O triunfo da música portuguesa com Richie Campbell e companhia na Altice Arena
Sabemos que o artista se encontra a trilhar o caminho certo, quando consegue que o público ignore atrasos e problemas técnicos e vá para casa feliz. Sem nenhuma cadeira por ocupar na Altice Arena, o concerto de Richie Campbell na noite de dia 27 começou “torto”, com problemas técnicos a nível de som, mas acabou por endireitar-se numa viagem no tempo que foi mais do que música.
Sentia-se a plateia fervilhar e os problemas técnicos ao longo do primeiro set não mudavam o clima na sala. Foi perante uma audiência já inquieta que pelas 21h25 nos despedimos do DJ SoGood e recebemos em palco Richie Campbell.
Ilumina-se um palco rodeado por três ecrãs gigantes onde vemos a rosa que ilustra a capa do novo álbum do artista. Tal como em “Heartbreak & Other Stories”, ouvimos em plano de fundo o tema introdutório do álbum, “Chapter V”, e somos apresentados a um coro de gospel que acompanha a música. A meio da Altice Arena ganhou luz um vitral e pudemos distinguir a obra do ilustrador Sepher AWK presente também no videoclipe do tema. Fomos então transportados para um lugar de prece, como se o artista pedisse acompanhamento divino para o que viria a ser um dos maiores concertos da sua carreira.
É então que surge Richie Campbell, que cumprimenta a audiência e lança-se aos temas “Star”, “The City is a Jungle” e “Midnight In Lisbon”. Admitimos ter sentido falta de Julinho KSD, mas sobrepunha-se o feeling de que o melhor ainda estaria por vir.
No primeiro momento de interação, o artista justifica o atraso com o que já todos sabiam: problemas de som. Mas já ali estava Richie, acompanhado pela 911 Band, a assegurar à plateia de que iriam viver uma viagem no tempo, passando por todos os hits que os fãs desejam ouvir, seguindo com “Hard to Get” e a muito celebrada “Love Again”.
Toda a noite foi pautada por momentos de agradecimento, não só à audiência, como aos seus pais e não esquecendo os colegas de profissão. Somos introduzidos ao primeiro convidado da noite, Kel-P, produtor que colaborou no mais recente projeto de Richie e que veio apresentar duas faixas em nome próprio: “True Love” e “One More Night”.
O alinhamento segue de vento em popa e em ritmo acelerado, quase como um medley, passando por hits inconfundíveis como: “Get With You”, “Best Friend” e “That’s How We Roll”.
A meio do concerto, sem nada a introduzir o momento, e aparentemente sem combinações prévias com Richie, houve um pedido de casamento entre duas pessoas da plateia, que subiram ao palco. Andreia ficou noiva e Richie fez questão de “agoirar” o noivado, protagonizando imediatamente a seguir um momento irónico e cómico com a música “Let You Go”.
Gson, Slow J e Mishlawi marcaram a noite com as respetivas interpretações de “Tsunami”, “Water” e “Rain”. Apesar de todos os títulos estarem intimamente ligados à temática da água, as apresentações não poderiam ter sido mais distintas, com todas a materializar sentimentos diferentes no espectador. Sentimos que a missão estava cumprida, que podíamos ir para casa felizes… mas mal sabíamos nós que as surpresas não ficavam por ali!
Surge uma mudança no set up do palco. Sentimos a criação de um ambiente intimista onde Richie partilha um sofá apenas com o guitarrista da 911 Band. Ouvimos “Blame It On Me” em versão acústica. Perante a qualidade e o grande número de convidados, seria de esperar que o resto do espetáculo fluísse de forma individual. Contudo, somos ainda apresentados a vários agenciados da Bridgetown Records, que dão a conhecer excertos dos seus temas mais celebrados. Lord XIV, Yuri nº 5, Plutónio e Dengaz já não são caras desconhecidas dos portugueses e como tal são calorosamente recebidos.
“Do You No Wrong” foi a música escolhida para encerrar o concerto com chave de ouro. O artista surge sentado num piano e brinca dizendo que fez um esforço para aprender a tocar um excerto da sua música para a poder interpretar perante toda a Altice Arena. A resposta a este esforço não podia ter sido mais positiva. Em uníssono e ainda com a energia mantida, o pavilhão acompanha palavra a palavra até ao derradeiro momento da despedida.
Experienciámos mais uma noite de triunfo da música portuguesa e não é difícil perceber que a receita para o sucesso é feita também pela união e colaboração entre artistas, produtores, colegas e amigos. Quanto a Richie Campbell – músico, produtor, entrepreneur – ansiamos para ver os seus próximos passos. Que novos ritmos irá explorar? A que colaborações iremos ter oportunidade de assistir? Que talentos nos trará de novo a Bridgetown? Uma coisa é certa, a julgar pela sala esgotada, os fãs continuarão atentos aos seus próximos passos e, por aqui, nós também.
Texto escrito por Daniela Martins.