Reportagem. Uma viagem ao coração das cerejas do Fundão
O Jornal Fórum Covilhã foi conhecer o Catrão, uma das propriedades que compõem aquele que é o maior cerejal de Portugal. A Quinta das Rasas produz Cerejas do Fundão únicas e elogiadas por todo o mundo. Este ano a aposta nas vendas online marca o presente e o futuro da empresa, com aumentos significativos.
Na freguesia de Vale Prazeres e Mata da Rainha, no Fundão, está uma das maiores propriedades produtoras de Cereja do Fundão de todo o país. A Quinta das Rasas, no Ferro, é o maior cerejal em Portugal e tem já esta propriedade de apoio à produção, de elevadas dimensões. E é aqui nestas duas propriedades que se vive e respira a Cereja do Fundão. O Jornal Fórum Covilhã foi então conhecer onde mora e reside o coração deste produto que é um ex-libris não só concelhio e da região, mas também nacional, fazendo-se valer em todo o mundo.
A conversa vai fluída, é sempre um prazer falar neste produto e ir provando também porque é difícil ver sem provar, às vezes até mesmo sem se reparar já está a acontecer. Conta-nos a administração que o “negócio está a ter novamente um ano positivo”, mesmo com todas as condicionantes e problemas climatéricos. É verdade que as chuvas tardias de Maio vieram prejudicar e muito o desenvolvimento do fruto nas árvores exteriores e expostas diretamente às condições climatéricas, mas a propriedade desde tem cobertura em parte das propriedades, fazendo com que as árvores fiquem mais protegidas e com que tenham sido menos afetadas pela chuva, o que faz com que nessas árvores cobertas a quebra não tenha existido e o fruto esteja a produzir como sempre. “A decisão de em Fevereiro colocar estas proteções acabou por revelar-se decisiva para ter este fruto de qualidade na mesma quantidade nestas árvores abrangidas por essa proteção”. Percorremos a propriedade e verificamos isso mesmo… De um lado, as árvores sem proteção têm menos do que outros anos, embora ainda assim tenham bastante para o que fora previsto, e do outro lado as debaixo das coberturas com cerejas vistosas e de abrir o apetite a qualquer um. A apanha claro que sofreu algumas alterações, já que foi necessário ter menos gente a realizar a apanha este ano, para assegurar que estão cumpridas todas as normas de segurança sanitária no trabalho, algo que tem sido assegurado em todas as fases de produção.
Embora só este ano o tema esteja a ganhar dimensão, já desde o ano passado que a Quinta das Rasas vendia as cerejas online para qualquer ponto do país e até para fora. Este ano, com a pandemia e com menos turistas a deslocarem-se à região propositadamente, a aposta nesta vertente aumentou imenso, assim como os pedidos. No primeiro dia de entregas, o site já registava 180 encomendas, um número impressionante e até inesperado logo num primeiro dia. Contam-nos durante a visita que no dia seguinte à entrevista já contavam com “60 encomendas para seguir amanhã”. As cerejas seguem por transportadora e são sempre entregues no dia seguinte, garantindo a qualidade máxima do produto ao consumidor. Falando em preços, a caixa da cereja média é vendida a 15 euros (2 quilos) e a caixa da cereja maior e até mais procurada é vendida a 22 euros (2 quilos). “O cliente procura mais a qualidade do que a quantidade. É frequente ver pessoas a preferirem mandar vir uma caixa da maior do que duas caixas da mais pequena, embora o valor fique idêntico”. Em relação ao preço do produto, que muitos consideram alto, confidenciam-nos que se justifica “pela sua elevada qualidade e por ser um fruto que se dá muito bem com as condições especificas desta região em específico”. Esta valorização do próprio produto é um longo caminho que tem sido feito pelos produtores no geral e muito pela Quinta das Rasas, notando-se nestes números e encomendas uma enorme valorização do produto por parte das pessoas de fora. “É necessário que os fundanenses também façam esta defesa e valorização, vendo-o como um produto de topo que merece o preço a que é vendido”, é esta a certeza de quem trabalha de perto com a cereja. Outros produtos feitos de cereja estão também a ser muito requisitados pelos clientes, principalmente os doces e licores.
Muitos têm apontado a existência excessiva de monocultura de cereja no concelho como justificação da quebra na produção e não do clima ou da pandemia, mas a verdade é que na Quinta das Rasas isso não se sucede e explicaram-nos porquê. “Nas nossas propriedades fazemos uma exploração muito intensiva que faz com que as árvores não durem tantos anos, já que duram apenas cerca de 10 anos até serem trocadas e isto evita com que comecem a dar menos do que o habitual”. Em relação à necessidade de pousio ou rotatividade, esta também está assegurada, já que dá para evitar o esgotamento de monoculturas alterando a variedade de cereja plantada em cada local, não esgotando os solos e dando-lhes a rotatividade que estes pedem.
A maior diferença está de facto na falta de pessoas. Pela fase das cerejeiras em flor e agora com as cerejas já a ocuparem as árvores de forma vistosa (e saborosa diga-se de passagem) muitos eram os turistas nacionais e estrangeiros que se deslocavam a conhecer a quinta, que tantas experiências tem para oferecer. Visitas, experiência de apanhar cereja, degustações, fins-de-semana no campo… Tantas são as hipóteses que agora estão suspensas por motivos de força maior e que traziam tantos e tantos turistas à Quinta das Rasas. “É o primeiro ano que tenho fins-de-semana nesta altura, até agora era impossível isso acontecer” contam-nos. Ainda assim, “faz-nos falta essa movimentação, essa procura… Porque temos sempre vontade de dar a conhecer o produto e como o trabalhamos a pessoas que vêm de fora propositadamente para saber mais sobre nós e sobre como conseguimos produzir um produto com tanta qualidade como o nosso”.
Mas não só de cerejas vive o negócio… Também começam agora nesta época a surgir outros frutos que têm muita saída e que são muito apreciados pelo público. Os pêssegos e os mirtilos são outras opções muito saborosas que a Quinta das Rasas tem à sua disposição na altura de Verão, tanto a fruta em si como os deliciosos doces e licores feitos com eles e que fazem as delícias das gentes de cá e das gentes de fora.
Termina a visita e saímos como se sai de uma experiência tão especial como esta. Mais conhecedores da realidade da Cereja do Fundão, do setor e da forma como a magia acontece (e de barriga cheia confesso também). Responsáveis pelo maior volume de vendas deste produto em todo o país, a Quinta das Rasas marca pela diferença e pelo modernismo com que faz a tradição acontecer. Se ainda não comeu cerejas este ano, nem sabe o que está a perder!
Este artigo é da autoria de Fernando Gil Teixeira e foi originalmente publicado em Jornal Fórum Covilhã.