MIRA-SÃO.BENTO
Diana Wellington afirma que não faz sentido que uma cidade que alberga os grandes mestres da Favela Discos tenha pouca obra construída dos mesmos.
O Caos SRN propõe adaptar a implantação do “mira-clérigos” – restaurante bar assinado por Souto Moura sob iniciativa privada da empresa Time Out.Com este reforço de peso, reclamam um atestado de legitimidade depois da visão obtusa dos portuenses, que já há uns anos impediram a requalificação da Estação S. Bento. Perguntamos: porquê só um mira-clérigos quando podemos também ter um mira-são.bento, se esse outro pedaço de património está também à disposição?
O projecto implicará esvaziar o miolo da Torre para aí inserir os elevadores de acesso ao último piso, vendo-nos finalmente livres daquelas escadas intermináveis, e permitir o acesso a utentes com mobilidade reduzida. Já lá em cima, tomando partido da privilegiada vista panorâmica no local, os visitantes poderão desfrutar de um jantar gourmet ou de um copo de gin tónico enquanto assistem a mini-concertos de jazz.
Propômos com esta alteração ir um pouco mais longe nos vossos sonhos para o desenvolvimento urbano da cidade, assumindo com clareza e sem rodeios que o Porto que aqui ilustramos retrata aquilo para que vocês – poder político, parceiros sociais, entrepreneurs e vendedores de postais – parecem querer caminhar: uma cidade sem habitantes, um património não mais legado e a total prostituição daquilo que costumava ser verdadeiramente genuíno.
Nota: este artigo foi originalmente publicado em CAOS SRN, Divisão da Favela Discos dedicada ao estorvo do espaço e da cidade, tendo sido aqui reproduzida com a devida autorização.