Norah Jones e Benjamim assinaram um final morno no EDP Cool Jazz
Para o último dia da 15.ª edição do EDP Cool Jazz, o festival recebeu um dos nomes maiores da fusão entre jazz e pop – Norah Jones. O seu amplo reconhecimento reflectiu-se na lotação esgotada do festival, prometendo fechar o certame com chave de ouro. Mas antes disso, coube ao português Benjamim entreter o público que ocupava os seus lugares no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. Apesar do forte alinhamento, a noite acabou por ficar aquém das expectativas.
Quando chegamos ao recinto, Benjamim e a sua banda davam início ao seu concerto com a intenção de agitar e enternecer o público. Uma amostra da faceta enternecedora veio logo na segunda canção, a minimalista “Volkswagen” – que evoca a travessia até Cascais no refrão, ao referir a famosa Marginal no contexto de uma história romântica -, ao som da qual o público oscilou lentamente, seguindo o ritmo arrastado. A pequena “O Sangue” é anunciada e escuta-se com atenção a sua esparsa melodia de guitarra, numa doçura que soou mais forte do que em álbum.
Na vertente mais agitada, ao vivo, as canções de Benjamim lembraram-nos dos War on Drugs, com os seus ritmos determinados e rápidos e guitarras que voam livremente sobre a batida com melodias orelhudas. Um bom exemplo é “Dança Com os Tubarões” – do álbum colaborativo que o artista lançou com Barnaby Keen, 1986. Infelizmente, após o impacto inicial, a canção acaba por perder o ímpeto pela forma como é esticada ao vivo. A vontade de Benjamim é entusiasmar o público, urgindo a que cante uma das suas canções com ele (“vá lá, mais uma vez, pela Norah Jones”), acompanhando a sua voz ríspida. As boas intenções estão lá, mas o recinto pareceu demasiado grande e desajustado ao espectáculo, que o encheu de som, mas não conseguiu chegar ao público como se queria.
A terminar o curto concerto, “Terra Firme” traz consigo uma toada mais política, numa canção dedicada aos refugiados, os seres humanos que atravessam mares em barcos, em busca de segurança e uma vida melhor, e que nós mandamos embora. A mensagem foi recebida com aplausos apaixonados e a canção termina o concerto em bom tom.
Por esta altura, o vento fustiga o público mais e mais, e o frio que se sente é ampliado pela disposição do público em quatro patamares de plateias sentadas, ladeado por uma massa de povo que ia agitando as pernas ao som da espera para se aquecer; há duas grandes clareiras nos lados da plateia VIP – mais próxima do palco – que nos confundem. A falta de proximidade, que já havíamos sentido no Parque Marechal Carmona, é aqui redobrada, de uma forma que sentimos ter-se reflectido na noite de concertos. Parece-nos que a imagem cool que o festival passa não coaduna com esta falta de descontracção e intimismo.
Entretanto, a atracção da noite entra em palco, sem grande pompa, fazendo-se acompanhar de um teclista, um contrabaixista e um baterista. Norah Jones ocupa o seu lugar ao piano, cativo ao longo de toda a noite, e começa o espectáculo com “My Heart is Full”, canção interventiva e de letra simples, mas que causa impressão. A toada calma mantém-se ao longo do início, com canções como “Nightingale” ou “Out on the Road” a dar mais destaque às melodias do seu piano e à sua inconfundível voz.
No entanto, torna-se logo notória a gritante falta de definição do som. As estranhas mixagem e colocação dos microfones resultaram num som que parecia vir de um sistema mono, pelo menos na lateral do palco. As camadas de instrumentos eram dificilmente distinguíveis e soavam artificiais, principalmente nas mudanças de tom. Conseguíamos ouvir o eco das palmas do público entre canções e algum feedback desinteressante, nomeadamente na faixa da bateria. Infelizmente, as canções mais lentas, como aquelas que marcaram a primeira metade do espectáculo, acabaram por perder com isso. Vendo-se despidas dos seus detalhes, soaram algo lineares e aborrecidas.
Apesar desta falha, o público continuava a aplaudir fortemente a artista e a respeitar grandemente a música, fazendo um impressionante silêncio sepulcral como já não ouvíamos há muito. Do outro lado, Norah ia agradecendo com uns “obrigada” doces e, o mais importante, deliciando o público com a sua voz. Não arriscou muito na entrega vocal, mas o seu timbre de veludo mantém-se imutável – como confirmámos na bela “Carry On”. Por sua vez, a banda encontrou o seu lugar de destaque nos ritmos mais gingões, havendo alturas em que o quarteto se assemelhava a uma espécie de conjunto de bar pejado de classe e com uma bela simbiose. A versão de “Don’t Go to Strangers”, de J. J. Cale, soou especialmente bem com o seu ritmo compassado e órgão brincalhão.
Os momentos de maior reconhecimento vieram com os singles de maior sucesso em Portugal, com telemóveis ao alto amiúde e vozes a acompanhar a cantora na sua missão. “Come Away With Me” foi fiel ao ritmo suave da versão de estúdio, mas com uma Norah de voz arrastada, tornando a canção ainda mais lânguida e relaxante. “Sunrise” sofreu uns ajustes ao vivo, que a enriqueceram; por outro lado, “Don’t Know Why”, guardada para o encore, perdeu um pouco numa tradução mais ácida e rítmica ao vivo – gostámos, mas a vontade de ouvir a original ficou latente. Fizeram-se umas despedidas rápidas e o vento frio empurrou rapidamente a audiência para as suas casas.
Chegou então ao fim mais uma edição do EDP Cool Jazz. A 15.ª edição ficou marcada pelo seu consistente cartaz e fantásticos concertos (BADBADNOTGOOD, Jessie Ware), pelo que este final morno deixou pena. Para o ano, contamos ver os resultados da aprendizagem desta edição e mais uma aposta em boa música.