First Breath After Coma em Leiria: o labirinto que nos deixa desprotegidos

por Comunidade Cultura e Arte,    11 Março, 2019
First Breath After Coma em Leiria: o labirinto que nos deixa desprotegidos
Fotografia de Idalécio Francisco / CCA
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Na noite de quarta-feira, 6 de Março, assistimos ao primeiro concerto do novo álbum da banda leiriense First Breath After Coma. O espetáculo decorreu no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, que se encontrava praticamente lotado. Cinco faixas prateadas dispostas paralelamente ocultavam, parcialmente, o palco e espicaçavam a nossa curiosidade acerca do que iria acontecer. Este grupo de cinco amigos, que cada vez mais se fundem num só, deixam-nos sempre com as expectativas elevadas. Esta noite não foi exceção.

Fotografia de Idalécio Francisco / CCA

Começaram com o tema “The Upsetters” e, subitamente, a sala ficou em silêncio total. Só a música preencheu o espaço. Prosseguem com “Please, Don’t Leave”, tema este em que os panos ascendem, e os músicos ficam completamente expostos, a nu. É impressionante a capacidade camaleónica e a maturidade composicional que esta banda tem. Conseguem mais uma vez surpreender com uma sonoridade completamente díspar dos trabalhos anteriores. Há um crescimento palpável. Uma mudança de rumo. O poder das diversas vocalizações, dos sintetizadores, das teclas arrepia. É o caso da música “Howling For a Change”, que facilmente nos deixa despidos. Este álbum, em particular, desperta em nós uma panóplia de sentimentos. Eles ousaram expor-se de uma forma tão intima, tão forte, que é difícil ficarmos indiferentes. É difícil não nos deixarmos tocar. O universo da dor, da rejeição, da libertação, do amor, da raiva, do desalento, da conformação, da angústia, do crescimento e da desilusão também é o universo de todos nós. Também habitamos o mundo que eles musicalmente e visualmente criaram.

Fotografia de Idalécio Francisco / CCA

O vocalista Roberto Caetano interveio a meio e alertou que iriam tocar algumas músicas dos álbuns The Misadventures of Anthony Knivet e Drifter, porque senão o espetáculo seria de trinta e cinco minutos (duração do novo álbum, NU). Desta forma, fomos presenteados com temas como “Gold Morning Days”, “The Escape”, “Salty Eyes”, entre outros. Regressamos ao terceiro álbum e rapidamente chegamos à estrondosa música “Heavy”, primeiro single que foi lançado no final de 2018. “I cried / The truth to find out how to keep my faith”; com esta letra terminam o concerto e abandonam o palco. O público efusivo aplaude e eles regressam para tocar “I Don’t Want Nobody”. Este tema foi composto e interpretado, maioritariamente, pelo Rui Gaspar. Tocante. Ressonante. Seguiu-se “Feathers and Wax”, perfeito para encerrar a noite.

Fotografia de Idalécio Francisco / CCA

NU é uma peça audiovisual na qual os First Breath After Coma e os Casota Collective (um coletivo de produção de vídeo da própria banda) constroem uma história através do som e da imagem. Ocorre uma simbiose perfeita entre estes. É com esforço que dissociamos o som do vídeo que eles criaram. O álbum visual (e sem ser visual) é tão singular que não permite intromissões. Por mais complicado que seja de gerir, seria preferível que o concerto tivesse só refletido este álbum, que, tão bem, descreveu o vocalista Roberto: “foram oito telas pintadas a nu”. Oito faixas que contam um percurso que dificilmente esqueceremos. Uma viagem labiríntica do útero para o útero que nos revolve as entranhas.

Mais uma vez aplaudimos de pé o trabalho, a qualidade, a maturidade e a simplicidade deste grupo de jovens que vão criando histórias e ficando na história da música portuguesa.

Fotografia de Idalécio Francisco / CCA

Texto de Ana Moreira

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