“Here Comes the Cowboy”, de Mac DeMarco: disparos de pólvora seca
Slack rock, jizz jazz. São vários os nomes pelos quais é conhecida a música de Mac DeMarco e todos eles tentam, de uma forma ou outra, categorizar o estilo musical que a rockstar canadiana faz nas suas composições. Há guitarras, há “grão” — no imaginário e nos ouvidos — e há uma visão de Peter Pan a dedilhar seis cordas, mas This Old Dog, o seu terceiro álbum de originais, surpreendeu tudo e todos ao apostar numa sonoridade mais melancólica e introspectiva. Em Here Comes the Cowboy, o seu álbum mais recente, DeMarco continua a enveredar por esse caminho mas sem apresentar a solidez que mostrou anteriormente.
Enquanto que em This Old Dog a grande maioria das músicas eram ideias completamente formadas, Here Comes the Cowboy parece ser composto por demos desse álbum que ficaram para trás. A faixa título abre o álbum como uma introdução repetitiva, um blues sem grande nexo entoado em intervalos de baforadas de Viceroy, e o resto do álbum não destoa muito dessa atmosfera: “Choo Choo” é dos momentos mais estilosos do álbum mas não tem nada que se lhe diga, enquanto que “Little Dogs March” fala sobre a aceitação do que é crescer com a leviandade de uma criança a discutir o assunto, e “Hey Cowgirl” é um convite de DeMarco para alguém partir com ele que nunca é particularmente convincente.
A estética “preguiçosa” que caracteriza grande parte da música deste artista costuma resultar a seu favor, mas com um teor emocional mais ambicioso as ideias que estão presentes no seu quarto álbum de originais sofrem com essa abordagem, e “K” é o único momento em que a ausência de instrumentação se justifica totalmente, detalhando o amor simples e sem grande espalhafato que DeMarco sente pela sua alma gémea Kiera Mcnally. Já “Preoccupied” torna-se mais difícil de escutar devido à sua esparsa instrumentação, e em “Baby Bye Bye” o artista despede-se de alguém repetindo-se até à eternidade, com algumas variações mínimas nos sons que se vão ouvindo até terminar num fade out desapontante, e retomar com um funk adornado por uns gritos à cowboy arranhados com entusiasmo.
Nos momentos mais compostos já a caminhar para o final do álbum, DeMarco demonstra mais qualidade na construção musical. “On the Square” é dos temas mais robustos: ouvimos qualquer coisa de transcendente na melodia tremida de sintetizador, numa música sobre a ilusão de uma vida, enquanto que em “All of Our Yesterdays” temos uma das estruturas mais consistentes deste álbum num tema derrotista e sobre aceitar que o passado ficou lá atrás mas que não estamos sozinhos nessa epifania tristonha. Percebemos ao longo de Here Comes the Cowboy que DeMarco nos está a tentar dizer como se sente e que é uma reflexão sobre o seu percurso na indústria musical. Mas a gama sonora que utiliza para o fazer é muito mais limitada do que aquilo a que nos habituou.
A grande adição à discografia e o único verdadeiro destaque do álbum é “Nobody”, uma balada sentida e metafórica com uns sintetizadores chorosos e uma guitarra abafada, pautados por uma percussão anódina. No videoclipe, DeMarco surge mascarado de réptil, mostrando-se como algo que não é e nota-se que está a tentar afastar-se da imagem de rapaz despreocupado e bobo do indie rock que tem cultivado ao longo dos anos. Here Comes the Cowboy é sobre a imagem que o mundo tem do artista, revelando um lado mais sincero mas também mais esgotado de um ponto de vista criativo. A música de Mac DeMarco sempre teve uma atmosfera macilenta, mas com este álbum é a primeira vez que causa bocejos.