O pós-guerra na cultura japonesa
6 e 9 de agosto de 1945. Datas nunca esquecidas pelo país que assiste ao nascimento do Sol. Na ponta final do conflito internacional mais devastador de todos os tempos, os Estados Unidos da América lançam todo o seu potencial nuclear nas cidades de Hiroshima (6) e Nagasaki (9). No total, ‘Little Boy’ e ‘Fat Man’ causaram à volta de 200 mil mortes e um espectro denso e tóxico nos seus arredores. Para além dos cogumelos que se formaram no ar, criaram-se também obstáculos para a recuperação da serenidade em terras asiáticas. Não obstante a ajuda externa, o Japão nunca esqueceu a catástrofe que se abateu no seu território.
No auge de uma corrida para o desenvolvimento de armamento nuclear, assistia-se a um Japão que tentava recompor-se perante tão nefasta capitulação. O medo continuou a perseguir os seus cidadãos, estes imbuídos num estado defensivo e de constante alerta perante as megalomanias expansionistas das potências do pós-guerra. Todo o receio acabou representado de uma forma relativamente poética e implícita pelos canais culturais de então, estes que desejavam transmitir uma mensagem de alento e de consternação perante a propensão explosiva e lesiva das voltas do mundo. Dois trabalhos cinematográficos saltam à tona nesta abordagem, sendo estes Gojira (1954) e Hiroshima Mon Amour (1959). O primeiro, do japonês Ishiro Honda, ficciona e cria um dinossauro gigante denominado Godzilla que espalha o caos no país dos samurais, tendo este sido gerado a partir do rastilho nuclear que sobrou do testes nucleares norte-americanos. Este monstro tornar-se-ia num dos mais populares à escala mundial e seria até cruzado com o ocidental King Kong. Já o segundo, com contornos mais românticos e perpétuos na memória do mais dedicado cinéfilo, contrasta um romance entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês com o contexto do pós-guerra do país asiático. Realizado por Alan Resnais e galardoado em Cannes, opõe duas perspetivas distintas sobre a guerra e as repercussões da mesma, sem nunca descartar a carga dramática advinda da insegurança da relação e da instabilidade da nação.
Deste clima de receio e de inquietação, surge um novo traço que começa a caraterizar o povo japonês: o pacifismo. Tratados geopolíticos foram assinados com o maior número possível de nações de forma a reunir as condições necessárias para a afirmação desta nação, para além da admissão nas Nações Unidas. A consciência viva das consequências do desenvolvimento de armas nucleares pesou sempre nas decisões políticas e sociais do país, mesmo no apogeu da sua explosão demográfica e galopante crescimento económico. Premissas como a aposta privada em tecnologia de ponta, o fomento de um programa sustentado para a educação e a abnegação profissional do individual em prol do coletivo foram cruciais neste novo rosto do Japão. Um país comprometido com a paz e com o valor dos seus, sem nunca descurar a inspiração da estrela solar na sua bandeira. Afinal, trata-se do país que o vê nascer e florescer para todos os restantes.