Novo livro de Ricardo Araújo Pereira, ‘Estar Vivo Aleija’, chega às livrarias portuguesas
As Crónicas da Folha de S. Paulo mostram RAP como nunca o lemos antes.
Do elogio do silêncio à crítica ao império dos telemóveis e das redes sociais, passando pela defesa da liberdade de expressão e pela metafísica do pecado, estes textos tanto falam de Cristiano Ronaldo como de Kierkegaard, do Candy Crash como de Flaubert. Pelo caminho, desmonta-se o mito da auto-ajuda, discutem-se problemas de linguagem que só a RAP apoquentam, questionam-se intolerâncias alimentares contemporâneas e o intemporal complexo de Édipo, levantam-se questões prementes para os casais de hoje, como a escolha entre filhos ou ser feliz para sempre, e pergunta-se que papel desempenha no mundo a pessoa, a gente, o povo e a humanidade.
“Edith Piaf declarou famosamente que não se arrependia de nada. Que sorte. Eu sou o seu rigoroso inverso: arrependo-me de tudo. Isto que vou fazendo não é exactamente viver. É o rascunho de uma vida. Precisava de outra para passar tudo a limpo e comportar-me como deve ser. O meu epitáfio será, provalvelmente: ‘Aqui jaz Ricardo Araújo Pereira, com a mão na testa.’ É isso que vou fazer, parece-me, mesmo antes de morrer. Levar a mão à testa e dizer, desconsolado: ‘Ah. Então era assim que devia ter vivido.’ Devia ter feito muitas coisas que não fiz e não devia ter feito a maior parte das coisas que fiz. Os franceses têm uma expressão: L’esprit d’escalier, o espírito da escada. Serve para designar aquela resposta brilhante da qual a gente se lembra quando já é tarde demais. O orador abandona a tribuna e, no momento em que já vai a descer a escada, ocorre-lhe o que, de facto, deveria ter dito. Eu terei o espírito de escada aplicado à vida: o espírito da tumba. Suspeito que só saberei viver depois de ter vivido. Só terei espírito quando já foi um espírito.”
Ricardo Araújo Pereira é licenciado em Comunicação Social pela Universidade Católica e começou a sua carreira de jornalista no Jornal de Letras. É guionista desde 1998. Em 2003, com Miguel Góis, Zé Diogo Quintela e Tiago Dores, formou o grupo humorístico Gato Fedorento. Escreve semanalmente na Visão e na Folha de S. Paulo, e é um dos elementos do Governo Sombra (TSF/TVI24).
Com a Tinta-da-china, publicou quatro volumes de cónicas da “Boca do Inferno” (2007-2013), – um dos quais distinguido com o Grande Prémio de Crónica APE -, a complicação “Reaccionário com Dois Cês” (2017), duas colectâneas da “Mixórdia de Temáticas” (2012 e 2014), para além do ensaio “A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar: Uma espécie de manual de escrita humorística” (2016). Este último livro também publicado no Brasil (2017). Coordena a colecção de Literatura de Humor da Tinta-da-china. E é o sócio n.º 12049 do Sport Lisboa e Benfica.