Na revista Electra 13: a comida, Adam Phillips, Clarice Lispector e Madame Grès

por Comunidade Cultura e Arte,    16 Julho, 2021
Na revista Electra 13: a comida, Adam Phillips, Clarice Lispector e Madame Grès
Capa da revista
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O dossier da edição 13 da revista Electra, é dedicado à Comida, numa época em que ela passou a ser moda universal, cultura e culto.  

“A alimentação, a comida, a cozinha, a culinária, a restauração, a gastronomia, a dietética, a enologia, as artes da mesa estão hoje presentes, como nunca haviam estado, em todo o lado: nas conversas, nas televisões, nos jornais e revistas, nas redes sociais, nos congressos e colóquios. Estão presentes nas universidades, nos museus, no comércio, na medicina, na literatura, nas artes plásticas, na publicidade. Estão presentes na ética, na ecologia, na religião, na história, na sociologia, na química, na biologia, na política, na economia, no direito, na mediologia, na linguística. Os alimentos recuperaram a sua função sagrada. Os restaurantes são lugares de culto. Os chefs e as suas cozinhas de autor são dos mais famosos ídolos do nosso tempo. As estrelas Michelin têm o prestígio dos títulos nobiliárquicos, das canonizações religiosas, dos prémios literários, dos óscares do cinema ou das taças do desporto”, lê-se no editorial da revista.

O tema é aqui abordado pelo historiador francês Patrick Rambourg, autor de uma Histoire de la Cuisine et de la Gastronomie Françaises, que descreve o nascimento do restaurante no século XIX e seu posterior desenvolvimento; o sociólogo brasileiro Carlos Alberto Dória que, entrevistado pela jornalista Alexandra Prado Coelho, fala de temas como o fenómeno da gastronomia elevada a condição de espectáculo pelos media, e a construção simbólica dos «pratos nacionais», determinada por factores históricos, culturais e ideológicos; Christopher Kissane, autor de Food, Religion and Communities in Early Modern Europe , que traça a história da alimentação, na Europa, e mostra como essa história se liga à sua história política; Lisa Abend, escritora e jornalista americana, que escreve regularmente para a revista Time sobre gastronomia, debruça-se sobre a figura do chef, tal como ela se foi construindo socialmente a partir dos anos 90 do século passado, até atingir a condição de celebridade; Alexandra Prado Coelho, jornalista especializada nas áreas da alimentação e da gastronomia, coloca a questão do critério moral na alimentação, e dos valores  que projectamos naquilo que comemos; Carolyn Steel, arquitecta e autora de importantes ensaios sobre a cidade e a comida, faz uma análise em torno do conceito de «sitopia», isto é, do mundo como lugar moldado pela alimentação e ainda o filósofo e historiador de cultura Thomas Macho, que pensa  o tema da alimentação a partir da obra cinematográfica de Pasolini.

Electra convidou a prestigiada Agência Magnum a colaborar neste dossier, através de seis dos seus fotógrafos, que, em vários lugares do mundo, criaram imagens originais sobre a alimentação e a comida: Alex Webb (Boston, EUA), Jacob Aue Sobol (Horslunde, Dinamarca), Cristina de Middel (Cidade do México (México), Gueorgui Pinkhassov (São Petersburgo e Moscovo, Rússia), Martin Parr (Bristol, Reino Unido),  e Lindokuhle Sobekwa (Joanesburgo e Thokoza, África do Sul).

Além do dossier dedicado à Comida, esta edição apresenta ainda outros temas de grande interesse.

Numa entrevista sobre a sua vida e obra, o reconhecido psicanalista e crítico literário britânico Adam Phillips fala da relação entre estas duas disciplinas.

É também apresentado um trabalho inédito da autoria do consagrado fotógrafo espanhol Alberto García-Alix, realizado a partir de uma residência artística feita no Museu do Prado, em Madrid.

No centenário do nascimento de Clarice Lispector, a Electra publica um ensaio que desvenda uma face pouco conhecida desta grande escritora brasileira de origem ucraniana: a da sua relação pouco evidente com a política. O autor deste trabalho é Ricardo Domeneck, poeta, artista visual e crítico brasileiro. Uma outra criadora tem também destaque nesta edição. Trata-se da estilista francesa Madame Grès, que deu um contributo fundamental  à alta-costura parisiense. A sua  vida e a sua obra são aqui abordadas por Anabela Becho, curadora e investigadora na área da moda. 

Em tempos de pandemia, a arquiteta e investigadora Daniela Arnaut, publica  um ensaio sobre a relação histórica entre o Hospital e a Cidade; o artista visual e escritor sueco Henning Lundkvist  faz uma estranha e surpreendente ligação entre duas cidades tão distantes e tão diferentes: Copenhaga e Cabul; e Nathalie Quintane Olivia Rosenthal, dois nomes destacados do campo literário e artístico, em França, fazem uma leitura de uma frase de Virginia Woolf que estabelece uma relação entre a condição da mulher e o acesso à «profissão» de escritor baseada em determinações materiais.

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