Sofar Sounds Lisboa: Três anos de histórias

por Linda Formiga,    10 Março, 2017
Sofar Sounds Lisboa: Três anos de histórias

Há muitos meses fomos convidados para assistir a uma sessão do Sofar Sounds Lisboa, uma coisa meio enigmática na RESTART e na qual pudemos assistir a uma actuação de Luís Severo, Surma e Flying Cages. Fazendo o rescaldo dessa edição e, sem pensarmos muito, Luís Severo está atualmente nas bocas do mundo; Surma é o que se sabe, uma lufada de ar fresco e um poço de talento que esteve presente em muitos festivais por esse Portugal fora – e provavelmente a revelação do ano passado -, e os Flying Cages, com as suas reminiscências de Arctic Monkeys, uma das bandas indie rock mais interessantes neste país.

Desde então, assistimos a várias edições do Sofar Sounds, conhecemos espaços, conhecemos bandas, por vezes re-conhecemos bandas, emocionámo-nos, rimos, damos por nós a bater o pé ao som daquele tipo de música que se calhar nem gostamos muito, mas depois vamos a correr para casa para sabermos mais sobre quem por ali passou. E somos muitas vezes surpreendidos e quase que nos emocionamos com os artistas que conhecemos aqui e que, numa espécie de programa-do-Júlio-Isidro-versão-década-de-2010, sabemos que serão reconhecidos, irão crescer e que, de certa forma, nós tivemos a oportunidade de os ver nascer.

A 33.ª edição – e vamos falar de duas edições neste artigo – ocorreu num local emblemático e nobre da Rua das Janelas Verdes, na Wooze, uma galeria de arte. Provavelmente a edição mais internacional a que assistimos, começando pelos The Ocelots, gémeos irlandeses com vozes de sonho, guitarra acústica e muitas histórias para contar. Repetentes nestas andanças de Sofar Sounds (já estiveram na edição de Dublin), os The Ocelots sorvem influências de Bob Dylan ou Simon & Garfunkel, contam histórias de amor e de finais trágicos de vida, e são muito maiores do que estas palavras poderão contar. Foi um excelente início e indicador do que viria a seguir.

Os The Ocelots já nos tinham mostrado o que é a sinceridade e a humildade, e o MC Ary veio comprovar isso mesmo depois. Brasileiro de nascença, português de vida, com experiências similares às de tantas outras experiências nossas, música a sua vida com a sinceridade que a sua experiência de vida lhe calcou. Acompanhado por um exímio grupo de músicos, termina a sua edição a falar da importância da gratidão na vida de todos e de cada um.

É com essa gratidão que recebemos Leo Middea, brasileiro a residir há meses em Portugal. E que voz. E que poemas. E que viagem à mais pura e bela MPB, com Caetano, com Bethânia, com Jobim a espreitarem em todos os sons. Leo Middea tem 21 anos e uma alma do tamanho do mundo. É impossível não o eleger já como um dos futuros grandes músicos da MPB. Esperamos que Leo comece a dar concertos por Portugal brevemente, para homenagear os álbuns já lançados (disponíveis por essas plataformas de streaming fora) e que um dia destes, ou daqui a muitos anos, olhemos para a enorme obra de Middea e nos lembremos daquele concerto pequenino naquela galeria de arte nas Janelas Verdes.

Na semana seguinte rumámos ao Príncipe Real e entrámos n’A Sociedade, um espaço dedicado a experiências gastronómicas e que se abriu para receber outras experiências que alimentam igualmente a alma.

E foi exactamente isso que aconteceu, com Manuel Dordio, com uma simples guitarra, mas melodias não tão simples, apresentou as suas músicas – e também de outros –, improvisou, mostrou que muitas vezes não são precisas palavras para nos fazer imaginar pessoas, espaços ou momentos. E é mais um nome para a lista de «músicos a acompanhar».

Depois, o nome daquele que já acompanhamos há muito, Filipe Sambado. Não são necessárias grandes apresentações, atire a primeira pedra quem nunca trauteou uma música de Filipe Sambado. Acompanhado da guitarra, a sua voz e os campos que canta estão em tudo sintonizados com o espaço em que se insere. Música e alma, voz por vezes quase sussurrada, imagens cantadas e uma grande familiaridade. O álbum de 2016, «Vida Salgada», que deveria ser revisitado pelo menos 2 vezes por dia, todos os dias, domina a atuação de Filipe Sambado. No final, a expectativa de novo trabalho, que seguiremos atentamente para que possamos «Aprender e ensinar a amar».

Entre a audiência estava Leo Middea, que havia encerrado a edição anterior do Sofar. E quem se seguiu foi o seu conterrâneo Filipe Catto. Sem ouvirmos Filipe Catto, o que nos salta à vista é um ser humano com uma beleza impressionante e energia especial. Quando o ouvimos cantar, não temos qualquer dúvida de que é o próximo grande nome da MPB, talvez a par de Leo Middea. Ainda um pouco (mas injustamente) desconhecido em Portugal, Filipe Catto tem já dois álbuns de originais e um EP. Dono de um timbre de voz lindíssimo, Filipe Catto remete-nos para Ellis Regina, talvez Ney Matogrosso, mas com uma singularidade que dificilmente esqueceremos. Para finalizar, «Saga», a música que o catapultou e que irá sempre cantar com a maior das gratidões. E é com esta gratidão que o acompanharemos.

O Sofar Sounds Lisboa faz 3 anos. Haverá uma edição no dia 12 de Março e outra no dia 26, para que possamos comemorar esta forma tão nobre e bonita de conhecer artistas.

Inscrições para o Sofar Sounds Lisboa: https://www.sofarsounds.com/lisbon

Relembramos que já existem edições Sofar Sounds no Porto e em Coimbra.

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