Entrevista. Mister Roland: “A sociedade está a mudar e há mais consciência de que o artista trabalha bastante”
“Um sofá Uma história” é uma conversa informal entre o diretor artístico do CLAV-Centro e Laboratório Artístico de Vermil com os convidados das CLAV LIVE SESSION sobre as suas carreiras, processos de criação, arte, cultura, opiniões sociais e outros temas da sociedade, ou seja, dar a conhecer ao público um pouco mais o “ser” que esta por detrás do artista.
Mister Roland parte de novo, em direção a um luminoso sul de quem tenta que os caminhos sejam pessoais. Não lhe bastará chegar a um lugar diferente; é preciso fazer matéria da própria distância, fazer dela sinónimo de quem a percorre: eis o que singulariza a viagem, o que a torna ato e não mera deslocação. Assim, The Great Southern Lights é a memória da mais singular viagem de Mister Roland: a mais singular porque tem como destino a própria evasão, a possibilidade de espaço; é aquela em que o indivíduo descobre os seus nadas, os terrenos da possibilidade de ser tudo que não ele mesmo. É, assim, a sua mais verdadeira história até agora, conquanto será também a mais fabulosa, a mais assaltada por fantasmas, por deuses abandonados e (re)encontrados, por visões e ficções que se confundem. Na linha das viagens anteriores — Mayday; Trembling Giant —, The Great Southern Lights é um trabalho de identidade. O contador de histórias, trazendo a própria máscara na voz, conjura um raro deserto, em que toda a areia se torna espelho: os seus valentões titubeiam, os seus penitentes são inquebráveis, as suas miragens, certezas de um ardil.
The Great Southern Lights é um jogo de enigmas da imagem de si, que aqui nos surge em permanente metamorfose, através de versos em que colidem a dúvida e certeza, o alto voo e o raso passo, condensados numa musicalidade que, sendo a menos familiar até agora, é também a que melhor caracteriza a visão artística do autor por trás do protagonista.
Se The Great Southern Lights é o álbum das grandes paisagens, das grandes ideias, da grande fuga, não será, por isso, um trabalho em que deixamos de conhecer de Mister Roland. Muito haverá que nos transmite um eco de aventuras passadas, notas e histórias em que permanece o perfume da terra de Ocidente bravio, ainda exótico —horizonte de excelência deste nómada. Pode dizer-se, então, que este será, sobretudo, o trabalho do regresso, o relato de alguém que se recolhe no mais íntimo território. A questão, sabê-mo-lo, é que não pode nunca regressar-se o mesmo.
Alberto – Boa noite bem-vindos mais uma vez a “Um Sofá, Uma História”, desta vez com o Rolando Ferreira, que veio e participou nesta clav com o projeto que ele tem o Mister Roland. Rolando nós começamos sempre nesta conversa por perguntar ao artista que cá veio como é que foi a experiência deste dia?
Rolando – Foi uma experiência diferente de um concerto normal, primeiro por não haver público e segundo por ter tantas câmaras mas, por outro lado, foi uma partilha interessante porque pela primeira vez apresentei-me com mais 5 músicos nunca tinha uma banda tão grande e então houve aqui uma partilha e uma química que se construiu dentro deste espaço que foi muito prazerosa e gostei muito da experiência. Foi realmente diferente, mas ao mesmo tempo enriquecedora.
A. – Tu acabaste de tocar de fazer o teu concerto e apresentaste já um conjunto de temas novos do teu próximo trabalho. Ele vai sair quando? Tens uma data prevista?
R. – Sim, será em finais de março. Não há uma data fixa prevista mas está por dias anunciar essa data e então fiz uma coisa que nunca pensei fazer hoje que era realmente revelar assim temas que estavam a nuo, que ainda não tinham visto a luz do dia e que é uma coisa que já muitos artistas fizeram que é realmente apresentar a música em direto e depois eu disco sair mais tarde e estamos numa altura tão diferente que achei por bem e tendo em conta esta oportunidade de via cá ao Clav, já agradeci durante o espetáculo e volto a fazê-lo, pareceu-me bem realmente. Ok, se realmente estou numa fase nova que toda esta composição da génese do novo disco tem muito a ver com esta coisa do isolamento, é inevitável falar da pandemia não é mas eu programei uma semana em que eu ia para o Alentejo e ia para o Gerês que eu queria realmente estar isolado da sociedade, porque é um bocadinho a jornada que retrata estes novos temas, este novo disco e acabei por não fazer porque entrou a pandemia precisamente nessa altura então o meu isolamento acabou por não ser no Gerês nem no Alentejo mas sim em casa.
A. – Mas estás-me a falar, ou seja, isto há pouco tempo já estás a falar da questão do 1º ciclo pandémico que aconteceu em Portugal? Portanto, isso fez com que todo o teu processo de criação tivesse mudado?
R. – Sim, eu tinha uma canção ou duas que ainda estavam em fase, em início de composição e já tinha uma ideia muito clara do que é que eu queria fazer. Queria realmente que o Mister Roland como personagem atravessasse esta jornada, a ideia era ir para o deserto por isso é que eu falei no Alentejo que é o deserto mais próximo que nós temos, é um deserto saudável e bem bonito que é o Alentejo, foi muito a pensar nisso. Aquela ideia de planície, de estra isolado com os pássaros com os animais queria muito passar por essa experiência. Acabei por faze-la sozinho em casa. Isto para dizer que esta ideia muito clara que eu tinha do que é que eu queria fazer, apesar de ainda não ter as músicas realmente criadas, partiu por aí. E a partir daí foi uma questão de desenvolver esta ideia de isolamento, a escrita dos próprios temas, quais são as várias fases. Este disco tem um alinhamento que ele segue tem a ver com esta jornada do Mister Roland como personagem e começa com o “ The New Old” que é um tema que foi o que eu toquei cá do disco novo m primeiro lugar que já saiu como single de antevisão e ele está numa festa e realmente enche-se de estar na festa porque ele já foi a 100 festas ou 1000 festas, ele é o rei das festas e pistoleiro, e ver que no quintal há realmente uma planície ele simplesmente no segundo tema começa a caminhar por aí até que ao fim acaba noutra cidade e outra pessoa. Várias peripécias de que vão acontecendo no disco. O alinhamento que fiz cá também tem um bocadinho, apesar de ser mais compactos do que realmente é o disco também segue se essa linha de pensamento do conceito do disco.
A. – No que diz respeito ao processo criativo, ou seja, sentiste alguma mudança deste teu novo trabalho ao nível do processo do último? A questão por exemplo de teres mais músicos presentes na pré-produção? Foste fazendo as coisas? Sentiste alguma diferença, ou seja, esta questão do teres que ficar isolado em casa neste período todo, sentiste essa diferença?
R. – Sim. O meu processo desde o meu Ep, desde que comecei o projeto Mister Roland é muito de partilha, eu faço as canções à guitarra e depois convido um amigo para fazer um arranjo ou outro, às vezes escrevo um arranjo e digo opa dentro disto faz o que tu quiseres. É quase como Henry Ford “podes escolher a cor que tu quiseres desde que seja branco”, não é?! E é um bocadinho assim esta consignação que gosto de dar aos músicos, dentro daquela realidade e eu acho que quem já trabalha comigo percebe que não é uma imposição é tipo, aquela é a cor e tenho várias cores que eles podem utilizar e eles dão o melhor de si e normalmente não tenho qualquer, a coisa sempre bem.
A. – Tu juntaste nesta nova gravação um conjunto de musicos do peso. Isso aconteceu de propósito ou foi mais próximo?
R. – Sim. Eles são os mesmos quase desde sempre porque vivemos numa cidade que apesar de ter uma dimensão grande a cena musical não é assim tão grande e nós conhecemo-nos todos uns aos outros e existe às vezes, a partilha podia ser maior, mas acabam sempre por existir essa partilha. Eu acho que tem haver um bocadinho com o gosto de cada um, se eu me identifico contigo porque gostas daquilo e eu também gosto e então chegamos ao fim e quando eu te convido para tu participares no meu projeto ou tu a mim a coisa vai naquela direção. É um bocadinho esta partilha, ouvir musica juntos, vamos a um concerto e está lá esse amigo, falamos sobre o concerto e partilhamos ideias e depois é opa este concerto foi mesmo fraco ou este concerto foi incrível. Há um bocadinho já essa pré-partilha que quando tu entras em estúdio com uma pessoa que tu estás tao à vontade a coisa acaba por fluir normalmente.
A. – Eu sei que, e sabes que vou acompanhando a tua carreira, tu à uns anos atras à 2 ou 3 anos se não estou em erro tiveste uma experiência fabulosa, fizeste uma tour na Europa através do Inas.
R. – Inas que é uma rede que está ligada à rede da etep.
A. – E essa tour que tu fizeste este trabalho de partilha, até se calhar em outros palcos e com outros músicos, fez-te crescer ao nível enquanto artista, enquanto músico?
R. – Sim, antes de entras para a rede Inas fiz uma residência no Westway Lab, o que acontece é que há 4 músicos nacionais e 4 músicos de fora do país que se juntam como numa residência artística e portanto, eu vou estar com alguém de outra parte qualquer, no meu caso foi uma artista francesa que é a Lor Briar e vou estar com ela durante 12 dias a criar. Não há qualquer imposição nem objetivo. O objetivo é estares num palco e durante 45 minutos apresentares uma obra. E ao mesmo tempo os outros artistas estão a partilhar exatamente a mesma casa, nós partilhamos a cozinha, fazemos refeições juntos. A grande mais-valia que eu tirei daí foi realmente aprender como é que funciona um musico que está sediado em Lisboa, como é que funciona um que está em Leiria, como é que funciona o sistema da Segurança Social para os músicos em França que é extraordinário por exemplo, é completamente diferente, como é que funciona na Áustria que a ligação da música com a Alemanha que é um mercado gigante. E são estas pequenas coisas que realmente enriqueceram a minha forma de visualizar a indústria principalmente, e depois aquela partilha musical, do tipo “pá esta banda da Polónia tens que, pá para a tua música tens de ouvir isto.” Esse tipo de coisas. Depois o facto de ir lá fora e conhecer realidades diferentes é extraordinário.
A. – Dentro dessas realidades, desses palcos que tu tiveste a oportunidade de passar, qual é a grande diferença que tu notas dessa realidade para a nossa realidade?
R. – Há um marco que eu recordo num concerto na Suécia que foi no final do concerto, eu tinha acabado de chegar, foi o primeiro concento que dei logo, que normalmente esses festivais fazes mais que um concerto aquilo é loucura sempre a rolar. E foi no final, eu levei discos para vender, como acontece cá em Portugal e havia uma fila para me virem comprar discos e agradecer que é, normalmente é para dar os parabéns que é o que nós fazemos aqui, opa parabéns o seu concerto foi realmente incrível, e o discurso era sempre “Obrigado por estares cá, por teres perdido o tempo, de teres feito esta viagem e nos teres proporcionada esta noite incrível com o teu concerto”. Logo aí ficas tipo isto é completamente descabido. A. – Descabido para nós aqui.
R. – Sim. Por muito que tu valorizes o teu trabalho, acontece muito isso na música e acho que cada vez mais a sociedade está ciente que tu não chegas aqui e ligas um cabo numa guitarra e fazes um espetáculo de 45 minutos de 1 hora, 2 horas do nada não é? Isto tem muito trabalho, tem a produção de um disco, tem o conceito que ainda agora falávamos tipo o que é que eu quero fazer? Qual é a linguagem? O que é que vai acontecer esta personagem? Existem os arranjos, existe tudo, existe uma série do trabalho que está por trás que eu acho que cada vez mais a sociedade está a ficar ciente dessa parte. Também tem haver muito com esta coisa de abrirmos a porta do nosso estúdio, não é? A tecnologia que permite isso, vejo muitos diretos de colegas músicos que finalmente vi o estúdio dele, onde é que ele compõe, é ali que ele passa horas a trabalhar, e acho que realmente a sociedade está aos bocadinhos a perceber que o artista trabalha. Foi o que na Suécia senti, exatamente essa chapada que é do tipo, eles sabem muito bem que os músicos trabalham bastante.
A. – Qual é, se me conseguires dizer, se não conseguires também não há problemas nenhuns. Acabaste de dizer que, pelo menos puseste em cima da mesa nesta conversa, uma coisa muito positiva que aconteceu lá e que tu achaste logo completamente diferente e agora eu fazia-te a pergunta: qual é a coisa mais positiva que nós temos aqui, e que seja superior a essa experiência e realidade?
R. – Coisas positivas, há uma coisa muito positiva que nós temos que tem a ver com fatores económicos e que tem a ver com a pluralidade que é uma coisa que está a acontecer muito no Verão, neste momento não temos festivais de verão, mas que está a acontecer que é a questão de nos termos muitos festivais, cada vez mais, temos aqui o exemplo do EcoFest que é feito por vocês, que é este tipo de festival pequeno que dá oportunidade cada vez a mais artistas, portanto se eles existem muitos recebem muitos artistas portanto, os palcos triplicam, não é aquele concerto que realmente as bandas que eu chamo de estádio, que é uma banda de encher um estádio, estão em vias de extinção, precisamente porque nós temos a questão de pegar no telemóvel e ouvir um artista da Islândia, ouvir um artista americano, ouvir um artista da Polónia, e este acesso à música permite que tu consigas fazer pelo preço de um grande festival, porque os grandes festivais aqui também oferecem essa pluralidade em palcos…
A. – Não sei se tens percebido uma coisa que é nós estamos já num período em que os grandes festivais em Portugal já são mais pequenos e são esses que já estão a ser adiados para 2022 e sabemos perfeitamente porquê, não é? Por uma questão da pandemia, mas porque efetivamente com a possibilidade de redução do público financeiramente já não compensa. Portanto, continuamos naquele processo que os pequenos festivais ainda são os grandes polos de resistência e que fazem que a cultura chegue a uma grande parte das pessoas. Peço desculpa por estar a interromper o teu raciocínio.
R. – Sim, sim. Tudo bem, os grandes festivais fazem o trabalho deles e fazem muito bem, o que eu queria dizer era que em Portugal temos coisas boas nesse sentido e que por um bilhete de um festival em Espanha consegues ir a 20 pequenos cá em Portugal e eles existem e às vezes uns com mais dificuldade outros com mais apoios e consegues fazer esse roteiro de festivais e absorver músicos extraordinário porque nós temos realmente bons músicos e boa música e acho que isso é extraordinário, uma coisa podes fazer em Portugal e acho que isso é altamente atrativo também para o público de fora por isso é que vês muitos espanhóis por exemplo porque que é fácil para eles chegarem aqui e participarem neste tipo de festivais, os músicos agradecem porque realmente os palcos aumentam.
A. – Claro que sim, vamos pegar aqui num assunto e já que estamos e continuamos num estado de emergência, o que é que foi para ti esta questão de termos que estar parados durante este período que já está a fazer 1 ano? Como é que sentiste isso?
R. – A minha experiência pessoal foi o primeiro confinamento foi muito duro logo, eu sou uma pessoa muito afetiva com os amigos, aquela coisa que chegou aquele dia estou livre vou beber um copo com a malta, vamos trocar ideias, vou jantar fora, tipo o contacto com as pessoas é muito importante para mim e então foi logo aquele choque de incerteza de estar, foi logo as primeiras duas semanas e eu acho que foi bom para a parte musical, para aquilo que eu queria sentir acabei por sentir, mas foi muito duro para mim passar esse processo e depois acho que quando já estava tudo a ficar maluco e eu já me tinha adaptado foi assim um bocadinho, estava-me a adaptar porque realmente já estava a compor tinha aquele objetivo, tinha aquela rotina diária, o meu estúdio fica a 100 metros de casa e passava lá o dia e tinha aquele objetivo, tinha aquela rotina, enquanto o pessoal já estava farto de estar em casa eu já mais ou menos à vontade. Depois o que eu perdi realmente foi um bocadinho essa partilha que falávamos à bocado dos músicos. Tornou-se muito complicado, como é que eu convido o grande Rui Sousa, meu amigo e músico que admiro para ele tocar nos teclados como é que eu faço com o Pedro Oliveira não e? Ele tem o estúdio dele, vou-lhe mandar as fachas, ele vai-me mandar guias, depois gravamos asserio. Esse processo foi mais difícil, essa partilha. Mas por outro lado também foi bom, ter que misturar as coisas porque normalmente gosto de deixar essa parte porque senão é muito trabalho, como sou produtor e gosto de produzir os outros projetos também gosto que produzam o meu, porque acho que deve haver essa dissociação. Às vezes não, às vezes não preciso de insistir, mas eu sinto falta dela e então acho que este disco como é mais intimista, como é esta coisa do isolamento tive que produzir mais, gravar mais instrumentos eu e não ter tantas pessoas convidadas. Por que falavas que a banda é maior mas eu já desde o meu EP tenho a mania, não é mania é característica de fazer as coisas grandes e tanto às vezes toco só com uma guitarra como fiz hoje no início do concerto como aquela musica podia toda a gente tocar. Quando tu trabalhas uma canção e ela tem uma mensagem, uma história, uma narrativa tem esta magia de poder ser uma coisa muito pequeninha direta pessoal como pode ser uma coisa grande com grandes arranjos. E eu sempre fiz grande arranjos, sempre gostei deste projeto de fazer grandes arranjos. Lembro-me quando comecei eu queria começar o primeiro concerto com 12 músicos em palco, mas depois economicamente não era possível, tive que reduzir. Então andei ali entre o quarteto, quinteto e hoje apresentei-me com sexteto e quem sabe qualquer dia faço esse concerto com 12 músicos em palco.
A. – De certeza que sim, irás ter essa oportunidade. Aqui uma pergunta um bocado provocatória. Tem sido um ano difícil para todos nós, para todos portugueses, para vários tipos de profissões, mas infelizmente muito agressiva para os artistas, não só os músicos, mas também os bailarinos, os atores. Toda a classe artística e não só, os técnicos, os produtores, portanto tem sido um ano muito difícil. Como é que tu tens sentido o papel do estado neste processo?
R. – Primeiro tem sido muito confuso principalmente no que toca a leis, torna-se muito complicado perceber se me posso deslocar para ali porque vou fazer um trabalho ou se a questão dos ensaios se eles podem existir porque tenho um espetáculo marcado, por exemplo para fazer este concerto não fiz no meu estúdio, fiz noutro espaço porque sabia que tinha mais condições, podíamos estar distanciados mas sinto que não há aquela transparência de tu conseguires-te deslocar com a tranquilidade de que está tudo bem percebes? É muito difícil acho que devia haver mais essa transferência, mais este cuidado com já não falo com os apoios, mas leis mais claras.
A. – Que digas o que podem ou não podes fazer.
R. – Exatamente. E isso torna-nos um bocadinho mais contidos mesmo quando estamos a fazer uma obra que é: será que posso estar aqui a gravar? A questão do meu estúdio ser tão perto de casa, não é?
A. – Isto aqui em conversa fica entre nós, tivemos aqui um pequeno problema, não vale a pena estarmos aqui agora a falar, mas tivemos um pequeno problema que tivemos de certa forma adiar o concerto.
R. – E quando falas no governo eu acho que mesmo as próprias forças policiais sentem essa dificuldade.
A. – Mas ponho-te a questão em cima da mesa que é: e todo este apoio? O apoio ao artista, o apoio às artes, efetivamente estes apoios que foram colocados em cima da mesa satisfazem? Não satisfazem? São bem direcionados? Não são?
R. – Eu não posso falar pelos outros artistas só posso falar por mim, não é? Felizmente tenho a sorte de viver no Município onde foram criados vários apoios para combater a pandemia, tenho outra facilidade que é a de absorver várias profissões. Eu sou técnico de som, sou produtor, sou compositor e realmente tive, por exemplo, fiz algumas coisas de cinema que é uma área que não é minha área, até agora não era o que eu fazia diariamente, é mais ligado à música e estive a fazer coisas mais ligadas ao cinema e ao teatro que vieram um bocadinho deste depois do município e tive esta sorte de me ir adaptando e de ir sobrevivendo. Sei, porque tenho colegas, que passam mais dificuldades, não é? E não te consigo dizer realmente quais são essas fragilidades.
A. – Acabaste de dizer uma coisa muito interessante que é houve um conjunto de municípios tiveram essa sensibilidade e temos que ser claros que Guimarães teve essa sensibilidade em relação a apoiar um conjunto de projetos de artistas e principalmente os artistas da malta profissional. Portanto, houve essa sensibilidade, claro que nem todos os municípios tiveram essa sensibilidade.
R. – Só para terminar este assunto com a questão dos artistas se reinventarem, os artistas são a reinvenção, não é? E esta coisa de nós termos que nos desenrascar faz parte da nossa génese. E é por aí que realmente se vê esta questão não é? Não é tanto a música, mas é mais cinema. Eles pedirem para reinventar não, isso é a nossa génese, isso já é o que nós fazemos. Queria só rematar com isto.
A. – Felizmente tu tens essa capacidade porque podes fazer várias coisas não é? Os artistas têm de se reinventar, eu conheço artistas que se reinventaram de uma forma fabulosa, foram trabalhar para caixas de supermercado ou foram trabalhar para uma loja qualquer. Nós temos de ter a capacidade de nos reinventar e há muitos que tiveram essa capacidade e de fazer aquilo que não é bem a profissão deles.
R. – Aí é que se torna mais triste, não é?
A. – Temos que nos reinventar não é? A questão também passa por aí. Finalizando a conversa, futuro será igual ou será completamente diferente? Ou seja, esta questão deste último ano vai fazer com que haja um reinventar daquilo que podem ser as artes?
R. – Olha eu na minha vida estou à espera de ser um pessimista não sei se isso vem com a idade mas ainda está a demorar muito a chegar portanto sou um otimista por natureza e sempre que há uma mudança, neste caso uma mudança radical eu penso que tudo que possa renascer de uma mudança será para melhor. Portanto, a minha visão é sempre muito otimista. Acho que este wake-up call para as dificuldades que não são de agora da pandemia que as artes atravessam, esta precariedade que existe por exemplo na classe artística já existia, ela não apareceu com pandemia estas dificuldades, ela agravou-se com a pandemia.
A. – Acabaste de referir, peço desculpa por interromper mas acabaste de referir que da tua experiência por aquele circuito europeu e com os artistas de outros países que a Segurança Social e o apoio ao artista em França é completamente diferente não é? Portanto, isto quer dizer que efetivamente que a questão pandémica acentuou, mas o problema do apoio ao artista já não é de agora. Podes continuar com o teu raciocínio desculpa.
R. – Sim, eu estava a dizer que acho que esta ligação do artista com o publico que à bocado falava um bocadinho desta ideia da sociedade realmente perceber o trabalho que está por trás não é? Cada pessoa é que cada pessoa, cada caso é um caso e ainda vai ficar mais forte com o renascer da industria digamos assim e vejo com otimismo realmente o público a ir a mais espetáculos, a querer estar mais em contacto, esta coisa de fazer coisas mais pequenas mais direcionadas aquele público e que sabes que as pessoas vão aparecer sabes que realmente querem consumir e estão à espera disso acho que vai haver aqui um, primeiro vais ter aquele bum inicial não é? Claro que vai acontecer e depois acho que as pessoas vão gostar. Vai haver aquele bum e vão absorver, vão beber e depois se calhar queria mais um bocadinho disto e não toda a gente, mas acho que principalmente o público vai se tornar cada vez mais fiel.
A. – Muito bem. Fico muito satisfeito com essa tua opinião positiva e eu acho que sim acho que é preciso partilhar as opiniões positivas, eu também acredito que iremos ter dias melhores. Mais uma vez agradeço-te a tua vinda às Clav Live Session e costumo finalizar sempre a conversa da mesma forma que é incrível já desde o início destas conversas informais. És sempre muito bem vindo a esta casa e sempre que precisares e nós podermos ajudar estamos disponíveis. Obrigada boa noite
R. – Eu é que agradeço o convite muito obrigado.