“Euphoria”: a nova série da HBO que foge a todos os estereótipos

por João Miguel Fernandes,    7 Agosto, 2019
“Euphoria”: a nova série da HBO que foge a todos os estereótipos
“Euphoria”

A maioria das séries ou filmes que se centram na juventude americana de liceu acabam sempre por tocar em todos os estereótipos: os gordos e geeks são gozados; os gays são gozados; os machos alfa são os reis da escola e heterosexuais; as playboys são burras e básicas; e a personagem principal faz parte da minoria ou de um grupo quase neutro. Este não é o caso de “Euphoria”, a nova série da HBO que desafia todas as regras e reconstrói a fórmula de como é crescer num liceu americano e ser jovem nos estados unidos.

A abordagem de “Euphoria” é curiosa e desafiante: a personagem principal é questionável, no sentido de ser boa ou má pessoa; a outra personagem principal é uma rapariga transexual cheia de confiança; a rapariga mais obesa e menos popular consegue facilmente colocar-se no centro sexual em seu redor; o rapaz popular e desportista esconde algo sobre a sua sexualidade; e tanto, tanto mais que foge aos estereótipos do costume.

“Euphoria”

A personagem principal de “Euphoria” é interpretada por Zendaya, a “nova” estrela da Disney que além de “Spider Man” também participou em “The OA” e irá interpretar Chani na nova versão de “Dune”. Rue, a sua personagem, é uma rapariga cheia de problemas com drogas, todo o tipo de drogas. Além de ser uma pessoa amargurada por ter perdido o pai tão nova, é também uma pessoa frustrada por nunca ter realmente encontrado a felicidade. Até que, um dia, Rue conhece Jules e tudo muda. Jules, interpretada pela belíssima Hunter Schafer, é a nova droga de Rue, uma droga aparentemente mais saudável, mas ao mesmo tempo mais explosiva. Jules é uma rapariga transexual com a maior confiança de sempre, cujo objectivo passa por aproveitar a vida ao máximo, sem qualquer entrave. Em qualquer outra série a personagem de Jules seria usada como foco minoritário para ser achincalhada, em “Euphoria” isso não acontece. Jules é a bandeira de orgulho da liberdade, do poder de decidir o que sentimos e como somos e a série fá-lo sem quaisquer problemas.

Ao mesmo tempo que vamos acompanhando a travessia de Rue pelo mundo da droga (drogas reais e Jules), vamos vivendo, quase paralelamente, as vidas de outras personagens, todos elas com os seus problemas profundos. Kat é uma rapariga virgem, obesa, que decide contrariar o padrão que definiram para si e assumir-se quase como predadora sexual, criando um grande vazio dentro de si, embora transborde confiança para fora (quantas pessoas já conhecemos assim?); Fez e vende drogas com o seu irmão mais novo, mas no fundo só o faz para conseguir manter viva a sua avó que tanto ama; Cassie é a típica rapariga bonita, sem grande maldade, com uma mãe alcoólica e um pai que a abandonou; Nate é o rapaz popular, completamente apaixonado por Maddy, e com alguns segredos e vários problemas graves.

“Euphoria”

Em “Euphoria” existem, à partida, todo o tipo de grupos sociais, mas a forma como estes são explorados e demonstram os seus sentimentos é totalmente nova. Em vez de se focar nas dificuldades de como é ser-se transexual nos estados unidos, “Euphoria” demonstra-nos que é possível sermos felizes no meio do caos, que às vezes as situações mais complicadas podem ser simples de resolver e que nem tudo é o que parece.

Do ponto de vista técnico Euphoria brilha na sua realização e montagem, um pouco ao estilo de Mr Robot, a série cria o seu próprio universo, quebrando várias regras e inserindo vários momentos de fantasia a situações aparentemente realistas. A banda sonora oscila entre as músicas da moda e alguns clássicos, mas no geral não destoa do tom da série. Sam Levinson, o criador, tem aqui a sua primeira aventura na TV, após dois filmes pouco bem sucedidos. Sam é filho de Barry Levinson, famoso realizador de “Rain Man”, “Bugsy” e “Sphere”.

“Euphoria”

“Euphoria” demonstra, essencialmente, que todos os seres humanos têm os seus problemas, não existem pessoas apenas boas ou más e há sempre uma ou várias razões para nos comportarmos de determinada forma. Por detrás de um herói não está sempre só o bem e por detrás de um vilão não está sempre só o mal. Esta troca de noções sociais acrescenta uma profundidade humana imensa à série, colocando-a no topo no que toca a questões urgentes, como a obesidade, abuso, sexualidade entre outras.

Além de ter criado uma narrativa fresca, inovadora e necessária nos tempos actuais, “Euphoria” deu também a conhecer ao mundo Jules, ou melhor, Hunter Schafer, uma pessoa que só quer ser feliz da melhor forma possível para si, mas que para garantir essa felicidade teve (e terá quase sempre) que enfrentar o mundo, mundo esse que está cá para nos destruir e que só iremos sobreviver se tivermos pelo menos metade da coragem de Jules, uma transexual que é a bandeira do que significa ser humano: liberdade para atingirmos a nossa felicidade.

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