Entrevista. Pedro Mafama: “Está tudo por ser feito e acho que isso é a coisa mais linda na criação e na vida”
Pedro Mafama tem sido um dos artistas portugueses que mais se atreve a desafiar o que se entende como limites ou fronteiras. Limites que são cada vez mais maleáveis, mais flexíveis e que abrem portas a que o impensável aconteça, como o fado a chegar ao kizomba ou a música assumida como pimba a chegar à composição musical dita mais trabalhada e maturada na sua lírica.
“Por Este Rio Abaixo”, Mafama é um dos responsáveis da música portuguesa ser mais comunhão que separação, mais união e diálogo que fragmentação. É tudo ao mesmo tempo, é ruralidade e civilidade, é campo e mar, é Alentejo, Lisboa, Porto e Trás-os-Montes ao mesmo tempo. Isto sem esquecer a África de língua portuguesa, o Brasil e até toda a linha mediterrânica que une Portugal a países como Espanha, França, Marrocos ou Argélia.
Nesta nova proposta musical — “Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente”, o músico tenta viajar ainda mais longe, como nos revelam, desde logo, os seus dois singles “Estrada” — onde une o cante alentejano e as rumbas ciganas — e “Preço Certo”, onde invade a televisão portuguesa e um programa tão querido de tantos, com dois mundos que têm tanto de igual como de diferente. Em todo o disco, uma sensação que perfumou todas as canções: a alegria — condiz com o nome da sua nova editora, a Arruada. Uma alegria associada às marchas populares, que lhe são tão queridas — é ele o autor da letra da marcha de Alfama deste ano —, mas também às texturas do interior, também elas já referidas.
Desta forma, nas vésperas das festas dos santos populares, procuramos perceber com maior detalhe a filosofia por detrás destes seus mais recentes trabalhos (já o entrevistámos há dois anos e fizemos questão de o apresentar). Mafama irá passar o verão entre Loulé — no “Festival MED” —, Glória do Ribatejo — no “Glória ao Rock” —, em Serpa — no “Noites na Nora”, — em Câmara de Lobos, na Madeira — na “Semana da Juventude” — e em Almada, no “Sol da Caparica”. Um caminho geograficamente inclusivo que tem tanto de inovador, como de um testemunho valiosíssimo do ser português no passado e no presente.
“Por Este Rio Abaixo” trouxe-te dos bastidores para a ribalta e percorreste parte do país com este teu trabalho. O que é que ele trouxe à tua vida de novo e que transformações sentiste desde aí?
O “Por Este Rio Abaixo” levou-me a viajar um pouco por todo o país, de concerto em concerto, de norte a sul, a conhecer pessoas incríveis, que me mostravam as músicas locais. Trocavam ideias comigo e eu vivia muito a vida de tournée. Fazia questão de parar e de beber um copinho em cada sítio onde podia, para conhecer pessoas dos locais por onde passava. Isso tudo com uma banda incrível, com uma equipa incrível, com as quais também celebrava bastante. Então, deu-me um bocadinho este sentimento de concretização e de que estava a conhecer muita gente e que muita gente também estava a conhecer a minha música. Isso, junto com uma felicidade que fui encontrando na minha vida pessoal e estas concretizações profissionais de que falei, foi dar a este disco.
Com o teu anterior álbum, percorreste várias cidades do país, sendo que muitas delas estão descentralizadas, desde Ponte de Lima, Ílhavo, Mértola, Lagos e até Ponta Delgada. Conta-nos o que sentiste nessa caminhada.
É muito importante para mim porque Portugal não são só as cidades grandes e sinto isso de forma muito intensa. Mértola, Ponte de Lima, Ílhavo, Silves não são cidades muito grandes — então Mértola é mesmo bastante pequenina, assim como a vila de Ponte de Lima — e têm uma cultura fortíssima. Provam a diversidade que o nosso país tem, porque estas duas cidades parece que têm um mar de distância e sinto o nosso país dessa forma. Por isso, gosto de o viver dessa forma também, que é não andar só de cidade grande em cidade grande, mas ver o país como um todo.
“Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente” é uma expressão que nos leva a viajar para aquelas intervenções como a de Lili Caneças, em que assume que o contrário de estar vivo é estar morto. No caso, refere-se à do lendário lateral-direito do FC Porto e da seleção nacional, o João Pinto. Qual é a grande razão para usares esta expressão como título do disco?
Acho uma coisa engraçada, que, em cada lugar, eles atribuem a autoria da frase a uma pessoa diferente. Se fores a Marrocos, também alguém há de ter dito esta frase. O que eu gosto nesta frase é o erro dela, que dá uma imagem bastante existencialista e, ao mesmo tempo, com muitas potências para mim. Tanto é humorística como aceita o trágico que há na vida mas é otimista na mesma, porque há que sorrir e avançar em frente. Todos nós sabemos que estamos a caminhar para um abismo, tanto coletivamente em sociedade, civilização e planeta, como individualmente. Acho que a vida é um bocadinho lidar com isso e estou numa fase muito feliz e alegre da vida, mas não rejeito estes pensamentos, que podem ser vistos como um bocadinho mais fatalistas. Para mim, são só realistas e acho que a felicidade também é aceitar as coisas da vida que não podemos mudar.
Costumas trazer sempre alguma coisa do imaginário coletivo nacional para o teu trabalho. O que destacas desse imaginário para o que tens feito agora?
Acho que estou a trazer o universo do baile português para o primeiro plano, sendo que, até agora, se calhar, a minha música era muito baseada na percussão do Minho, mas fazendo uma relação com as Beiras e a procurar um bocadinho as heranças africanas da música portuguesa. O que eu fazia era um bolo, misturava isso tudo, e dava origem a uma música que não conseguias bem identificar o género, que era a minha intenção. Um género próprio. Neste disco, vou mais género a género e uma das coisas boas é que faz com que cada música seja mais usável e vivível. Se cada música é um baile, se é uma marcha ou se é uma rumba, elas são mais utilizáveis e vivíveis dentro desses géneros. Por isso, se calhar, o que está no plano da frente neste álbum é o baile português, porque é um universo que suga e que absorve muita coisa, está sempre a mudar de ritmos e transforma-se. Acho isso muito bonito na música de baile portuguesa.
Se, no “Por Este Rio Abaixo”, estava na recolha das coisas que já desapareceram, que não vão voltar e que nos parecem inacreditáveis aos olhos de hoje, como as carpideiras, o alar da rede, a Catarina Chitas, etc., agora estou nas coisas do presente. O bolo do aniversário com a fotografia, para mim, é artesanato, é cultura popular do presente. Entre um bolo e um prato de barro com uns desenhos com umas frases, para mim, não há muita diferença. O “Preço Certo” também é cultura popular vivíssima; as marchas que, apesar de uma sonoridade popular, estão vivíssimas e que, enquanto falamos, estão a ser vividas. Agora estou no presente.
A ideia de rumbas, de bailes e de marchas também traz uma ideia mais eufórica e de folia, que contrasta um pouco com o teu registo mais soturno e denso do teu disco anterior. É a expressão de uma mudança de quem és?
Acho que o meu olhar, que é a coisa que mais valorizo em mim — não tenho as melhores cordas vocais do mundo, nem o corpo mais atlético, nem sou super modelo —, recai sobre as coisas e essa abordagem, essa maneira de ver o mundo faz com que consigas ouvir uma música feliz minha — de baile ou não — ou outra triste minha e perceber que é a mesma pessoa. Não tem a ver com estar alegre ou triste, não tem a ver com estar a fazer uma chula ou uma rumba, não tem a ver com fazer música ou vídeo, mas antes com o olhar. Aquilo que me orgulharia dizerem é reconhecerem uma coisa feita pelo Mafama, seja música, vídeo ou peça de roupa. Ver Mafama nas coisas é aquilo que me define.
Denota-se muito da tua infância lisboeta e bairrista nas composições, tanto que convidas membros da Marcha de Alfama. Que memórias mais especiais trazes para este disco?
Olha, as memórias que tenho das marchas são desde pequenino. Andei numa escola aqui em Lisboa chamada Voz do Operário — assumidamente de esquerda e muito reivindicativa — e, desde sempre que me lembro, a marcha de São Vicente ensaiava lá. Então, sempre por esta altura, depois do 25 de abril [o feriado, não a Revolução de 1974], ouvia os ensaios. Lembro-me de ver as marchas e de ver representações do 25 de abril [a Revolução], da herança árabe em Lisboa, e vi-as sempre como formas artísticas e culturais que comentam assuntos e que não são só celebrações folclóricas. Podem comentar sobre assuntos da nossa sociedade. Uma memória um bocadinho mais estética que tenho é, nessa altura da Primavera, ouvir sempre na casa da minha mãe as marchas lá ao fundo. Sabes na altura do Verão quando ouves os bailes? Eu ouvia os ensaios das marchas, os instrumentos de sopro, as tubas, os trombones, etc., tudo lá ao fundo. Essa memória marcou-me muito e as melodias das marchas — falo do género musical e não do acontecimento —, são muito, muito especiais e têm regras muito próprias. Ouvimo-las na música brasileira, nas marchinhas, e ainda consegues ver essas pontes melódicas do outro lado do oceano.
No teu single “Estrada”, juntas os Mineiros de Aljustrel ao Chico Montoya [Ciganos d’Ouro], ao Diego el Gavi e ao José Lebre. Como foi este processo de juntar o cante alentejano, a rumba e o flamenco num só caminho?
O DJ Zezinho. O Jorge Fernando, que é do fado e é produtor. Foi incrível porque a música, só por si, já foi bastante coletiva em função do que eu tinha feito antes. O Jorge Fernando, por exemplo, aparece no videoclip porque foi ele que me apresentou o Chico Montoya. O Diego el Gavi também faz uma ponte com o DJ Zezinho, que acabou por não tocar e foi, antes, outro teclista incrível, o José Lebre. Ou seja, o videoclip foi ao encontro das influências da música e quis representar as pessoas que trabalharam nela. Em certos casos, não as pessoas, mas as comunidades. O videoclip foi o primeiro em que fiz sem ter um moodboard, ou seja, sem nenhuma ideia estética. Só sabíamos que queríamos ir para a estrada e ao encontro das pessoas e das culturas que criaram estes géneros musicais. Ir pela estrada como se estivéssemos em concerto e o vídeo do “Estrada” reflete e reproduz esse caminho feito de cidade em cidade com o “Por Este Rio Abaixo”. É por isso que tens essa representação dos quatro cantos do país.
Surpreendeste tudo e todos quando foste ter ao “Preço Certo”. Sentes que estás a fazer uma ponte entre a cultura mais comercial e televisiva com o que há de mais genuíno e popular na música e na cultura portuguesa?
Quis, mais uma vez, juntar o universo pop ao popular. É assim uma fronteira que tenho andado a explorar, os seus limites e, tal como no “Estrada”, em que vou ao encontro das culturas que fizeram estes géneros musicais, estas músicas e as pessoas que os fizeram, senti que, no “Preço Certo”, fazia sentido ir a um programa onde nasce tanta música de baile e onde outra tanta é apresentada. Por isso, foi, de certa forma, ir ao encontro do sítio onde a música de baile portuguesa tanto vive, ir ao encontro das pessoas, criar encontros. É uma coisa que tenho estado muito a explorar, desde o “Estrada”, justamente, e que, no videoclip do “Marcha Bonita”, eu faço novamente. Vou como condutor pela cidade [de Lisboa] para saber a história das pessoas, para saber como está a correr o dia e para me conectar com a cidade. Estou mais à procura de ações, de conversas e de junções que de imagens bonitas. Autenticidade é discutível, mas estou à procura de encontros reais e de mais contacto pessoal e menos cinema e imagens românticas.
Foste responsável pelo processo da produção visual e musical deste teu novo trabalho, o que denota que é um projeto mesmo teu. Como correu esta empreitada?
Fiz isto desde o início, não sozinho, mas do vídeo do “Arder Contigo”, que fiz com o José Torres e onde fomos buscar imagens aos arquivos da Biblioteca Nacional sobre a Inquisição, fomos lá buscar conceitos; há o “Lacrau”, o “Por Este Rio Abaixo”. Estive sempre a trabalhar com alguém, com várias pessoas, para eu próprio juntar as peças. Eu sempre fui o meu diretor criativo, com mais ou menos ajuda, e, por isso, não é algo de novo para mim. O que, aqui, é algo de novo é eu forçar-me a deixar algumas pontas soltas e não ser um obsessivo da estética e deixar que as coisas aconteçam de forma imprevisível, como é o caso da capa do disco deste álbum. Mandei-o fazer numa pastelaria e não fui controlar muito como é que eles iam desenhar a capa. Fui só lá e disse que queria um bolo, um bolo bonito, com esta frase (“Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente”), com flores, tal como eles têm na montra, e com a fotografia. Faça bonito e muito decorado. Depois, deixei isso ao acaso e resisti à tentação de ir compor muito e de modificar, de aperfeiçoar.
Aqui, quero um álbum vivo, que reflita e que tenha testemunhos, vivências, imperfeições e vozes dos meus amigos a chamar por mim, coros deles. Capas de discos feitas por pasteleiros, que não são designers gráficos, videoclips realizados pela equipa do “Preço Certo”, um programa de televisão, uma coisa sem controlo. Um videoclip — “Marcha Bonita” — filmado pela cidade, em que eu não escolhi as pessoas e elas entravam no Uber. Só escolhi em termos de logística, quem é que dá mais jeito ir apanhar e deixá-las falar, disserem o que elas quiserem e transformar isso em vídeo. Sou o diretor criativo e estético deste disco, mas estou a tentar deixar mais coisas ao acaso, ao imprevisível e deixar que seja mais uma representação das pessoas que seja alguma coisa somente sobre mim.
As letras das faixas do teu disco são da tua autoria ou há mais alguém envolvido nesse processo?
São todas minhas.
Nota-se uma certa curadoria na tua apresentação, na tua estética. Qual consideras ser a importância da apresentação naquilo que queres transmitir com a tua música?
No outro dia, estava a falar com um colega artista e ele estava a dizer que a forma como nós entregamos a música quase faz parte da música hoje em dia. Isto num universo pop está quase estabelecido que a forma como apresentamos as coisas faz parte da mensagem em si. Eu, tendo estudado Artes Plásticas, agora numa perspetiva de indústria, sei que um objeto depende da forma como é amostrado e muda de significado consoante o sítio onde o mostras. O urinol do Marcel Duchamp é um de uma casa de banho, mas depois, quando o mostras numa galeria virado ao contrário e assinado pelo artista, é uma coisa diferente, é uma peça de arte. Olhas para o objeto de uma forma diferente, olhas para outras coisas, não reparas só se está limpo ou sujo, mas pensas: “o que é que este objeto diz acerca de nós como sociedade, como civilização?”. Eu sei que os objetos dependem do sítio onde estão, os significados dos objetos dependem da forma como os apresentas e acho que isso é um conhecimento que eu uso e uma ferramenta que aplico no meu trabalho.
Quem é que mais contribuiu e te estimulou para a carreira musical que estás a desenhar?
A minha mãe, indiretamente, porque, não porque ela tenha propriamente acreditado desde o início no meu sonho de ser música, ela sempre soube que eu era um artista — mais visual, mas via — e sempre me estimulou nesse sentido. Sempre me disse que não importava se existia correto ou errado, mas antes a tua visão e querem vê-la. Ela sempre me deu isso, seja quando estava a fazer um trabalho para a escola, seja quando estava a fazer um desenho. Ela sempre valorizou a minha perspetiva única, por isso, sim, é essa a pessoa que sinto que definiu mais, me estimulou mais e me marcou mais.
És o parceiro de vida mas também muito de trabalho da grande fadista Ana Moura. Aliás, nota-se alguma afinidade entre a “Casa Guilhermina” e este disco. O que é que, musicalmente, ambos deram um ao outro num percurso que tanto transformou um como outro?
Olha, há uma coisa que eu aprendi muito da Ana e usei muito neste álbum, que é ter uma ideia e tentar executá-la logo, ou seja, a coragem de fazer aquilo que os nossos instintos dizem para fazer. Eu tenho tendência para pensar demasiado e, quando penso em alguém que eu imagino numa certa música, eu tenho tendência para ficar semanas a pensar se é a pessoa certa, será que quero mesmo isto, etc.. A Ana é muito intuitiva e avança logo e eu aprendi isso com ela, essa velocidade e essa confiança de “‘bora para a frente” e muitas, muitas outras coisas.
A música portuguesa está a transformar-se a olhos vistos, a beber tanto da música tradicional como das influências africanas e até árabes. Como achas que a música portuguesa se define hoje?
Acho que está, definitivamente, mais aberta, com fronteiras menos definidas. Isso é ótimo. Acho que houve uma altura em que tu ou eras americano ou eras provinciano, em termos culturais. Acho que já ultrapassámos isso. Sinto que, sim, estamos a olhar para nós mesmos mas, ao mesmo tempo, não temos as fronteiras do que é ou não música portuguesa definidas de forma rígida. Acho que isso é lindo e temos de trabalhar para continuar à procura de novas fórmulas, de explorar a nossa música popular e deixar que ela se descubra também. A música baile está sempre a evoluir, a cultura popular está sempre a evoluir e, para mim, a cultura popular é tanto um barro tradicional, como um carro tuning, como um bolo de aniversário em forma de Playstation. Tudo isto é cultura popular, que está viva e está sempre a evoluir. É preciso estimularmos isso e só aproveitarmos essa viagem.
A riqueza da música portuguesa espalhada pelo território continental e pelas ilhas começa a ser, cada vez mais, explorada e valorizada. O que é que achas que ainda está por ser feito neste processo?
Tudo. Está tudo por ser feito e acho que isso é a coisa mais linda na criação e na vida, que é o facto de estar tudo inventado e de estar tudo por inventar. Para mim, todas as reinvenções geniais ou, simplesmente, bonitas e belas, valem como se o mundo tivesse sido inventado de novo e, quando ouço uma canção, um género musical, uma melodia, um artista, uma manifestação cultural que eu não conhecia e que me toca, para mim, é como se o mundo tivesse nascido de novo. Acho que está tudo para ser inventado.
Quais são os teus objetivos artísticos futuros daqui em diante?
Continuar sempre a descobrir uma coisa nova e a sentir que o mundo nasceu de novo, como estou a sentir neste álbum. Na verdade, como sempre me senti em cada nova fase da minha vida. O mundo nasceu de novo e quero continuar a sentir isso para sempre. Não ter certezas nenhumas enquanto as procuro ter, procurar o máximo sobre as coisas que me interessam e, quando descubro o suficiente, e, se deixar de me interessar, passar para outra coisa. Quero fazer coisas que toquem em várias áreas, não só na música, e quero dar às pessoas a beleza e a surpresa que eu tive com coisas que fui vendo e que me fizeram sentir que o mundo nasceu de novo.