François Truffaut em 16mm
François Truffaut foi um ícone do Cinema, um grande cineasta francês também conhecido por ser um dos fundadores do movimento artístico Nouvelle Vague permanecendo até hoje na mente e na memória visual da história do cinema do século XX. Este ano faria 84 anos e é com todo o gosto que comemoramos a sua vida e obra.
O realizador nasceu a 6 de Fevereiro de 1932, em Paris. Ao longo da sua carreira de 29 anos (1954-1983), realizou 24 filmes, 21 longas-metragens e 3 curtas-metragens.
Truffaut fez uma espécie de pertence pessoal e íntimo de cada filme seu. Mostrava constantemente pormenores da sua vida privada e apresenta-os nos seus filmes, de forma bastante persuasiva para a narrativa em questão.
Esta curiosidade por Truffaut surge-nos de um modo bastante espontâneo, já que foi um autor capaz de se reinventar a cada filme. As suas obras são notáveis, mas também são facilmente distinguidas entre si pela diferença nos aspectos temáticos, estruturais e também formais. Esta característica é uma das razões do porquê de a sua obra ser tão reconhecida e destacada.
Temos os filmes que contam a sua infância, parte da adolescência e partes da vida adulta como Les quatre cents coups (1959), Antoine et Colette (1962) e Baisers volés (1968). Filmes que fazem parte de um género cinematográfico chamado Film Noir, como La sirène du Mississipi (1969) ou La femme d’à côté (1981). Filmes históricos como Jules et Jim (1962) , L’Enfant sauvage (1969) e L’Histoire d’Adèle H. (1975). E temos ainda muitos outros filmes, igualmente interessantes, que não assentam sobre categoria alguma.
Truffaut, como qualquer ser humano, foi influenciado pelo que o rodeia, pelo que lê e pelo que vê. Teve claras influências visuais, como ele próprio o admitiu, de Ernst Lubitsch, Rosselini, Howard Hawks e Jean Renoir. Aquilo que lia também tinha algum peso nos seus filmes como eram os casos de Balzac, Proust, Jean Genet e livros que falassem também do cinema do ponto de vista da experiência. Livros de Jean Cocteau ou Sacha Guitry, por exemplo.
Mas não é só na realização de filmes que ele se destacou. Truffaut tinha um eterno desejo de ser um bom escritor e na década de 50 sobressai no seu papel de crítico cinematográfico. As suas opiniões sobre determinados realizadores e sobre a forma de fazer cinema, rapidamente levaram à criação de novas linguagens, novas maneiras de fazer cinema, novas formas de realizar um filme e conduzir uma narrativa.
Foi também nesta época que surge a introdução do termo “filmes de autor”. O realizador não escolhe só os planos, mas é também o seu autor, o criador. Todos os processos do filme têm o cunho do realizador.
Dizia-se que Truffaut era uma pessoa complexa, controversa mas bastante inteligente. Demonstrava também elevada timidez, como muitas das personagens dele nos filmes. Foi um autor extremamente reflexivo e exigia do seu público o mesmo. O espectador trazia um contributo essencial para o filme, não só nas suas interpretações, mas também a participação activa na criação de uma significação.
François tinha em si uma enorme bagagem cinematográfica, que trazia desde os seus 8 anos pelo vasto visionamento dos filmes e a constante anotação de pequenos pormenores de extrema importância que lhe cativavam a atenção. Esta grande cultura visual que Truffaut traz consigo permitiram-lhe ser um grande realizador na parte técnica da questão, e a emocionalidade, que dá “cheiro” aos seus filmes, é trazida também pela forma como consegue intelectualizar toda a questão.
Os filmes de 16mm eram os seus favoritos e o cinema era vida para François. Foi no cinema que ele se refugiou em muito novo e daí a grande ligação que teve à 7.ª arte. O cinema dava-lhe algumas ideias, mas era pelas pessoas que ele se interessava, e era isso que o movia. As relações, as ligações, as emoções.
Foi um grande realizador das ideologias humanas e sentimentais. Não fazia filmes para a intelectualização, fazia filmes para a emoção, emoção da vida das personagens e os sentimentos reflectem-se no público que ainda os sente.