Os Cigarettes After Sex aqueceram a noite (e a alma) fria do Porto

por Lucas Brandão,    27 Novembro, 2017
Os Cigarettes After Sex aqueceram a noite (e a alma) fria do Porto
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Domingo, 26 de novembro, Hard Club. Os Cigarettes After Sex marcaram a sua segunda presença na cidade do Porto no ano de 2017, após uma bem conseguida ocasião no primeiro dia do NOS Primavera Sound. No mês de novembro, e com a cidade Invicta a necessitar de um conforto com o frio que faz, o grupo fez uma incursão a esta, depois de também atuar, na véspera, no Vodafone Mexefest. Porém, todo este evento, bem perto da Ribeira portuense, foi organizado especificamente para que a saudade se dissipasse, durante uma hora, com a atuação da banda texana.

Diretamente de Lisboa, subiram Greg Gonzalez, vocalista e guitarrista, Phillip Tubbs, teclista, o baixista Randall Miller e o baterista Jacob Tomsky. O quarteto começou a deliciar o numeroso contingente humano, que preenchia a Sala 1 do Hard Club, perto das 22 horas, e foi logo com uma das mais notáveis do amplo repertório da banda, com “Sunsetz” a, paradoxalmente, fazer nascer o Sol caloroso que se fazia erguer lá. O mote para que o manto de um conforto familiar, que se tornou transversal durante aquilo que se prolongou pela hora seguinte, se tornasse na principal peça de vestuário daqueles que se agasalharam do frio do exterior do espaço. Porém, foi esse traçado de calor, envolvido entre os habituais telemóveis e os cigarros que a banda transporta no seu nome, que dominou a esfera de um concerto que deu para desdobrar grande parte do repertório.

A seguir à inicial, “Starry Eyes” tornou-se numa das intercalares canções entoadas pelos instrumentos da banda e pela voz de Gonzalez,  à qual se sucedeu a sensível “I’m a Firefighter“. O amor foi crescendo no seu elã, pontificando nos casais que se reuniam na audiência, e partilhavam carícias ternurentas ao som do lirismo compassado e suavizado do grupo. Na saudação do vocalista ao público portuense, concedeu-lhes, logo depois, “John Wayne“, do recente álbum da banda, lançado no passado mês de junho. Logo de seguida, a banda não vacilou, e protagonizou a interpretação de “K“, uma das mais badaladas deste trabalho discográfico, que viu parte do público acompanhar as pisadas deixadas pela letra. Os instrumentais, articulados entre os quatro membros, deliciavam todos aqueles que acompanhavam, com o suporte das complementares luzes do palco, o perfume sonoro que se propagou por este espaço ribeirinho da cidade Invicta.

Outra das que granjeou mais comoção no público foi “Keep on Loving You“, célebre cover dos REO Speedwagon, assim como “Sweet“, que perpetuou as fragrâncias de uma paz adocicada, condimentada com melodias de proa numa embarcação de sonhos e de ambições, numa catarse do frio que ficava para trás, para lá dos limites do Hard Club. Um dos instrumentais mais metódicos chegava dos acordes da música “Opera House“, que ecoa o etéreo que esta banda texana consegue transmitir nas criações até ao momento; mas que rapidamente entregou o protagonismo a “Affection“, uma das mais notabilizadas canções, que seria das primeiras a chegar ao público nos primeiros passos da banda, assim como a “Each Time You Fall in Love“, marcada por um dos refrões identitários do slowcore produzido pelo quarteto.

Esta toada mais enegrecida aumentou com “Nothing’s Gonna Hurt You Baby“, também esta bastante aclamada, à imagem do que se havia sucedido com “Affection”. A densidade inerente à música quase impedia o público de a cantar, por ver o sentimento inerente à referência musical se transcender àquilo que era a vontade de acompanhar o vocalista na sua desenvoltura. O remate perfeito seria conferido por “Apocalypse“, esta mais convidativa a que fosse entoada, e que se seguisse na consumação de um desejo apocalíptico, mas que não deixa de desencadear uma fonte de prazer efusiva, e, por conseguinte, reunir condições para a felicidade ensejada.

No entanto, isto seria seguido de um encore amplamente sentido, em que Gonzalez e o teclista Phillip Tubbs retornaram ao palco para uma interpretação acústica, à boleia de uma carga sentimental e sensorial imensa, de”Please Don’t Cry“. A despedida soava a próxima, a real, e seria, enfim, confirmada com “Young & Dumb“, música que perdoava o sofrimento nutrido ao os ver partir, de novo, da cidade Invicta. Uma cidade que, por mais invencível que a sua adjetivação indique, se deixou render ao som dos Cigarettes After Sex, que tiveram o condão de fazer descer esta cidade da região Norte da sua habitual frieza climatérica. Após o êxito da Primavera, foi remédio santo para o frio que havia tomado o Porto, que saiu de corpo e alma aquecidos pela ternura subtil deste grupo texano. Condimentos de um ambiente de uma certa introspeção em expressão, de um amor prometido e concedido, contagiado e preservado para dentro e para o mundo.

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