O ‘Semper Femina’ de Laura Marling
Nascida e estabelecida em Inglaterra, Laura Marling tem já seis álbuns de estúdio, todos eles verdadeiras afirmações no que toca à expressão da música folk atual. Dois anos após o seu último full lenght, a cantautora regressou este mês com “Semper Femina“.
Este é um álbum que eleva Marling enquanto autora, poeta; é uma carta de reconhecimento e valorização da mulher. Porque músicas folk não têm de ser só introspeções sobre amor ou perda, Marling estima a empatia feminina, através das relações interpessoais que relata nos seus versos.
Referenciando-se sempre ao seu sujeito de reflexão como “ela” e, através das letras de “Wild Fire“, “Always This Way“ ou “Nouel“, constata-se precisamente essa interpessoalidade, cujo vigor advém da irrelevância dada à intenção – nunca em todo o LP é desvendado se o sentimento é de romantismo ou amizade, havendo lugar para o fortalecimento da mulher enquanto multitude de estados. Estes temas sofrem contudo pela redutora reinvenção rítmica, caindo numa região espectável do espetro.
Por outro lado, o single “Soothing”, e primeiro tema do álbum, é talvez das suas maiores mais-valias. Além da abstração lírica, e do espaço para imaginação que dá ao ouvinte, é, sonicamente, uma nova face de Marling, sobretudo pela alternação orgânica dos inúmeros instrumentos presentes: a linha de baixo é contagiante, a bateria assertiva e os violinos no refrão conferem como que uma misticidade histórica ao tema; articulado com a abordagem vocal da cantautora, esta torna-se uma canção algo sugestiva até, tomando por tudo isto um lugar de destaque na sua carreira. Da mesma forma o faz “Don’t Pass Me By”, do qual é impossível dissociar os violinos portisheadianos ou uma voz que facilmente se trocaria pela de Cat Power.
Laura Marling deixa-nos assim no seu novo trabalho uma importante fonte de reflexão, ainda que esta se tornasse mais efetiva se houvesse uma maior aposta na instrumentalização, o que a cantora provou ser capaz de fazer nos dois temas previamente descritos.