‘Pára-me de Repente o Pensamento’ é um documentário de pessoas para pessoas

por João Estróia Vieira,    14 Maio, 2016
‘Pára-me de Repente o Pensamento’ é um documentário de pessoas para pessoas

Não é hábito, nós, comuns mas apaixonados cinéfilos, irmos ao cinema para ver um documentário, muito por causa das grandes superfícies às quais temos acesso mais facilitado optarem por filmes que, maioritariamente, vêm das grandes produtoras e estúdios de Hollywood e geralmente isso é sinónimo de blockbuster, não de documentários, sobretudo se forem portugueses. Mas fizemo-lo, e fomos ao Cinema City de Alvalade para uma das nossas maiores experiências cinematográficas, nós e as três outras pessoas que se encontravam na sala naquela altura. Sim, éramos só 4 numa comum sala de cinema. Um situação um pouco comum, infelizmente, quando se tratam de filmes portugueses “não comerciais”.

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No entanto, em boa hora o fizemos, em boa hora decidimos ir, por todas as razões. Podemos dizer com toda a segurança que este é um filme que nos vai acompanhar para o resto da vida: o último documentário de Jorge Pelicano, “Pára-me de repente o pensamento”, grande vencedor da XX Edição do Festival Caminhos do Cinema Português juntamente com o prémio de Melhor Realizador, em 2014. O título do filme é de um poema do também pintor Ângelo de Lima que fez parte da revista Orpheu e que foi também paciente esquizofrénico no mesmo local de rodagem deste documentário, o Centro Hospitalar Conde de Ferreira no Porto. “Pára-me de repente o pensamento” é um retrato em movimento, íntimo, pessoal e que nos dá a possibilidade de andar lado a lado com os pacientes daquela unidade hospitalar pelos antros mais escuros da doença.

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A nossa mensagem é simples: vejam este lindo documentário, real, próximo, onde doentes esquizofrénicos nos abrem a porta e nos acolhem de coração cheio. Onde nos dão relatos que balançam num limiar entre o bom humor, o perfeito raciocínio, a lucidez e o lado negro da doença, a queda, o abismo, o lado comovente.
Entre momentos deliciosos com o dócil Alberto, o ser humano mais puro e de gargalhada mais contagiante que já ouvimos. O brilhante e inteligentíssimo senhor Abreu ou o casal mais apaixonado à face da Terra, Rosa e Joaquim, que se conheceram dentro destas paredes que em nada lhes limita a felicidade. As confissões, os cigarros partilhados, a imersão neste mundo que é só deles mas cujas portas nos são aqui abertas. Um documentário de pessoas para pessoas.
Mais do que falar do filme, ele merece ser visto. Uma das mais belas e comoventes obras que passaram pelos nossos cinemas nos últimos tempos, e que bom é o sentimento de podermos dizer isto de uma obra portuguesa.

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