Entrevista. Pedro Rodrigues: “Em Portugal temos uma carga fiscal asfixiante. E o nosso sistema fiscal é de 1989”
A missão atribuída ao projeto Os 230, de aproximar os cidadãos dos políticos, mantém-se, e, desta vez, Francisco Cordeiro de Araújo conversou com Pedro Rodrigues, deputado do Partido Social Democrata (PSD). Na nona entrevista divulgada, o também fundador do movimento “Portugal Não Pode Esperar” dá a conhecer um pouco da sua vida pessoal. No entanto, e como não podia deixar de ser, a política é o tema em foco numa conversa onde o deputado considera que a desconfiança dos portugueses em relação aos políticos é uma causa “do distanciamento dos decisores políticos nos últimos 20 a 30 de anos”. Estes e outros assuntos foram falados na entrevista disponível em vídeo.
Apesar de ser natural de Lisboa, Pedro Rodrigues cresceu em Guimarães, pelo que se considera, de certa forma, “um vimaranense de gema”. Com base na sua experiência e nos dados europeus, o deputado não tem dúvidas que “Portugal é um dos países mais centralizados da Europa, onde o desafio da coesão territorial não tem sido vencido”. Neste sentido, o antigo Presidente da Juventude Social Democrata (JSD) destaca um desafio que se coloca ao país e às futuras gerações: “combater as assimetrias e transformar Portugal num país mais igual”, nomeadamente em oportunidades.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o deputado recorda que sempre quis seguir esse curso nessa instituição, tendo sido a sua única escolha. No entanto, ainda antes da fase académica, o deputado do PSD recorda que sempre teve interesse pelo serviço público e cívico, participando em “dois movimentos históricos em Guimarães”, conta.
A experiência profissional de Pedro Rodrigues e o que falta para mudar Portugal
Com três experiências governativas, Pedro Rodrigues foi chefe de gabinete do secretário geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) entre 2004 e 2005, ainda sem ter alcançado os 30 anos de idade. Mas que missão é que o SIRP tinha na altura? “Era fundamentalmente um trabalho de organização administrativa, regulamentar e até legislativa”, e, por isso, “não era propriamente o trabalho que se vê nos filmes americanos”.
Destacando a importância dos sistemas de informação, o deputado do PSD considera que são “fundamentais no mundo moderno”. Estas organizações permitem avaliar ameaças das nações e desenvolver as ações necessárias para as mitigar, explica.
Também antigo adjunto do secretário de estado da presidência do conselho de ministros nos XV e XVI Governos Constitucionais, o deputado recorda esse período como uma fase onde os desafios foram mais “fascinantes”. Pedro Rodrigues define o conselho de ministros como “a casa das máquinas de um governo” e explica o que, na sua opinião, resulta num governo eficaz. “Um governo funciona bem se com uma efetiva coordenação política através do processo legislativo e dos mecanismos de coordenação política de outra espécie, prioridades e agenda determinadas e muito claras, como também uma grande capacidade de comunicar essas questões”.
Quanto ao movimento “Portugal Não Pode Esperar”, que resultou numa obra, o antigo presidente da JSD garante que, de certa forma, os objetivos foram alcançados. “O livro mobilizou a sociedade portuguesa”, como figuras do PSD, como também a academia ou as empresas, garante.
Para o deputado, “durante um ano e meio foi possível fazer uma reflexão sobre as matrizes que influenciam o desenvolvimento de uma nação” e, desse ponto de vista, atingiu-se o objetivo que se pretendia. “Se olharmos para o plano do governo concluímos que a estrutura do seu plano é a mesma do livro”, considera.
O que fica, então, a faltar? “Para estar plenamente satisfeito precisava, de facto, de ver políticas que enfatizassem essas mesmas prioridades e que agissem sobre as grandes preocupações dos grandes constrangimentos do desenvolvimento de Portugal”. Algo que Pedro Rodrigues considera que ainda não se conseguiu alcançar, mas tem esperança que em breve isso aconteça.
Considerando que o plano atual, elaborado por António Costa Silva, resulta de um grande esforço, o deputado do PSD considera que, ainda assim, peca por várias razões, uma delas por apresentar demasiadas prioridades. Neste contexto, Pedro Rodrigues explica o que devem ser as medidas prioritárias para transformar Portugal: formação e requalificação, sistema fiscal e requalificação da economia.
O deputado do PSD mostra-se ainda insatisfeito por esse programa ter sido programado por uma pessoa e apresenta uma proposta, assente num debate nacional. Nessa discussão, defende, teriam de participar cidadãos das mais variadas áreas, entre, estudantes, empresários ou jovens.
“Verão Quente de 1975”: as escolhas do deputado do PSD
Na segunda parte da entrevista, Pedro Rodrigues responde a alguns “dilemas”. Entre Obama e Kennedy, o deputado do PSD escolhe, por exemplo, o presidente dos Estados Unidos entre 2009 e 2017, uma das figuras que mais o inspira. Mas a escolha parece não ser tão fácil quando confrontado com questões como Trump ou Putin e campo ou cidade.
A propósito da pergunta “velho ou novíssimo”, o antigo presidente da JSD fala sobre aquilo que considera ser importante para um país. “Aquilo que é relevante para que uma organização ou nação cumpra os seus objetivos e as suas ambições é conjugar a experiência dos mais velhos com a energia e o talento dos mais novos”, explica.
Entre os vários temas em cima da mesa, houve ainda tempo para Pedro Rodrigues explicar a sua opinião sobre a desconfiança dos cidadãos em relação aos políticos, considerando que o problema está na atitude da classe política. E, quanto a uma reforma do sistema eleitoral, o deputado considera que são necessárias “mudanças no sistema eleitoral”, nomeadamente com a “introdução de mecanismos de aproximação entre eleitores e representante”. Uma das propostas é a reformatação dos círculos eleitorais, que, considera, devem ser mais pequenos.
Por fim, Pedro Rodrigues deixa uma mensagem de esperança aos portugueses. “Não devem desistir de lutar por um país que é enorme com grandes potencialidades e com um povo enorme”, conclui.
Artigo escrito por Ana Filipa Duarte, colaboradora do projeto Os 230.