‘Romance da Última Cruzada’ – em inglês, peça de teatro é ‘play’

por Sandra Henriques,    17 Novembro, 2016
‘Romance da Última Cruzada’ – em inglês, peça de teatro é ‘play’
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Fomos ver, ao Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, a estreia absoluta (e sessão única na cidade) da peça “Romance da Última Cruzada”, da companhia de teatro Visões Úteis. A peça segue para Gaia, de 17 a 20 de Novembro no Armazém 22 e estará depois em Setúbal, a 9 de Dezembro na Casa da Cultura e, no próximo ano, no Teatro Municipal de Vila Real.

Ao entrar, dois atores, vestidos como se fossem tripulação de algum navio, fixam-nos, de vez em quando. A história começa numa ilha onde se acende uma fogueira que na verdade é um aquário com terra lá dentro e uma vela acesa. Em seguida, os atores, que são mais que tudo narradores, começam uma caminhada de suposições para tentar descobrir quem é o homem que se apresenta numa fotografia no centro do palco, um militar deitado em erva seca com uma espingarda à frente e uma expressão de “dor, tristeza e esperança”, segundo os narradores.

Existe uma terceira interveniente que vai enriquecendo a peça trazendo e levando objetos de dentro de uma espécie de caixa de areia onde está inserida, verticalmente, a tal fotografia. Falando em caixa de areia, o tom da peça é sempre meio infantil, no sentido de ser ingénuo. Há uma empolgação constante nos personagens, é como se estivessem a brincar ao “faz de conta”. Supõem sobre o retrato mil e uma histórias e fascinam-se a cada hipótese, até desistirem dela. Não existe, de facto, e tal como tinha sido anunciado na folha de sala, nenhuma pretensão de chegar a uma “verdade histórica ou qualquer tipo de redenção para a (aparentemente) inevitável atração humana pelo conflito”. É apenas uma viagem, cativante o suficiente para se manter durante a sua duração de pouco mais que uma hora, que é o tempo ideal para a peça. Ao início, o espetáculo revela-se um pouco confuso, enquanto não se “entra no jogo”, mas depois de se entrar, torna-se um exercício interessante que nos convida a estar no presente, sem artifícios que nos façam esquecer que é uma peça de teatro.

Não se vai ver esta peça para aprender o que quer que seja, ou pensar e refletir muito sobre a guerra. É uma criação leve que joga com possibilidades, passando por algumas questões mais sérias com humor. Ou se entra no jogo e se passa uma boa hora com pormenores “teatralmente curiosos” e a imaginar uma explicação para o retrato, ou se fica à espera que haja uma conclusão que não chegará. O melhor é jogar.

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