O último voo dos Lynyrd Skynyrd
A 20 de Outubro de 1977, o avião que transportava os elementos da banda norte-americana Lynyrd Skynyrd, partiria numa viagem sem regresso, levando, assim, os sonhos de uma das bandas rock mais aclamadas dos anos 70, e que nos deixou um legado musical muito próprio e inspirador. O avião Convair 240 que partia de Greenville, na Carolina do Sul, para um concerto em Baton Rouge, no Louisiana, nunca chegaria ao seu destino, acabando por se despenhar em Gillsburg, Mississippi, levando três membros da banda, entre os quais o carismático líder e vocalista Ronnie Van Zant.
Ainda assim, e apesar dos restantes membros que sobreviveram terem, por pouco, escapado à morte, a catástrofe ditará o fim de uma das bandas mais emblemáticas dos anos 70 nos Estados Unidos. Dez anos depois do acidente, a banda renasceu pela mão de Johnny Van Zant, irmão mais novo de Ronnie, que recuperou os concertos memoráveis ao lado de novos trabalhos, mas que, infelizmente, nunca se igualaram à qualidade dos primeiros. Hoje, passados quarenta anos, o espírito da banda permanece, contagiando aqueles que, ainda hoje, procuram no rock algo mais profundo e que, estando mesmo no passado, nos transporta para um futuro musical mais rico e inspirador. Recordemos, então, um pouco da banda que percorria a estrada do sucesso, mas que, por ironia do destino, esse sucesso seria inevitavelmente interrompido.
A banda foi formada em meados dos anos 60 em Jacksonville, na Flórida, por um grupo de vizinhos que arrastariam, também, alguns colegas de escola para a formação de um conjunto musical: Ronnie Van Zant, que viria a ser vocalista e o principal elemento da banda, o baterista Robert Burns, os guitarristas Gary Rossington e Allen Collins, e ainda o baixista Larry Junstrom. O nome, apesar de ser aparentemente estranho, fora inspirado no nome do professor de educação física Leonard Skinner, alguém que era visto, por parte dos membros, como uma pessoa tirana, que não deixava os estudantes usar o cabelo comprido.
Foram vários os desacatos entre o professor e os membros da banda, de tal modo que mais tarde, ainda durante os seus percursos académicos na Robert E. Lee High School, houve uma reconciliação com o professor, que se tornara, também ele, um fã dos Lynyrd Skynyrd. Foi durante os anos 70 que a banda, que ainda se encontrava num percurso pura e simplesmente experimental, se tornara muito conhecida em Jacksonville, e mostrava-se capaz de progredir musicalmente, devido aos estilos de South Rock misturados com os blues, e registos mais pesados, que lhes começavam a dar uma identidade musical notória. A saída e entrada repentina de músicos permitia que a banda se conseguisse adaptar a diferentes géneros, criando, assim, um estilo muito próprio.
Daí que o seu primeiro álbum, cujo título faz referência ao modo correcto como o nome da banda deve ser pronunciado, fora lançado em 1973, contando com Ed King na guitarra Rítmica e já sem o membro fundador Larry Junstrom. (Pronounced ‘Lĕh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) foi um álbum de estreia estrondoso, tendo tido um sucesso tremendo, e estando, hoje ainda, na lista dos 500 melhores álbuns de rock de todos os tempos, segundo a revista Rolling Stone. Canções como Tuesday’s Gone, Gimme Three Steps, Simple Man ou ainda Mississipi Kid foram melodias que ficaram na história do rock universal e que ainda hoje dão vida à alma dos Lynyrd Skynyrd. Já para não falar de, claro está, Free Bird, a canção que exibe um dos mais ilustres e lendários solos de guitarra rock de sempre, sendo esta a canção mais emblemática da banda, na qual Allen Collins exibe as suas qualidades enquanto guitarrista solista.
Contudo, apesar do estoiro musical que o álbum teve, o sucesso dos Lynyrd Skynyrd não ficaria por aqui e. logo no ano seguinte, seria lançado Second Helping, o seu segundo álbum de estúdio que viria a ser, como o nome indica, uma segunda ajuda na ascensão ao sucesso da banda. A banda, que contava com mais um elemento, o baixista Leon Wilkeson, dava a conhecer ao mundo canções, como Sweet Home Alabama, que imortalizariam a banda, bem como também Needle and The Spoon ou Call Me The Breeze. Os Lynyrd Skynyrd começavam, assim, a mostrar que o seu sucesso tinha tudo para durar, com os seus álbuns a começar a chegar a posições consideráveis na tabela de vendas de discos, e os seus concertos a gerar plateias cada vez maiores.
Seguir-se-iam ainda Nuthin’ Fancy, em 1975, Gimme Back My Bullets em 1976, e Sweet Survivors em 1977, álbuns que, apesar de não terem tido um estrondo com os dois primeiros, conseguiram dar projeção suficiente à banda floridiana, que assim lançava um álbum a cada ano. Durante a tournée de 1975, Ed King abandonaria a banda, e seria substituído por Steve Gains, assim como Bob Burns, que também sairia da banda um ano antes, em 1974. Apesar de entradas e saídas constantes de membros, os Lynyrd Skynyrd continuavam a sua caminhada pela estrada do sucesso a todo o vapor.
No entanto, por ironia do destino, três dias após o lançamento daquele era o álbum mais recente, o avião que levava a banda para um concerto no Louisiana sofrera uma falha nos motores, obrigando a que este baixasse a sua altitude. Não foi possível reverter a situação, e o avião despenhara-se numa área florestal a cerca de 10 quilómetros do estado do Mississippi. Dos tripulantes, Ronnie Van Zant e Steven Gaines foram dois dos membros que não saíram ilesos ao acidente, acabando por perder a vida, juntamente com Cassie Gaines, irmã de Steven, o piloto, o co-piloto e ainda o manager da banda. Sobreviveram, assim, Allen Collins, Gary Rossington, e o teclista Billy Powell, que ficaram com ferimentos graves, e com os momentos do horror vivido durante as horas da tragédia na memória. A banda ficaria desfeita. Os Lynyrd Skynyrd, sem os principais elementos da banda, nunca mais voltariam a ser os mesmos, ainda para mais sem o carismático líder Ronny Van Zant.
Em 1987, Johnny, o irmão mais novo de Ronnie Van Zant, conseguiria reerguer a banda chamando alguns dos sobreviventes da tragédia de 1977, juntando outros músicos, que entretanto conhecera, com o intuito de trazer de volta os concertos memoráveis daquela que era a banda liderada pelo seu irmão. Para além de trazer de novo aos palcos os músicos que sobreviveram ao acidente, Johnny Van Zant conseguiu, ainda assim, adicionar alguns músicos estreantes do seu conhecimento. Sob o seu comando, os Lynyrd Skynyrd procuraram manter-se fieis ao seu estilo inicial lançando até hoje outros nove álbuns de originais: Lynyrd Skynyrd 1991 (1991), The Last Rebel (1993), Endangered Species (1994), Twenty (1997), Edge of Forever (1999), Christmas Time Again (2000), Vicious Cycle (2003), God & Guns (2009) e Last of a Dyin’ Breed (2012). Apesar do esforço, e da procura de novos caminhos, nenhum destes álbuns conseguiu chegar ao sucesso daqueles cinco que foram lançados entre 1973 e 1977, ficando a banda algo assombrada pelos seus gloriosos primeiros anos a nível de trabalhos originais.
Contando com 50 anos de história, e com um hiato de dez anos impingido por uma tragédia, os Lynyrd Skynyrd são, ainda hoje, considerados uma das mais icónicas bandas rock do século XX. Foram mais de trinta os músicos que passaram pela banda, e que gravaram os catorze álbuns até hoje lançados, desde o líder Ronny, que não sobrevivera ao desastre, passando pelos sobreviventes, e terminando nos músicos que ainda hoje procuram segurar o historial musical. Hoje, já sem também o lendário Allen Collin,s que falecera em 1990, e contando apenas com um membro da formação inicial, Gary Rossington, o sonho de Ronny, que fora reerguido pelo irmão Johnny, continua hoje a encantar os ouvidos de muitos, apesar de uma maneira mais contida do que aquilo que foi vivido nos concertos e nas tours loucas dos anos 70. O espírito dos Lynyrd Skynyrd continua a inspirar artistas, e as suas canções permanecerão eternas na história do rock, rock esse que não seria o mesmo sem o contributo dos talentosos músicos que passaram pela banda, e que, desta feita, deram um contributo maior à música que hoje conhecemos.