Milhares de pessoas exigiram em Lisboa “políticas concretas” para terem uma “Vida Justa”
Milhares de pessoas encheram hoje a rua de São Bento, em Lisboa, ecoaram a reivindicação de “uma vida justa” e concentraram-se junto à Assembleia da República, onde exigiram “fazer parte da decisão” e “políticas concretas” para responder à crise.
“Oh, Costa, escuta, queremos vida justa”, gritaram os milhares de participantes no protesto, dirigindo essa mensagem ao primeiro-ministro, António Costa (PS), sublinhando que “a luta continua”, “a luta é coletiva” e “a voz do povo é a voz suprema”.
Promovida pelo movimento cívico Vida Justa, a manifestação começou pelas 15:00 na praça Marquês de Pombal, onde se concentraram centenas de pessoas, arrancou pelas 15:45, quando a chuva começou a ameaçar a mobilização, mas sem sucesso, e chegou pelas 17:00 ao parlamento com “cerca de 10 mil pessoas”, segundo dados da organização.
“Todas e todos, por uma vida justa” foi a frase que encabeçou o percurso da manifestação, onde estiveram pessoas de todas as idades, inclusive famílias, vindas de várias zonas da Grande Lisboa, e que contou com a presença de deputados de BE, PCP e Livre na Assembleia da República.
Entre os vários cartazes erguidos no protesto, um era segurado por uma idosa de cadeira de rodas: “Fui obrigada a vir para a rua gritar“.
O direito à habitação foi um dos principais problemas apontados ao longo do protesto: “A casa custa, queremos vida justa”.
Erguendo um cartaz a dizer “A cidade a quem nela trabalha. 25 de Abril sempre”, Alice Figueiredo, de 26 anos, veio de Setúbal, onde mora com os pais após um par de anos a saltar de casa em casa em Lisboa, cidade onde quer voltar a viver, mas essa vontade tem sido “quase impossível” de concretizar.
“Sou médica, recebo bem, mas mesmo assim não dá para encontrar casa em Lisboa”, contou à Lusa a jovem, defendendo que a sociedade civil tem de ser ouvida e que as políticas têm de ser “menos benefícios fiscais para os estrangeiros e mais controlo do preço das rendas”, para que a habitação deixe de ser um mercado para ser, efetivamente, um direito.
O namorado desta jovem, Afonso Anjos, de 27 anos, partilhou as mesmas preocupações, referindo que vive também em Setúbal e trabalha em Lisboa e gasta, diariamente, duas horas e meia nos transportes públicos, porque o desejo de viver na capital “mesmo em casal é difícil” e “sozinho é impossível”.
“Não se consegue poupar. Vive-se para trabalhar”, reclamou este jovem, com um mestrado em engenharia, que ganha 1.000 euros por mês, com um contrato de trabalho precário.
Do bairro da Cova da Moura, na Amadora, distrito de Lisboa, Elisa Veiga, de 42 anos, acompanhada da filha de 7 anos, queixou-se do problema de acesso à habitação, contando que foi obrigada a sair da casa onde morada e não conseguiu arranjar alternativa, ficando obrigada a morar na casa da irmã.
“Costa, vivias com 700 euros brutos?”, lê-se no cartaz que Carla Isidoro, de 49 anos, levantou durante o protesto. Vinda de Oeiras, distrito de Lisboa, decidiu participar para se manifestar “contra a subida de preços”.
Carla Isidoro queixou-se dos “salários baixos em Portugal, de uma forma generalizada, em relação ao nível do custo de vida”, indicando que é trabalhadora independente e “quase 50%” do que ganha vai para impostos e Segurança Social, o que considerou ser “uma carga fiscal incomportável”.
“Se não comemos, não vivemos”, “Fartos de sobreviver, queremos viver” e “Aumenta tudo, menos os salários” foram algumas das reclamações que se tornaram visíveis nos cartazes erguidos durante o protesto.
Os manifestantes estiveram até cerca das 18:00 em frente à Assembleia da República, mas tiveram de sair a partir dessa hora para dar lugar ao protesto dos professores e trabalhadores não docentes, organizado pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop), que começou pelas 14:00 junto ao Palácio da Justiça.
O manifesto do movimento cívico Vida Justa, que se encontra em processo de recolha de assinaturas, alerta que “todos os dias os preços sobem, os despejos de casas aumentam e os salários dão para menos dias do mês”.
“As pessoas estão a escolher se vão aquecer as suas casas ou comer”, lê-se no documento, em que os subscritores exigem um programa de crise que “defenda quem trabalha”, que os preços da energia e dos produtos alimentares essenciais sejam tabelados, os juros dos empréstimos bancários congelados, os despejos proibidos, além de aumentos salariais acima da inflação e medidas para apoiar o comércio e pequenas empresas.