O que mudou na música nos últimos 10 anos e o que se pode esperar em 2020
2019 chega ao fim e encerra a década a chave de ouro. Falta-nos apenas relembrar-te do que aconteceu nos últimos dois anos. Num último artigo de retrospetiva, do que foi a música em 2018 e 2019, o Espalha-Factos mostra-te o que connosco fica, na transição para 2020.
A linha ténue entre pop e alternativa
Desde 2013 que esta tendência tem vindo a crescer. Começou com a repentina popularidade de bandas de rock alternativo, como é o caso dos Arctic Monkeys, que nesse ano lançaram o álbum A.M., do qual o single ‘Do I Wanna Know‘ rapidamente explodiu nas estações de rádio. Foi também em 2013 que nos foi revelada a existência de Lorde, que durante os primeiros anos da carreira não soubemos onde encaixar: na categoria pop, na categoria rock. E não nos esquecemos dos videojogos de Lana del Rey.
Mas foi a partir da segunda metade da década que este fenómeno de aglomeração da música alternativa e da música popular se fez sentir, quebrando o antagonismo esperado entre os dois estilos. Repentinamente, ser alternativo tornou-se no fixe (não que nos queixemos!).
Os novos artistas fora do espectro da música popular e comercial apresentam estilos de que raramente ouvimos falar, e cada um consegue marcá-los distintamente. Por exemplo, o renascer do bubblegum pop com a polémica Melanie Martinez ou a redefinição de indie pop dos Boy Pablo.
Em Portugal, damos conta do apreço pela música alternativa através dos festivais de Verão: com a recente popularidade do NOS Alive, que já faz frente ao Rock In Rio Lisboa, procuram-se agora outras fontes de entretenimento capazes de satisfazer os fãs do rock, do indie, da alternativa.
Estes festivais, que têm vindo gradualmente a conquistar mais público, concentram-se, para já, no Norte do país. São o caso do NOS Primavera Sound, realizado nos primeiros dias de junho, no Porto, e o Vodafone Paredes de Coura, realizado, tal como o nome diz, nessa vila do distrito de Viana do Castelo, em meados de agosto.
Destacámos 3 artistas que fazem a ponte entre os géneros: um masculino, uma feminina e um grupo.
Post Malone
Para quem viu, simplesmente, um novo rapper na cena pop quando o seu nome começou a aparecer nos charts, o álbum de 2018 de Austin Post foi uma surpresa. Para nós, Beerbongs & Bentleys foi uma lufada de ar fresco – e é esse o consenso geral. No dia de lançamento, já tinha quebrado o recorde de streamings no primeiro dia, no Spotify, e entrou diretamente no 1.º lugar do Billboard 200 (acabando o ano na 3.ª posição após Drake e Taylor Swift conquistarem permanentemente os dois primeiros lugares no chart de 2018).
Post Malone é um artista versátil, que inclusive já faz parte da lista de artistas polémicos a chegar a nomeações da categoria de rock, apesar da sua música ser maioritariamente popular. Segundo o mesmo, a sua música não tem género.
O músico começou e continua a aparecer através das suas colaborações com artistas conhecidos no meio: já no seu álbum de estreia, Stoney (2016) incluiu features de Justin Bieber, Kehlani ou ainda Quavo.
Com Hollywood’s Bleeding (2019) que, como o álbum do ano anterior, estreou em 1.º lugar do Billboard 200 (9.º ao final do ano), o músico centra-se na música pop sem nos retirar o sabor dos vários subgéneros juntos, descrito pelos críticos como um dos únicos artistas capazes de compreender como o fazer. O álbum foi o Álbum Favorito de Rap/Hip-Hop nos AMA de 2019.
Billie Eilish
2019 foi o ano das adolescentes femininas – se para o planeta temos uma Greta Thunberg, para a música temos uma Billie Eilish. O seu álbum, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, é o sólido número 1 da Billboard 200 ao final do ano.
Billie foi a Artista Revelação do Ano para os AMA, e foi elogiada por vários críticos difíceis de impressionar na indústria. Com apenas 15 anos, Billie já escrevia as suas músicas, produzindo-as com ajuda do irmão mais velho. Em 2016, ‘Ocean Eyes‘ já conquistara vários no SoundCloud, ainda antes de a podermos ouvir no YouTube, na rádio, ou quando bem quisermos.
Para o Espalha-Factos, em 2019, Billie Eilish tem o álbum internacional do ano, e explicamos-te porquê:
The 1975
Ainda que haja quem seja resistente, há que aceitar que os britânicos conseguiram, gradualmente, alterar o panorama da alternativa pop – da mesma forma que os Arctic Monkeys o fizeram na indie rock, e curiosamente, ambos os grupos com a ajuda de Mike Crossey na produção dos álbuns datados de 2013. Para The 1975, o álbum tem como título o próprio nome da banda. No Reino Unido, teve o seu debut em número 1 (UK Albums Chart).
Entretanto, os três álbuns de estúdio que se seguiriam marcam uma era de muitas palavras num só título: I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It (2016), A Brief Inquiry into Online Relationships (2018) e Notes on a Conditional Form, que se espera disponível em fevereiro de 2020.
No novo álbum, os britânicos deixam parcialmente de lado as conversas sobre sexo, drogas e amor, e focam-se… no mundo. Além do assustador ‘Human‘, já nos revelaram o primeiro track do álbum – tradicionalmente chamado de ‘The 1975‘, como nos álbuns anteriores também.
10 anos de música
De 2009 a 2019, agrupámos as mudanças por artigos diferenciados, de forma a valorizar o mais relevante em cada um dos anos. Podes revê-los aqui:
- Como se fez música nos últimos 10 anos? Começamos por 2009
- Como os VMA 2009 influenciaram a música em 2010
- Amy Winehouse e Adele, em direto de 2011
- A música no fim do mundo em 2012
- 2013, o ano das boybands
- O legado feminino na pop
- O legado masculino na pop
- Green Days e um pouco de pop punk
- 2017: triunfo da música portuguesa
Este é o décimo, e não podemos despedir-nos sem deixarmos que o leitor saiba um pouco do que aí vem:
O que esperar de 2020
Novos álbuns internacionais estão a caminho, e prometem agradar os fãs de vários géneros:
Para os fãs de alternativa, ainda no primeiro semestre esperamos ter nas nossas mãos o novo álbum de Tame Impala, após o lançamento de várias músicas a si pertencentes durante 2019: como ‘Borderline‘, ‘Patience‘ e ‘It Might Be Time‘. A mítica Grimes também já anunciou que o seu quinto álbum de estúdio, Miss Anthropocene, chega em fevereiro.
A estes juntam-se ainda os post-punks Idles, que já anunciaram ter Toneland a caminho. E por falar em punk, num expectro completamente oposto, Green Day também querem estar presentes em 2020 (temos receio do que daí vem).
Para os entusiastas da música pop, Selena Gomez dá-nos Rare daqui a uns dias. Dua Lipa está na lista dos álbuns mais aguardados da indústria, prevendo-se o seu segundo álbum de estúdio para este ano, mas sem data ainda anunciada – Future Nostalgia é o nome.
Para aqueles que estão entre estes dois, Halsey tem Manic pronto a revelar, já em janeiro. A estranha sensação da internet, Poppy, regressa também em janeiro – I Disagree é o nome do terceiro álbum de estúdio.
Para os fãs da pesada, as bandas de metal também já deram o seu parecer: Sepultura, Apocalyptica, Annihilator, Testament, Five Finger Death Punch e Suicide Silence têm trabalhos a caminho.
Em Portugal
Esperamos pelos concertos e novas edições dos festivais de verão. Em 2020, Portugal vai contar com a presença de nomes clássicos – como Guns n’ Roses, no Passeio Martímimo de Algés, a 2o de maio – e de nomes frescos, que nos farão dançar toda a noite – como Metronomy, no Coliseu de Lisboa, a 17 de março.
Vale a pena pensar logo no início do ano, em que a Madonna tem o Coliseu de Lisboa ocupado com concertos a 12, 14, 16, 18, 19, 21, 22 e 23 de janeiro.
E falando em divas, para as ex-fãs dos One Direction e novas fãs dedicadas do artista a sólo, Harry Styles está cá dia 20 de maio, para ocupar o Altice Arena durante essa noite. Os bilhetes estão quase a esgotar.
Este ano vamos chorar a ouvir Angel Olsen, em janeiro, no Capitólio (Lisboa) ou no Hard Club (Porto), e um mês mais tarde Big Thief, no Lisboa ao Vivo ou no Hard Club igualmente.
Podemos ainda chorar ao despedirmo-nos de Dead Combo, que anunciaram a sua separação há cerca de 3 meses (outubro). Vão andar por todo o país de janeiro a março.
Depois do NOS Primavera Sound em 2018, Nick Cave regressa a terras lusitanas a 19 de abril, no Altice Arena. Por falar nestes clássicos, os Swans também regressam, mas ao Porto, a 10 de maio.
Os Machine Head voltam a entreter os fãs nos Coliseus das duas grandes cidades, a 23 e 24 de abril. Os fãs de metal – ou de rock – deliciam-se novamente a 2 e 3 de julho, no Estádio Nacional, em Oeiras, com o VOA Heavy Rock Festival, cujo cartaz se tem vindo a compor agradavelmente.
Este ano temos também, no pacote de festivais, o Rock in Rio Lisboa (20-21 e 27-28 de junho), que tem levado as pessoas a ponderar se lhe darão as poupanças ou se as guardarão para o NOS Alive, de 8 a 11 de julho. A música celebra-se também no Super Bock Super Rock, de 16 a 18 de julho.
Antes disso, o NOS Primavera Sound acontece no Parque da Cidade do Porto, de 11 a 13 de junho. O cartaz será anunciado neste primeiro mês de 2020.
Em agosto temos Vodafone Paredes de Coura, de 19 a 22 de agosto. E o festival mais antigo de Portugal vive-se de 27 a 29 de agosto, cerca de uma semana depois, ainda mais a Norte: é o EDP Vilar de Mouros.
A 26 e 27 de junho, a música eletrónica celebra-se em Matosinhos, na Praia do Aterro Norte, na Galp Beach Party. A 5 e 6 de agosto, o MEO Sudoeste encarrega-se do cargo no Sul, em Zambujeira do Mar. A MEO dá também nome ao MEO Marés Vivas, festival da pop, em Canidelo (Gaia), de 17 a 19 de julho.
Texto é da autoria de Matilde Costa Alves e foi originalmente publicado no Espalha-Factos.