Linda Martini: a festa antes do novo ciclo
Os Linda Martini lançaram o seu último disco em 2018. Desde então, passaram quase dois anos e a própria banda admite que vai entrar numa nova fase. Não sem antes, no entanto, celebrar os últimos 17 anos. Pela primeira vez no Coliseu do Porto, o grupo apresentou um espetáculo frenético. Os Linda Martini tocaram um pouco de toda a discografia fantástica que lhes permite ter um conjunto fiel de fãs. Foram cerca de duas horas de poucas cerimónias, mas de muito rock.
Começou com “Semi Tédio dos Prazeres”, do disco mais recente, que partilha o nome com a banda. A sala não estava lotada, mas a “Casa Ocupada” deu-nos a música “Nós os Outros”, a primeira que puxou pelo contributo do público. Do mesmo álbum, veio “Mulher-A-Dias” e “Ameaça Menor”. Um começo explosivo, de paragens mínimas. Exatamente o que seria o resto do concerto.
Antes do rock continuar, as primeiras palavras: “O Porto já nos deu muitas primeiras vezes e esta é mais uma”, disse Hélio Morais, baterista, sobre a estreia no Coliseu do Porto. Regressou-se ao alinhamento com “Volta” e “Panteão”, estas do disco Turbo Lento. “Juventude Sónica” recebeu uma reação calorosa da assistência. “Caretano” aumentou o ritmo e voltou ao trabalho mais recente dos Linda Martini. Era o aquecimento para “Boca de Sal”, cantada tanto por banda, como por público, enquanto estes últimos saltavam fervorosamente.
“As Putas Dançam Slows” começou a um ritmo que faz jus ao seu nome, mas é o seu clímax progressivamente mais explosivo que leva o Coliseu do Porto ao rubro. Depois veio “Frágil”, o single mais recente que já espreita um novo ciclo. É uma cover de Jorge Palma que mantém a honestidade das palavras; porém, os Linda Martini conseguem criar uma versão própria da identidade da banda.
“Putos Bons” e “Gravidade” foram as próximas, com a segunda a testar a solidez do Coliseu. Depois de “Partir Para Ficar”, os fãs na plateia cantavam pelo nome do grupo de artistas. “É por causa de vocês que estivemos aqui nos últimos 17 anos”, declarou Hélio para a alegria dos seus fiéis. “Amor Combate” era outro dos grandes hinos dos Linda Martini que não podiam faltar. O refrão foi repetido em uníssono, sem qualquer sinal de exaustão.
Depois veio uma rajada imparável de rock: “Unicórnio de Sta. Engrácia”, “Belarmino vs” e “Quase Se Fez Uma Casa”. E, no entanto, parecem doses leves quando comparadas com “Lição de Voo N.º1”. Uma viagem de sete minutos, com altos e baixos, diretamente do primeiro EP da banda.
Para terminar o alinhamento principal, a já icónica “Se Me Agiganto”: a reflexão incerta que desemboca numa trovoada emocional fantástica. É uma canção que mostra a essência dos Linda Martini e um culminar ideal para a parte principal desta festa de final de ciclo. Os artistas despediram-se, por pouco tempo. Regressaram passado alguns minutos. A baixista Cláudia Guerreiro agradeceu ao público, mais uma vez, e prometeu mais duas canções: “Estuque” e “Dá-me a Tua Melhor Faca”.
Este encore cumpria, mas sabia a pouco. Faltava algo e o grupo sabia-o. Olharam uns para os outros, trocaram algumas palavras e prepararam-se. Chegou a peça final deste compêndio discográfico: “Cem Metros Sereia”. Um grupo de fãs subiu ao palco e tomou posse dos microfones para liderar os seus camaradas numa adoração aos artistas. O mantra eterno do tema era gritado pelas almas dos presentes, enquanto o Coliseu do Porto era capturado pela sonoridade elétrica. Um clímax explosivo que só os Linda Martini conseguem fazer.
A festa foi um sucesso. Os fãs, mais uma vez, puderam amar uma banda de culto que já está a ficar maior do que um simples culto. Esse passo em frente, rumo a palcos maiores, parece estar ao virar da esquina. Um novo ciclo vai começar em breve, quando os Linda Martini atingirem a idade adulta e lançarem o seu novo disco. Até lá, teremos de aguardar impacientemente pela próxima noite inesquecível.