‘Missing Link’: falta qualquer coisa a este Chet Faker tornado Nick Murphy
Durante cinco anos, Chet Faker fez as delícias do mundo com a sua música lounge e descontraída, um daqueles músicos com quem nos vemos a tomar uma cerveja com a sua música, perfeitamente adequada, a soar no fundo. O artista vagueia entre o downtempo, o R&B electrónico e a música ambiente prazerosa de se ouvir, temas de fundo numa qualquer festa de jovens adultos que passa para primeiro plano quando lhe damos a atenção que merece. É música leve, mas Chet Faker executa-o com classe. A sua carreira cresceu exponencialmente após a sua cover de “No Diggity” do grupo de R&B Blackstreet ter tido um sucesso estratosférico. Seguiu-se o EP Thinking in Textures, bem recebido pela crítica e aclamado pelos fãs, que se renderam a uma sonoridade relaxada e aprazível.
Depois de EP’s de colaboração com Flume e Marcus Marr (Lockjaw em 2013 e Work em 2015 respectivamente) e do seu primeiro álbum a solo Built Through Glass lançado em 2014, Chet Faker decidiu em 2016 abandonar o nome que ostentou durante esta parte da sua carreira e passou a lançar música em nome próprio. A primeira música a surgir foi “Fear Less”, com uma sonoridade diferente e mais aguerrida, um tema mexido com influências house. Mas “Stop Me (Stop You)” é que assegurou a chegada de um novo capítulo na carreira de Nick Murphy: tem uma primeira parte “barulhenta”, que contrasta o modus operandi de Chet Faker, mas a segunda parte relembra que o doce estilo relaxado de fazer música a que Nick já nos habituou fará sempre parte do percurso do músico. É uma música complexa, bem dividida e que alterna bem entre as duas secções “opostas” que a compõe.
Missing Link continua essa redescoberta de identidade musical em que Nick Murphy embarcou, mas ainda há espaço para Chet Faker neste novo EP. “Your Time” é familiar mas espelha novidade, e inicia o projecto através de sintetizadores “afogados” e “submersos” que se unem de maneira adequada à batida seca, com um refrão que deixa uma melodia silvante de frequência aguda a “rasgar” os tímpanos. Tudo é permitido nesta faixa co-produzida por KAYTRANADA em que Nick implora pela companhia de uma mulher que o arrebate, com uma voz assertiva que denota uma maior confiança e assertividade na sua entrega. Mas o interlúdio “Bye” que se segue afasta as comparações com a discografia que precedeu Missing Link. Começa “raspado” e acústico seguido de uma atmosfera que lembra strobelights e barulho dançável. É um bom suspiro musical, apesar do seu intuito não se perceber, tem um carácter introdutório mas não o é.
Nick Murphy soa mais visceral, a sua abordagem de veludo é abandonada em prol de uma produção mais “áspera”. Mas em grande parte do EP somos sujeitos a uma sonoridade genérica, básica, repetições e loops que não fazem jus à carreira do artista. “Forget About Me” começa verdadeiramente magnânimo, com um falsete perscrutante e um baixo imponente que imprime velocidade à música. Mas a música nunca justifica a sua duração e é facilmente esquecida. “Weak Education” tem uma vibe mais dançável, menos aborrecida que “Forget About Me” e com uma transição mais apelativa mas lembra uma de mil músicas house que fazem a ronda nas discotecas no Verão e que todos os anos são “mastigadas” cá para fora. O único factor interessante é o solo frenético no final da música que acompanha a batida.
Para os fãs de Chet Faker, Missing Link provavelmente não tem muito que se lhe diga. Mas os fãs da carreira do músico certamente encontrarão aqui alguma da sua qualidade na produção. “I’m Ready” é prova disso, parece soar mais grandioso que qualquer coisa que o produtor fez, soa muito menos contido que a sua discografia anterior. Mas Nick Murphy ainda se está a descobrir, ainda está a adaptar-se à sua “nova identidade”. O seu primeiro projecto desde a mudança de nome artístico reflecte vagamente uma preocupação em mostrar que a música que agora faz é mesmo sua, pessoal e intransmissível, mas ainda não desafia nem cativa como Nick já mostrou saber fazer.
Músicas preferidas: “Your Time” e “I’m Ready”
Músicas menos apelativas: “Forget About Me” e “Weak Education”