Netflix cancela a série “Dark Crystal: Age of Resistance” após ter ganho um Emmy
Infelizmente é oficial, a Netflix cancelou a aclamada série de fantasia de Jim Henson, “The Dark Crystal: Age of Resistance” (ler crítica), a prequela do filme Dark Crystal de 1982. Esta decisão está a gerar bastante controvérsia, tanto pelo enorme sucesso que a primeira temporada teve (aclamada pelos fãs e críticos), como pela pressão dos fãs, que se sentem enganados pelo gigante americano fundado em 1997.
O mais curioso nesta decisão é que chega um dia após a série ganhar um Emmy, o que só fomenta ainda maior frustração nos seus fãs. A primeira temporada, que estreou em Agosto de 2019 teve um sucesso muito maior que o esperado. Com uma escala de produção enorme, com mais de 150 bonecos, diversos cenários criados à mão e inúmeras marionetes, a série quis sempre respeitar a arte do seu criador que se tornou famoso graças ao uso de animação tradicional, algo que lhe permitiu atingir o topo da fama com os Marretas e os filmes Dark Crystal (1982) e Labyrinth (1986).
É verdade que a série foi a mais longa a produzir na Netflix, o que pode ter motivado desconfiança no produto. De qualquer modo, a Netflix soube de antemão quanto custaria a produção, quanto demoraria e o que poderiam lucrar com o seu lançamento. Se a produção da primeira temporada exigiu tanto trabalho, a da segunda ou terceira iria provavelmente exigir menor esforço, já que muitos dos bonecos já estão criados, assim como diversos cenários.
Embora utilize algum CGI, Dark Crystal aposta fortemente na animação tradicional, usando o CGI apenas para momentos/cenas que seriam demasiado complicadas de fazer com animação tradicional. No fundo é a combinação perfeita entre os dois tipos de animação, demonstrando ao mundo que é possível usar animação digital como complemento e não apenas como elemento principal.
A “desculpa” da Netflix é que os custos de produção são demasiados elevados e que o sucesso que gerou não foi suficiente para continuarem a apostar na série, embora todos os dados apontem para o contrário (relativamente ao sucesso). A ideia que passa para fora é que a Netflix está a tentar produzir tudo sem se preocupar com o futuro das suas produções, ou seja, pretende atrair todo o tipo de público para o seu serviço, mas não pretende agradar-lhes a longo prazo. É óbvio que neste caso existem inúmeros caminhos alternativos: Reduzir os episódios futuros; Cortar nalguns custos de produção; Transformar a série numa mini série de forma a terminar a história que ficou completamente pendurada no fim da primeira temporada.
O problema que isto gera é a incerteza para o espectador. Muitos começam a questionar-se se vale a pena começarem a ver séries que não fazem ideia se vão ser canceladas na primeira temporada. Uma coisa é uma série que começa logo a ser mal recebida, dá-nos imediatamente uma noção do futuro que poderá ter, agora uma que tem um enorme sucesso e mesmo assim é cancelada poderá abrir a porta a muitas incertezas.
Uma coisa é certa, na era do entretenimento digital, onde os serviços de streaming são quem manda, a Netflix age de forma claramente enganadora. Por um lado parece decidida a apostar em produções que nunca iriam ver a luz do dia de outra forma (porque têm dinheiro para investir), mas por outro desistem de inúmeras produções porque lhes convém mais ter quantidade do que qualidade. Esta continua a ser uma grande diferença para a HBO e principalmente em grande parte dos filmes que produzem, mas isso é conversa para outro artigo.