Já são conhecidas todas as novidades da nova temporada da Culturgest
A Culturgest é, há já 25 anos, sinónimo de cultura e reflexão, trazendo a Portugal nomes conceituados e emergentes, das mais variadas correntes artísticas, e oferecendo a artistas nacionais, emergentes ou consagrados, espaços para criação. A programação da Culturgest para a Temporada 2018-19, a primeira da inteira responsabilidade de Mark Deputter, foi apresentada ontem, dia 12 de Setembro, e é assumidamente multidisciplinar, conforme o apanágio da fundação desde o primeiro momento. Com o objectivo de dar cada vez mais voz ao público, a Culturgest pretende também abrir cada vez mais as portas, colocando a maioria dos eventos no Grande Auditório.
A temporada começa com a comemoração dos 25 anos da Fundação, que irá ocorrer ao longo das duas primeiras semanas de Outubro, na qual destacamos Os seis concertos Brandeburgueses onde a música de Bach será mote para a coreografia de Anna Teresa de Keersmaeker. Também no âmbito das comemorações, e como exemplo da maior proximidade da Culturgest ao público, teremos Bal Moderne, um baile moderno onde não é preciso ter par nem saber dançar para participar e no qual serão aprendidas, em três momentos, durante três horas, três coreografias de três minutos cada. No campo das Artes Visuais, a exposição de Kader Attia, As Raízes também se criam no betão, que será inaugurada a 19 de outubro, explorará, segundo o curador Delfim Sardo “a relação que o espaço urbano tem com o corpo – especialmente o corpo migrante”, na forma como este é afectado e politizado – esta exposição será ainda debatida no âmbito da iniciativa Tempestade Mental, um conjunto de conferências que se destina a jovens dos 14 aos 18 anos e que promove o debate entre estes, sem a presença “adulta”.
Como inerente espaço para a reflexão e criação, a Culturgest apresenta um programa forte de Conferências e Debates, do qual destacamos Para um mundo sem fronteiras de Achille Mbembe, autor de obras como a Crítica da Razão Negra (prémio literário Geschwister Scholl) e Políticas da Inimizade, e onde se falará sobre a “história da mobilidade, recheada de inclusões e exclusões, fronteiras e limites – geográficos, sociais, económicos e culturais”. Fomentando as parcerias com universidades e institutos, a conferência What has love got to do with it? – Performance, intimidade e afetividade irá abordar os limites (ou a inexistência destes) entre a esfera pública e a esfera privada, “implicando por vezes a diminuição da participação activa do cidadão, transformado em mero espectador de outras vidas e intimidades amplificadas através dos media”. Algumas conferências assumirão ainda um formato de dia inteiro, com sessões a ocorrer durante todo o dia e com uma conferência final às 18h30 desse dia.
No âmbito da música, destacamos ainda o concerto de James Holden, a 7 de Novembro, e dos Mouse on Mars, que têm colaborado amiúde com Justin Vernon (Bon Iver), Zach Condon (Beirut) e com os irmãos Dessner (The National), e que apresentarão a explosão sonora de ‘Multidimensional People’ no Grande Auditório a 5 de Dezembro.
A companhia de dança madeirense Dançando com a diferença, que se tem “destacado pela disseminação do conceito de dança inclusiva e por promover a colaboração de pessoas com e sem diferença” apresentará, a 23 de Novembro, Happy Island, resultante de um encontro entre a coreógrafa La Ribot e a cineasta Raquel Freire e “onde a diferença de cada um é o elemento que os une e que define o modo de viver em comunidade”.
Em Fevereiro, os Rimini Protokoll apresentarão o projecto 100% Cidade, que já esteve em mais de 35 cidades no mundo, desde Paris a São Paulo, passando por Brisbane e Montreal, e que chegará a Lisboa com 100% Lisboa, de 1 a 10 de Fevereiro. As estatísticas oficiais da cidade assumirão assim um rosto, colocando em palco 100 habitantes da cidade, numa proporção que representa o género, idade, nacionalidade e área de residência, dando assim “corpo e alma à cidade de Lisboa, pintando um retrato fiel de uma cidade em acelerada mudança, mas cada um fala também por si, da sua vida, das suas opiniões, mágoas e felicidades”. O Teatro Municipal do Porto receberá 100% Porto nos dias 19 e 20 de Janeiro.
Embora não sejam parte preponderante desta primeira parte da programação, a Culturgest pretende criar espaços de criação e de co-criação a projectos nacionais, que serão apresentados na 2.ª metade da programação. Ainda assim, há a destacar a reposição da co-criação Triste in English from Spanish de Sónia Baptista, um trabalho “criado a partir da tristeza (…) com raízes ecofeministas, eco-queer, holístico-filosóficas, estranhas, entranhas”. Esta peça dará também mote à conferência A vida tal como ela é: o direito à tristeza.
O programa completo da Culturgest está disponível online aqui, com imagem renovada e aposta, como sempre, na ligação “ao bairro, à cidade, ao país e ao mundo”.