O meu Natal vai ser vegan e não menos festivo
Este Natal não vou comer bacalhau. Tornei-me vegan e pouco me importa como o mundo me vê. E talvez o mundo também não se importe comigo. Há coisas mais pessoais do que aquilo que escolhemos comer, mas muito poucas decisões têm mais impacto na saúde do corpo e do planeta em que vivemos.
Mudei a minha dieta porque não consigo ignorar a quantidade de informação que fui e vou adquirindo sobre o impacto ambiental da produção de carne e lacticínios. As pegadas de carbono destas indústrias são maiores que o conjunto das emissões de todos os carros, comboios, navios e aviões.
A contínua aniquilação da vida selvagem – uma extinção em massa incipiente – é, também, impulsionada pela destruição de áreas selvagens para fins agrícolas e para criação e alimentação de gado. Como todos os seres vivos, tanto gado como plantações precisam de água, muita água. A lama consequente cria vastas zonas mortas em rios e oceanos e a fumaça alimenta a poluição aérea. O uso excessivo de antibióticos para engordar os animais impulsiona o surgimento de superbactérias. Tudo isto satisfez o meu apetite por mudança – é a maneira mais rápida de reduzir o meu impacto na Terra.
Mas há mais. Nos países ricos, as pessoas comem muito mais carne do que é saudável. Em Portugal, o grupo carnes/pescados/ovos é consumido abusivamente (este grupo devia representar 5% dos produtos consumidos, mas na verdade tem um peso três vezes superior, 15%). Mais de 3,5 milhões de pessoas comem mais de 100 gramas de carne por dia, o que faz soar todos os alarmes de prevenção de cancro de cólon. Mas, que fique claro, uma dieta única não serve para todos: nas partes mais pobres do mundo, mais carne e mais lacticínios seriam valiosos a um nível nutritivo.
Apesar de todas as provas científicas, ainda há um torcer do nariz quando alguém diz “reduzir o consumo de carne é algo positivo”. O estereótipo de vegan também não ajuda – a imagem de alguém julgar o outro por comer carne não é bonita. Mas isso são fundamentalismos. Eu sempre preferi, e continuo a preferir, em afirmar que tenho uma dieta à base de plantas, apesar de, confesso, ser um pouco ambíguo.
Se todas estas razões, e muitas outras, forem motivo de escolha, misturar e combinar é a chave – não existem ideias nem rótulos fixos. Se continuar a comer carne, e não reclamar, em algum momento futuro, dos impostos que venham a ser cobrados para assegurar os danos causados, é o juízo final, quem sou eu para dizer que não?
Comer carne é, e deve permanecer sempre, uma escolha pessoal. Mas aqueles que querem comer menos, ou nada até, devem ser encorajados e não castigados, muito menos pelos nossos líderes políticos. Será assim tão difícil de engolir isso?
Crónica de Laura van Raaij Menezes