Filmes de Werner Herzog, Andrés Duque, Teresa Villaverde e Lech Kowalski no Doclisboa

por Comunidade Cultura e Arte,    6 Setembro, 2019
Filmes de Werner Herzog, Andrés Duque, Teresa Villaverde e Lech Kowalski no Doclisboa
“Nomad: In the Footsteps of Bruce Chatwin”, de
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Da Terra à Lua é uma secção do Doclisboa que nos mostra (e que nos leva aos) múltiplos tempos do cinema e às mais diversas questões dos indivíduos e da sociedade. Na 17ª edição do festival, a secção contempla um espólio cinematográfico de grande diversidade, contando com mais de 20 filmes de todo o mundo, com 2 estreias internacionais e uma estreia mundial.

Integrado nesta secção, e em estreia portuguesa, Werner Herzog apresenta dois dos seus filmes mais recentes. Nomad: In the Footsteps of Bruce Chatwin é um documentário que segue os passos e os caminhos que o escritor Bruce Chatwin outrora percorrera, antes do seu falecimento e que Herzog, numa aventura nómada, explora (visualmente e fisicamente) para a descoberta da vida de um dos escritores mais visionários do século XX e, acima de tudo, para a criação de um filme de aproximação visual de uma amizade que vive para além do tempo e do espaço. Family Romance LLC, que teve a sua primeira exibição em Cannes, é um retrato ficcional (com uma forte tendência visual documental) de uma componente da sociedade japonesa: o lado contratual do romance, da família e dos amigos. Duas fórmulas cinematográficas distintas – um filme documental e um filme de ficção – que nos ligam mais uma vez ao universo multidisciplinar, ao olhar curioso de Werner Herzog: um dos realizadores mais prolíficos da contemporaneidade.

Depois de uma retrospectiva de homenagem no Doclisboa, em 2007, Lech Kowalski regressa ao festival. O realizador vai estar em Lisboa para apresentar Blow It to Bits, um filme que estreou na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e que segue a revolta, os protestos dos trabalhadores da fábrica GM&s: um olhar necessário e inevitável sobre a situação, sobre a vida desta comunidade e destes indivíduos.

O Carnaval, as vozes, os cânticos, as buzinas de celebração na Estação Primeira de Mangueira, no Brasil, é o contexto retratado em Où en êtes-vous, Teresa Villaverde?, de Teresa Villaverde: uma curta-metragem documental encomendada pelo Centre Pompidou, apresentada pela primeira vez no contexto da retrospectiva da realizadora, que decorreu este ano no museu parisiense e que estreia agora em Portugal, no Doclisboa.

Billy Woodberry apresenta A Story from Africa, um filme cujo primeiro impulso surgiu durante o processo de investigação e realização do documentário sobre Mário Pinto de Andrade. Tudo começou com uma fotografia e é através da utilização de imagens de arquivo que se lança o discurso, que se motiva o olhar e se despoleta a discussão sobre a ocupação do território da população Cuamato, no Sul de Angola, pelo exército português. Uma mostra do outro lado da história: um lado muitas vezes esquecido, que procura dar voz e imagem aos registos, aos discursos e aos olhares perdidos. Esta tentativa de criar um novo discurso sobre o passado colonial está presente também em Palimpsest of the Africa Museum, de Matthias De Groof, que tem a sua estreia internacional no Doclisboa. Um documentário que nos apresenta e que acompanha as renovações do Royal Museum for Central Africa, na Bélgica, que, numa tentativa de descolonização do discurso do museu, trabalha em conjunto com a COMRAF, grupo resultante de uma selecção de especialistas e representantes de organizações africanas.

Em estreia Internacional, Kevin Jerome Everson e Claudrena N. Harold apresentam Hampton: a última curta-metragem realizada por esta dupla de realizadores que, ao longo da última década, se tem dedicado (juntamente com os seus alunos) a realizar filmes de análise – de cruzamento de tons ficcionais e documentais – sobre a situação (e os momentos-chave da história) dos alunos afro-americanos da Charlottesville University of Virginia (UVA). Uma universidade fortemente ligada a uma cultura de extrema-direita, que o repertório visual destes realizadores procura desconstruir e denunciar, não dando voz aos opressores, mas sim ao estabelecimento e à manutenção de uma forte comunidade de alunos afro-americanos. A série de curtas-metragens Sugarcoated ArsenicWe DemandHow Can I Ever Be LateFastest Man in the State70kg e Black Bus Stop será exibida em conjunto com o seu novo filme, contando com a presença de Claudrena N. Harold no festival.

Questões de territórios e identidades marcam igualmente a programação Da Terra à Lua: de continentes sul-americanos, a regiões europeias, até ao continente africano. Em estreia mundial, Claudio Carbone apresenta Until the Sun Dies, uma produção portuguesa que mostra a vida quotidiana e o tom de resistência dos povos indígenas americanos, problematizando as questões de reapropriação de terras e identidades perdidas, com foco no retrato do povo terraba, na Costa Rica. Em estreia internacional, o Doclisboa apresenta O Último Sonho, de Alberto Álvares, realizador que esteve presente na Mostra Ameríndia (organizada pelo Doclisboa) e que regressa a Lisboa para a 17ª do Doclisboa. Do Brasil, o festival recebe também Chão, de Camila Freitas, depois da sua estreia internacional na Berlinale: um filme que acompanha uma ocupação (e a luta constante) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Andrés Duque apresenta Karelia: International with Monument, um documentário que estreou no IFFR e onde se procura (re)descobrir a identidade, as memórias e a história de Carélia (região situada entre a Rússia e a Finlândia). Movements of a Nearby Mountain, de Sebastian Brameshuber, mostra-nos a rotina, o trabalho e a vida de um mecânico nigeriano que vive numa região remota dos Alpes, de onde exporta carros usados para o seu antigo país.

A actualidade, a política e o papel dos media são linhas temáticas presentes nesta secção: The Brink, de Alison KlaymanBrexit Behind Closed Doors, de Lode Desmet e On Air, de Manno Lanssens são documentários que nos permitem não só observar o backstage político, como problematizam questões fulcrais como a manipulação, a censura e o aumento exponencial da presença da extrema direita nos tempos que correm.

Do presente para o passado: Heimat Is a Space in Time, realizado por Thomas Heise, utiliza a imagem, a história, a memória pessoal e familiar para uma representação íntima da história alemã do séc.XX. Para além da estreia portuguesa deste filme, o Doclisboa exibirá mais obras da filmografia de Thomas Heise no contexto da já anunciada Retrospectiva Ascensão e Queda do Muro: O Cinema da Europa de LesteWhy Make a Film About People Like Them?VolkspolizeiDas HausSnack-Special e Iron Age.

Esta é uma programação de vozes, de imagens, de temas do mundo: esta é a programação da secção Da Terra à Lua. O Doclisboa regressa às salas lisboetas de 17 a 27 de Outubro.

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