmos com a entrevista vamos lá então saber quem é a Joana Marques, pela voz, ou melhor, pelos dedos da própria.
Então é para falar de mim na terceira pessoa, é isso?
Cá vai:
A Joana Marques é uma pessoa com ar relativamente inocente (o 1,53m que me faz parecer aluna da quarta classe também ajuda) mas que tem uma mente ligeiramente retorcida, e um humor um bocadinho cáustico. De resto, os meus amigos dizem que por dentro sou uma idosa de 73 anos. E eu não nego. Gosto é de sopas e descanso. Ou chocolates e descanso. Uma pessoa quando é septuagenária já não está para se preocupar com dietas.
Há muito poucas coisas “jovens” (só esta expressão já prova que sou velha) que eu aprecie. Não gosto de sair à noite, não bebo álcool, detesto música alta e fumo, só vou a festivais de verão “obrigada”, se tiver de trabalhar lá, não tenho paciência para multidões, não sou fã do fim de ano, nem do carnaval, nem de todas as ocasiões em que é suposto exibir a nossa felicidade. Não gosto de exibir nada, na verdade. Por isso é que sempre me pareceu muito bem ser guionista. Por isso e porque gosto muito de escrever, um pormenor que também dá jeito.
A história de “aparecer” foi uma consequência disso, um acidente nada premeditado. A minha actividade preferida continua a ser estar de pijama em casa, a escrever. Divirto-me mais nessa fase, no momento zero das piadas, do que depois a mostrar esse trabalho a alguém. Mas fui aprendendo a disfrutar das várias fases do processo… Pronto, acho que está feito um razoável retrato robot.
Não és escritora, mas és argumentista. Não és jornalista, mas trabalhas na rádio. Escreves todos os dias – há vários anos – e trabalhas diariamente com as palavras. O que é que te fez seguir este caminho? Como é que tudo começou?
Acho que tudo começou como começa para toda a gente. Na 1.ª classe (2.ª para os alunos com mais dificuldades): quando comecei a perceber que juntando letras formava palavras, e com elas frases.
Achei aquele jogo muitíssimo divertido e nunca mais parei.
Os dias em que o trabalho era fazer uma composição eram o ponto alto das minhas semanas na primária. Isso e os intervalos em que jogávamos à bola, que também apreciava.
A partir daí não parei mais de escrever. Deixei as composições, passei a escrever por passatempo em casa, mais tarde um blog, na altura em que toda a gente tinha um blog para escrever, não para mostrar o “look of the day” (isto foi meio saudosista, agora, não foi?), fui lendo muito também, coisa que infelizmente agora não tenho feito, e interessei-me cada vez mais por tudo o que tinha a ver com isso.
Dizia, a certa altura, que queria ser escritora. Talvez por nem saber da existência da profissão de “guionista”.
Quando via programas de humor na televisão nem me ocorria que havia alguém que escrevia aquelas coisas que o Dário e a Dora diziam (era uma rábula – na altura dizia-se rábula – que o Vitor de Sousa e a Ana Bola tinham no “Parabéns”, do Herman).
Porquê a Rádio, Joana? O que é que a Rádio tem que mais nenhum outro meio de comunicação tem?
A rádio aconteceu por acaso. Como quase tudo o resto que me tem acontecido… Sempre fui grande ouvinte de rádio, sobretudo de programas de palavra, que me interessam muito mais do que playlists de música… e surgiu a oportunidade de ir fazer um workshop, curto, de um fim-de-semana, na Restart.
O curso era dado pelo Diogo Beja, e fui fazê-lo com dois amigos (na verdade um namorado e um amigo), o Daniel Leitão e o Guilherme Fonseca, mais por passatempo que outra coisa.
A verdade é que tanto o Daniel como eu acabámos por ser convidados pelo Diogo para fazermos parte da equipa dele na Antena 3, e o Guilherme foi (ou já estava, não tenho a certeza) trabalhar na Mega Hits.
Portanto, digamos que foi um curso bastante útil, não só pelos ensinamentos, mas por se ter aberto, sem que eu estivesse à espera, aquela porta… e ainda por cima logo uma porta grande, para as manhãs da Antena 3, onde estive de 2012 até… 2018, acho eu!
O que a rádio tem que mais nenhum outro meio de comunicação tem é uma proximidade enorme com quem está a ouvir. Acho que é maior do que na televisão, em que há mais factores distractivos.
Na rádio, ao fim de um tempo (e normalmente os projectos são coisas duradouras) as pessoas sentem que já nos conhecem. E conhecem mesmo. É impossível ser uma personagem durante tantas horas, e àquelas horas da manhã. Acabados de sair da cama não há filtro que nos salve.
A rádio tem também um espírito de equipa especial, cria-se uma intimidade diferente com as pessoas com quem se está 3 horas por dia no ar, 5 dias por semana. É daqueles trabalhos em que não notamos mesmo que estamos a trabalhar, mesmo que cheguemos ao fim cansados.
E, no que toca a fazer humor, a rádio tem para mim a vantagem de ser dada primazia à palavra, ao que está a ser dito. Não há guarda-roupa, acessórios, luz, maquilhagem, etc. É só uma pessoa a falar e pessoas a ouvirem.
Como é que prepararas os episódios do Extremamente Desagradável? Que sequência é que costumas seguir até chegares à parte da escrita?
O meu modus operandi costuma ser este:
1 – encontrar o tema para o dia seguinte (muitas vezes é a parte mais difícil). Tanto há dias com 3 ou 4 temas fortes, que dão para planear logo a semana toda, como há aquelas fases de silly season (que parecem cada vez mais longas) em que não há assunto, e é preciso escavar mais até o encontrar.
Às vezes a maior “angústia” (não chega a ser uma angústia, mas pode dar um nervoso miudinho) é não encontrar uma matéria que nos pareça suficientemente boa. Portanto diria que o primeiro momento “eureka!” é quando aparece o tema. Com ele surgem logo ideias e já está meio caminho andado.
2 – como o que distingue o “Extremamente Desagradável” de várias outras rubricas de humor é, normalmente, o recurso a sons (de notícias, de músicas, de discursos, seja o que for), embora não seja obrigatório que aconteça todos os dias, costumo partir daí.
Recolho os sons todos de que vou precisar.
Às vezes até demais, confesso, sou um bocadinho obsessiva nas pesquisas e sinto que podia parar muito antes… Se calhar o tema da rubrica no dia seguinte é o que disse uma influencer no seu Instagram, e eu recuo até 2013, a ver todos os vídeos que ela fez, todas as entrevistas que deu, todas as legendas que escreveu… Se é tempo perdido? É, sem dúvida. Mas às vezes surge uma pérola que faz valer a pena aquelas três horas desperdiçadas. Tenho sempre essa esperança.
3 – depois de ter os sons que quero usar, edito-os. Corto os vários excertos que vou de facto utilizar na rubrica. Às vezes tenho três horas de brutos, para 10 excertos de poucos segundos. E não me posso queixar, porque ultrapasso sempre largamente o tempo que a rubrica devia ter (peço aqui publicamente desculpa ao meu director e colegas pela ausência de capacidade de síntese).
4 – copio os títulos dos vários excertos para o documento e a partir daí sim, começa a parte divertida. Vou ouvindo os sons e comentando (por escrito). E pronto, está feito!
(Se calhar não querias uma descrição tão pormenorizada, parecia uma receita de bolo mármore passo a passo…)
Quem foi a tua grande inspiração? O teu mentor ou musa inspiradora – se é que tens alguém que tenha desempenhado esse papel.
Não tenho nenhum mentor. Vou aprendendo com várias pessoas com as quais me cruzo. Acho que é a melhor maneira de aprender, fazendo. E vendo como os outros fazem.
Tenho tido a sorte de trabalhar com pessoas que admiro, e não há nada melhor, quando trabalhamos em equipa (e acontece muito na nossa área) do que ter aquela “inveja” (sem voodoo à mistura) de não nos termos lembrado daquela piada óptima que o nosso amigo acaba de fazer.
Quer dizer que estamos a trabalhar com pessoas que nos puxam para cima (não era uma piada sobre o meu tamanho, não).
Já alguma vez tiveste vontade de fazer outra coisa – profissionalmente – que não fosse escrever?
Não. Acho que não teria jeito para mais nada, portanto ainda bem que tenho a sorte de poder fazer isto!
Consegues olhar para trás e escolher 2 momentos marcantes (o melhor e o pior) atrás do microfone?Não tenho grande memória… já faço o Extremamente Desagradável desde 2017 (primeiro na Antena 3, depois na Renascença), e antes disso outras rubricas e programas, e é difícil isolar os melhores ou piores momentos. Aliás, piores não acho que tenha tido. Não no sentido de não ter feito rubricas sem graça, de certeza que fiz (para algumas pessoas serão todas, mesmo), mas não considero isso um momento grave ou que mereça ser apontado como “o pior”… porque o facto de termos de apresentar um texto todos os dias, de segunda a sexta, com poucas pausas pelo meio, só umas férias de quando em vez, faz com que nos apaziguemos com a ideia de que nem sempre vai ser perfeito, nem sempre vamos sentir que está hilariante, mas temos de continuar.
Quanto a melhores momentos, talvez quando há aqueles ataques de riso incontroláveis, que me transportam aos tempos da escola, quando ia para a rua na aula por não conseguir mesmo parar de rir. Aconteceu já várias vezes, a mais marcante talvez numa edição do Extremamente Desagradável dedicada à família da Luciana Abreu. Para quem tenha curiosidade, é este:
É raro acontecer isto, porque eu já não me surpreendo. Já sei o que escrevi, já ouvi os sons várias vezes para os cortar, já não sou apanhada na curva. Mas de vez em quando, seja pela reacção das outras pessoas em estúdio, seja por qualquer pormenor ao qual acho mesmo muita graça, isto acontece, e são mesmo momentos de alegria, nada forçados!
Tens vergonha de alguma coisa que tenhas escrito?
Vergonha não. Hei de ter escrito várias coisas sem piada, como dizia há pouco… mas ao ponto de me envergonharem, não. Acho que é bom sinal ler agora coisas que escrevi há dez anos e achar que as que escrevo agora são melhores. E que daqui a dez anos aconteça o mesmo.
Quem é que teve a ideia para o nome da rubrica – Extremamente Desagradável?
Foi a Inês Lopes Gonçalves, fica aqui a merecida homenagem. Ela tem muito talento para títulos (e para muitas outras coisas, é uma artista polivalente, sou mesmo fã).
Antes de me estrear na Antena 3 num novo programa da manhã que ela já fazia com o Luís Oliveira e a Ana Markl, apresentei-lhes o conceito da rubrica, mas faltava-me o nome. Tenho muita dificuldade com nomes. Seja para filhos ou trabalhos. Se calhar vou ligar à Inês para ver se ela me arranja um nome para o rapaz que nasce no próximo mês.
Já escreveste guiões, argumentos, escreves humor, já escreveste um livro… O que é que te falta fazer com as palavras?
Falta-me fazer muita coisa, de certeza, mas estas são as coisas que me dão gozo fazer (neste momento, a rubrica na Renascença, o Isto é Gozar Com Quem Trabalha, na SIC, e as crónicas no JN ao domingo). São três trabalhos que têm em comum a base, escrever, mas são completamente diferentes, e assim nunca se torna monótono.
Tornaste-te uma pessoa conhecida e reconhecida em Portugal. Como é que lidas com o lado da “fama”?
É uma “fama” muito relativa. Não sou, felizmente (ou não, dependendo da perspectiva) a Cristina Ferreira. Não gostava nada de ter uma dessas famas interplanetárias (dentro deste universo fascinante que é Portugal).
Portanto, o que tenho é uma quantidade razoável de gente que segue o meu trabalho, o que é óptimo, para não falar para o boneco, e alguns encontros simpáticos na rua, às vezes nos sítios mais inesperados, nada mais.
Como é que reages às críticas?
Se estamos a falar das críticas típicas da net, acho que fui aprendendo a reagir cada vez melhor. Ou seja, a melhor reacção normalmente é não reagir de todo.
Na maioria dos casos são coisas gratuitas, que tentam só ser ofensivas, e que vêm de pessoas a quem não reconheço a mínima autoridade na matéria. Da mesma maneira que eu não tenho autoridade para ir dizer a um advogado, a um contabilista ou a um cirurgião como é que ele há-de fazer o seu trabalho.
Isto não tem nada a ver com achar ou não piada, isso acho que é mais do que legítimo, alguém não achar graça, ou discordar deste ou daquele prisma, e dizê-lo. Faz parte da abertura e liberdade que felizmente todos temos, e que é potenciada pelas redes sociais (antigamente era mais difícil dirigirmo-nos ao autor de um livro ou a um músico, e talvez por isso pouca gente se dava ao trabalho de escrever uma carta e enviar para o Phil Collins a dizer “o último álbum está uma merda”).
Quanto às críticas positivas penso o mesmo, também não embandeiro em arco por alguém adorar. Fico contente pela simpatia e por se darem ao trabalho de o dizer (acho mais normal e saudável do que frequentar páginas de gente cujo trabalho se odeia), mas não sobrevalorizo o meu trabalho por causa disso, nem fico a achar-me o suprassumo de nada. Acho até que tenho bastante noção de quando fiz bem ou mal. Para mim o feedback mais interessante são comentários que complementam de alguma maneira o que escrevi, ou até avisos sobre algum erro que tenha cometido. Isso aprecio muito.
Já recebeste mensagens desagradáveis ou críticas destrutivas de pessoas com quem tenhas troçado (gosto tanto desta palavra)?
Já, com certeza. Mas o mais habitual é serem os fãs dessas pessoas a fazê-lo. Normalmente reagem pior do que o próprio visado (que na maioria dos casos já está calejado, e saberá que faz parte do jogo). Mas sim, de vez em quando acontece uma reacção mais azeda. Sem problema! Eu também sei as regras do jogo, e até acho alguma graça.
És feliz por seres como és, ou gostavas de ser outro tipo de pessoa?
Gostava de ter 1,70m e 50 kg! Não, por acaso a parte da altura não me transtorna nada, nunca me fez nenhuma confusão. Já ter as medidas da Sofia Aparício (ou outras, mais século XXI, não sei se os 86-60-86 ainda se usa) apreciava muitíssimo, mas acho que tinha de passar menos tempo sentada a escrever, e mais no ginásio. Se calhar não nasci para isso.
Acreditas que és boa naquilo que fazes?
Sim. Acho que toda a gente que faz isto tem de acreditar, caso contrário desiste rapidamente, já que à primeira crítica negativa poria tudo em causa.
Continuas a ficar nervosa antes de ir para o ar ou já é tudo “normal”?
Tão natural como a sua sede. Isto era da água do Luso, não era? Mas não, não fico nada nervosa na rádio, acho que é um ambiente que nos deixa muito à vontade (às vezes até demais) porque estamos ali só três ou quatro pessoas, num estúdio, e até esquecemos a quantidade de gente que está a ouvir.
Muitos dos escritores que conheço ou das pessoas ligadas às palavras gostam de escrever à noite. Para quem entra no ar às 07:00, calculo que escrever pela noite dentro não seja a tua actividade preferida. Terminada esta introdução poética, aqui vai a pergunta: tens rotinas de escrita, ou escreves quando calha?
Nunca fui noctívaga, nem quando andava na escola… estudar à noite e fazer directas nunca foi para mim. Preferia acordar mais cedo e estudar antes dos exames (no fundo já estava a preparar-me para os horários de trabalho que teria no futuro!).
Não posso escrever quando calha porque não posso entregar os textos quando calha. No dia-a-dia o mais habitual é escrever o Extremamente Desagradável do dia seguinte ao início da tarde.
Claro que às vezes acontece alguma coisa incontornável à noite, e faço tudo de novo, mas o habitual é escrever mais cedo. Quando tenho outros trabalhos, como quando escrevi os livros, por exemplo, tenho de arranjar outros métodos, normalmente obrigo-me a escrever determinada “quantidade” por semana, mas faço-o na mesma durante o dia ou aos fins-de-semana.
Acredito que gostes muito de ler. Quem são os teus autores de referência?
Gosto, mas como já disse leio hoje em dia muito menos do que antes. Acho até que devia ser ao contrário: devíamos ter mais tempo livre em adultos do que em crianças, porque assim corro o risco de chegar ao fim dos meus dias e ter lido mais livros de Uma Aventura do que de grandes autores clássicos. Dos livros que li ultimamente (nas férias) os que mais me encheram as medidas foram os do cronista brasileiro António Prata: “Meio intelectual, meio de esquerda” e “Nu, de botas”.
Quem foi a pessoa que mais gozo te deu satirizar no Extremamente Desagradável?
Não consigo eleger uma. São todos como filhos para mim. Mas daqueles filhos de que se gosta um bocadinho menos.
E já tiveste pena de “ter” mesmo de gozar com alguém com quem simpatizes muito?
À medida que os anos passam vou, inevitavelmente, conhecendo mais gente, apesar de ser um bicho do mato (basta ver que na rádio entrevistamos pessoas quase todos os dias). Por isso acontece muitas vezes ter de satirizar alguém que conheço e com quem simpatizo. O tratamento é o mesmo: goste ou não, tento não ser ofensiva, por isso não tenho que mudar nada na minha abordagem.
Já sabes o que é que vais fazer quando finalmente conseguires ter tempos livres?
Espero ir de férias. Viajar, sobretudo, o que não acontece há algum tempo (e, por este andar, vai demorar… pelo menos não me apetece andar de avião de máscara, por isso acho que vou esperar).
Sei que achas sempre que vai correr tudo mal, mas consegues dar-me 3 exemplos de coisas que te correram particularmente bem?
Consigo. Cá vão:
– os dois cursos que fiz, paralelamente à faculdade ou ao trabalho (um de um ano de duração, de escrita de argumento, outro mais curto, o tal workshop de rádio), já que em ambos os casos acabaram em ofertas de trabalho (e juro que não foi por dar graxa aos professores),
– ter lançado um livro de humor (e de amor) sobre o Porto no preciso momento em que o Porto se sagrou finalmente campeão, ao fim de um (enorme, para os portistas) jejum, caso contrário acho que ninguém teria disposição para o ler,
– ter-me cruzado com o Daniel (agora meu marido, e pessoa que me atura 24/7) – esta foi só para mostrar que, bem lá no fundo, também tenho coração! Mas de facto acho que é um luxo viver com alguém que se ri das mesmas coisas que nós, e que nos faz rir com outras de que não estávamos à espera.
Se amanhã te dissessem que era o último programa que ias fazer e que podias troçar (cá está, tinha de conseguir dizer isto novamente) com quem quisesses, à balda. Quem é que escolhias?
Não tenho ninguém guardado na gaveta à espera desse dia, estilo “vingança”. Todas as pessoas que tenho achado que “merecem” troça, já foram “analisadas”. Provavelmente gozava comigo, que é uma coisa que gosto de fazer sempre, e ainda mais nesses momentos que assinalam o fim de algum ciclo.
Joana, qual é a importância que as palavras têm na tua vida?
Têm toda a importância. Tenho fascínio por palavras, fico contente sempre que aprendo uma nova (lembro-me até do momento em que aprendi algumas… por exemplo, nos anos 90 aprendi “eufemismo” e “malsão” com o “Lado Lunar” do Rui Veloso, ou do Carlos Tê, neste caso, que ele é que trata do departamento das palavras).
Entrevista de Martim Mariano, originalmente publicada em O Que Dizes Tu?, tendo sido aqui divulgada com a devida autorização.