Qual é o preço da informação?
Quanto estamos dispostos a pagar por uma notícia ou informação? Quanto estamos dispostos a pagar para não nos isolarmos numa bolha, uma realidade – entre tantas outras – que por sinal é o nosso quotidiano?
Em termos filosóficos, a informação deveria ser gratuita e universal. Porém, o problema que se coloca, principalmente nos dias de hoje, é que nem toda a informação que nos chega às mãos é factual ou verdadeira. Com os inúmeros meios de comunicação que dispomos hoje, desde os clássicos (jornais, rádio, televisão) até aos mais modernos (blogs, websites, etc.), é impossível existir um juiz omnipresente que filtre todas as notícias. Assim, de uma perspectiva optimista, porém mais realista, a melhor forma de garantirmos que o que lemos é realmente verdadeiro passa por pagar essa mesma informação. Não é uma contradição, mas um conceito que neste momento não conseguimos colocar em prática, ou pelo menos aparenta ser de imensa dificuldade. Por outras palavras, é pelo equilíbrio entre a Imprensa com cada vez mais notícias (e maior veracidade) e o leitor querer ler essa mesma informação com qualidade, que devemos lutar. Infelizmente essa luta tornou-se o mote de activistas individuais e não da sociedade em geral.
Como cidadãos que somos, vemo-nos abrangidos pela obrigação ético-moral de apoiar a Imprensa. É através deste apoio, e tanto da valorização da informação como de quem a transmite, que se luta pelos valores da tão amada Democracia. Os meios de comunicação são o elo de ligação, para o bem e para o mal, entre o poder político e a sociedade. Obviamente, este instrumento poder ser utilizado para fins negativos, como para benefício próprio, sendo exactamente por isso que vale a pena lutar pela democracia, pois nada é garantido e a luta é intemporal. A liberdade dos meios de comunicação é tanto maior, quanto menor for a dependência de interesses políticos ou financeiros. Esse é o papel da sociedade, mesmo que ela não o pretenda. O ser humano, com tantos defeitos que se lhe associa, é hipócrita e racional de formas muitas vezes contraditórias. Associa à gratuidade uma qualidade de valor. Por outras palavras, acha que se uma informação for gratuita, então necessariamente é melhor para o leitor, como se fosse aquele desconto especial e momentâneo que temos, de uma perspectiva capitalista, necessariamente de aproveitar. O leitor não olha para as repercussões desta ideologia. Não se questiona de que forma é que esses mesmos meios de comunicação, que publicam essas informações, conseguem sobreviver. Da mesma forma, este sentido acrítico é praticado quando fazemos o download gratuito de um filme na internet.
No documentário “Noutro País”, de Sérgio Tréfaut, a relevância da comunicação social na sociedade é realçada, mesmo que indirectamente. Vemos uma senhora idosa que vivia numa aldeia do antigo Alentejo, por isso distante de qualquer centro urbano, explicando que só passados vários meses é que teve conhecimento de um dos maiores e mais importantes momentos de Portugal, no século XX: o 25 de Abril. A senhora vivia num mundo à parte, numa perfeita bolha onde o contacto humano era limitado. Este não é o mundo onde eu quero viver. Não quero estar limitado pelo que absorvo através dos meus sentidos. Se for assim, sou só mais um numa ilha, a ilha das nossas vidas num mundo muito pequenino.
Da mesma forma que a política sem pessoas não existe, a Imprensa também não, muito menos a democracia. São precisas pessoas para lerem e para serem críticas: tanto de si próprias, como das informações que lhes chegam às mãos. É pelo equilíbrio entre uma desconfiança saudável e um interesse genuíno que devemos lutar. Uma luta claramente difícil num mundo capitalista, individualista e muito assente numa ideologia de valorização do momentâneo: o facilitismo.