Entrevista. Maria Manuel Leitão Marques: “Temos de ser portugueses e europeus, de perceber esta dupla cidadania como fundamental”
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Os 230 estiveram à conversa com Maria Manuel Leitão Marques, membro do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu.
Nasceu em Moçambique e recorda ter convivido, desde cedo, com pessoas de comunidades, religiões e hábitos alimentares distintos. No fundo, lembra-se de crescer com a diferença. Hoje em dia, lida com assuntos que envolvem os 27 países da União Europeia e mantém presente o seu confronto com a multiculturalidade, acrescentando uma ambição pragmática ao seu trabalho.
O desejo de mudança
Esta “otimista militante”, como a própria se descreve, frequentou o curso de Direito na Universidade de Coimbra. Pela perceção conservadora que tinha do ensino e motivada por um desejo de mudança, após o 25 de abril, decidiu, em meio académico, participar num grupo reforma, cujo objetivo era mudar a dinâmica clássica de lecionar, que se resumia a professores a falar e alunos a tomar notas. Foi nesta fase que se deu conta da dificuldade de lidar com a resistência à mudança. Explica que “as pessoas não gostam de mudar, como regra. Há sempre num ou outro lado uma pessoa mais inovadora, mas em geral as instituições são conservadoras e as pessoas que lá estão também (…) O que significa que para mudarmos temos de ser muito inclusivos no desenho da mudança.”
Os momentos marcantes na Assembleia da República
A atual eurodeputada considera que “o momento mais marcante foi provar que a simplificação era possível.” Maria Manuel Leitão Marques crê que esta demonstração foi passada pelo programa SIMPLEX, no qual participou e que permitiu desburocratizar determinados trabalhos administrativos, bem como modernizá-los, sendo o Cartão de Cidadão o melhor exemplo deste processo evolutivo.
Os grandes desafios da atividade parlamentar na Europa
Já no seu cargo de eurodeputada, Maria Manuel Leitão Marques sentiu uma grande diferença em relação às suas funções anteriores. Considera que com esta mudança “a discussão faz-se a um nível muito exigente, mas ao mesmo tempo, muito desafiante e muito entusiasmante.” Atualmente, alguns dos grandes desafios passam pelo comité a que pertence, ligado à inteligência artificial e à discussão e avaliação do impacto da tecnologia na legislação.
Para além disso, sublinha outros problemas para a EU, que passam pela “competitividade a nível mundial e um problema de capacidade de decisão a nível interno.” Explica que o surgimento destes constrangimentos se deve ao facto de, inicialmente, ter sido desenhada para 6 países e, entretanto, ter integrado 27 que, assim, já são muito mais diferentes. Deste modo, alerta para a importância de “afinar os seus meios de decisão para ganhar competitividade a nível mundial, porque corre com outros que têm outras formas de decisão”
A mensagem aos portugueses Maria Manuel Leitão Marques gostaria que “todos os portugueses pensassem na EU não apenas como aquele sítio que nos ajuda financeiramente para o nosso desenvolvimento, a nossa coesão, a nossa investigação, mas como um projeto do qual dependem também”. Significando isto que “não é para deixar de ser portugueses. Nós temos de ser portugueses e europeus. Temos de perceber esta dupla cidadania como fundamental para a nossa qualidade de vida individual, o nosso emprego, o nosso futuro e a nossa segurança”.