Orson Welles vai finalmente renascer no Festival Veneza com “The Other Side of the Wind”
Finalmente, o opus de Orson Welles, The Other Side of the Wind (em Portugal receberá o título O Outro Lado do Vento), verá as luzes dos projectores de cinema, na sua estreia mundial no 75.º Festival de Veneza (que decorre de 29 de Agosto a 8 de Setembro), 40 anos depois de ter terminado a sua rodagem. E antes de passar a estar na plataforma de streaming online Netflix, detentora dos seus direitos.
Desde logo, o que se poderá dizer é que esta é uma cartada ganha por Alberto Barbera, diretor da Biennale di Venezia, e do presidente do festival Paolo Baratta, que abriram os braços de contentamento após os desentendimentos entre a Netflix e o festival de Cannes para a sua exibição.
Para além de O Outro lado do Vento, o festival passará ainda They’ll Love Me When I’m Dead, igualmente numa secção fora de competição, um documentário ‘companheiro’, igualmente distribuído pela Netflix, assinado pelo documentarista Morgan Neville.
“The Other Side of the Wind” é o tal filme inacabado de Orson Welles, escrito com a companheira Oka Kodar, e parceira do ‘filme golpada’ F, for Fake (1973), combinando excertos em 16mm e 35mm, bem como película a cor e preto e branco.
Mesmo sem termos visto ainda O Outro Lado do Vento percebem-se essas nuances, com a comemoração do 70.º aniversário de um realizador independente, interpretado por John Huston, e o seu regresso ao activo com um novo filme. Veremos também outros cineastas (entre eles Peter Bogdanovich), bem como penetras e críticos de cinema.
“O Outro Lado do Vento” seria concluído também graças à participação activa de Bogdanovich, contratado por Welles para finalizar o projecto, aqui também na capacidade de produtor executivo, além da produção entregue a Filip Jan Rymsza, envolvido durante anos com os direitos, e ainda Frank Marshall, o produtor inicial de Welles.
A produção final conta ainda com o trabalho Bob Murawski (The Hurt Locker) e da mistura de som de Scott Millan (Apollo 13), para além da banda sonora de Michel Legrand, igualmente o compositor de For For Fake.
De resto, todo este percurso é seguido em They’ll Love Me When I’m Dead, já que o documentário de Morgan Neville acompanha todo o final de carreira de Orson Welles. Era precisamente com O Outro Lado do Vento que o autor de Citizen Kane, para muitos um dos melhores filmes americanos de sempre, programaria o seu regresso ao activo.
Assim se acompanham os longos anos em que tentou finalizá-lo, avançando apenas quando tinha dinheiro, entre pequenas participações e serviços comerciais. Até que todo este processo seria interrompido com a sua morte em 1985 e o filme perdido em cofres durante décadas.
São essas imagens nunca vistas e as entrevistas com a sua equipa, bem como outros elementos próprios do estilo de Welles, que agora todos desejamos absorver. É com toda a justeza que recordamos o nome de Orson Welles como um dos grandes cineastas americanos de sempre. No entanto, é igualmente verdade que depois da proeza de fazer Citizen Kane (1941), aos 24 anos, Welles passou o resto da sua vida a debater-se com a falta de liberdade para concluir muitas das suas obras.
.Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt