Porque é que amamos tanto o rock?
O rock. Aquele estilo musical que nos mete aos pulos, que nos causa arrepios, que nos faz vibrar, que aumenta o nosso ritmo cardíaco e que enche os nossos dias de cor. Será então por isso que gostamos tanto dele? Ou haverá uma explicação mais profunda e filosófica que possa explicar tais efeitos? Estas são questões sem resposta imediata porque nos levam a reflectir um pouco sobre a nossa cultura musical que, apesar de ser constituída por uma série de outros estilos musicais, acaba sempre por ser bastante influenciada por este. A música rock é uma das nossas grandes paixões, mas poucos sabem explicar o porquê. Trata-se de algo intrínseco que parece que vem logo agarrado a nós desde que nascemos e que tende a aumentar de tamanho, incorporando novas formas à medida que os anos passam. Ninguém sabe como surge tal interesse que acaba por ser uma paixão que facilmente se torna num amor constante sem fim. Ouvimos algo e procuramos sempre mais músicas rock novas para além daquelas que já conhecemos. Provavelmente tudo começa quando ainda em crianças ou na juventude começamos por ouvir subitamente na rádio por mero acaso ou somos incentivados pelos nossos pais ou familiares mais velhos, também eles apreciadores, ou então pelos nossos amigos de escola que nos mostram algum rock que também tenha passado por eles. Este é quase um testemunho que vai passando de geração em geração, de pessoa para pessoa, criando assim novos estilos e géneros nunca antes experimentados. Provavelmente o maior poder que a música rock tem é mesmo este, o poder de conseguir conjugar gerações distintas e até pessoas de diferentes classes, culturas ou religiões.
A música rock em si tem uma série de poderes visíveis sobre nós. Só o dedilhar de uma guitarra eléctrica faz com que tenhamos um dia mais alegre enquanto vamos para o trabalho, faz com que haja algo mais caloroso dentro nós, estimulando assim uma boa disposição contagiante. Claro que o rock também consegue libertar um lado mais animalesco que há em cada um de nós, fazendo uma dissecação aos sentimentos negativos, até mesmos quando temos um dia mau ou tenhamos passado por um mau bocado. A verdade é que ficamos sempre a pensar no mesmo cada vez que ouvimos uma bela melodia rock: “Aquele riff inicial de guitarra causa-me arrepios” ou “O compasso daquele baixo é fascinante”, ou ainda “O ritmo violento daquela bateria faz com que consiga abstrair-me de muita coisa”. Conseguimos sempre arranjar adjectivação para descrever as emoções que a música rock nos proporciona, tais como arrepios, prazeres duradouros ou sensações delirantes. O rock continua a crescer e tem um histórico enormíssimo: desde as suas origens no blues, na música country, no jazz e noutros tantos estilos musicais onde pioneiros como Elvis Presley ou Chuck Berry começavam a dar cartas, passando pelos diversos estilos e modificações sofridas ao longo de mais de seis décadas, até chegar ao nosso vizinho de 14 anos que depois de regressar das aulas permanece o resto da tarde no seu quarto a tocar a sua guitarra eléctrica, produzindo o mais ensurdecedor dos ruídos. A verdade é que foi com esse ruído inicial que grande parte dos músicos rock que hoje conhecemos começaram a sua carreira. Foi com experiências bastante preliminares que deram os primeiros passos e que assim progrediram até conseguirem chegar àquele patamar que é vulgarmente designado por estatuto de “estrela do rock”.
No fundo pode-se considerar que o rock funciona como uma ciência ou um engenho, como se fosse até uma fábrica. E de facto é mesmo pois o rock é também uma indústria potentíssima. Tudo começa nos laboratórios musicais numa garagem ou numa casa, passando pelos estúdios onde a produção musical se eleva para uma escala maior. Depois surge um impulso para os discos e para os concertos, saindo-se do laboratório para uma escala industrial. Todo este processo de se fazer bom rock é algo complexo, só sabe e só sente e quem o faz, só entende e sente os desafios quem o explora. Mas quando esse processo atinge os objectivos faz com que aqueles que o vêem a ser feito fiquem boquiabertos e deslumbrados com o resultado final. E claro está, acima de tudo, o rock é provavelmente o estilo musical que mais une as pessoas, e cada vez mais une diferentes gerações. É possível um pai ou um avô gostar do rock dos Foo Fighters ou dos Queen of The Stone Age como é possível um filho ou um neto gostar do rock do Jimi Hendrix ou dos Led Zeppelin. Nos concertos encontramos cada vez mais gerações distintas, nomeadamente pais que vão com os filhos, para além dos grupos de amigos que podem ascender às dezenas, dos casais de namorados que procuram conhecer um pouco mais do rock que o seu parceiro gosta, e ainda aventureiros que vão sozinhos em busca de outros aventureiros que sejam loucos por este estilo musical. Os espetáculos são vividos de maneira sentida e emocional: rimos, gritamos, saltamos, abraçamo-nos, choramos, cantamos, sentimos tudo como se fosse um momento único nas nossas vidas. Amamos o rock porque para além de ser feito para ser dançado e cantado, vivido e convivido, foi acima de tudo feito para ser amado.
O rock é isto. Não se consegue explicar, apenas se consegue sentir. Não se consegue entender, apenas se consegue saborear. Do mais melancólico e pausado até ao mais excêntrico e agressivo, foi feito para nós com todo o amor e carinho. Amamos o rock porque ele é assim, entrega-se a nós de uma maneira tão espontânea e natural como se nada fosse. É inocente. É simples. É puro. É romântico. É humano e faz de nós mais humanos ainda. Mantém o nosso espírito bem vivo e enaltece o melhor que há dentro de nós. É verdade que a vida no planeta já existia muito antes do rock ter sido inventado. Mas o espírito e a vertente poética no ser humano seriam muito mais diminutas se o rock nunca tivesse existido. E essas são as condições necessárias para que a verdadeira essência da alma humana nunca morra.