‘The Club’, um imperdível conto sobre a fé e o pecado
The Club (ou El Club, O Clube) é o novo filme de Pablo Larraín, o mesmo que em 2012 nos trouxe o filme No, nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Desta vez, o merecido reconhecimento à nova obra do realizador veio com o Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim e a nomeação para um Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Perturbador, atmosférico e mordaz, The Club é uma visão clínica e inteligente sobre um assunto sensível e fracturante. Curiosamente um assunto também abordado por Spotlight, recente nomeado ao Óscar de Melhor Filme. Uma visão de ambiente negro, critica sobre a Igreja Católica e seus padres com hábitos pecaminosos.
O enevoado filme, de constantes tons escuros e fúnebres, traz-nos a história de cinco homens e uma mulher que vivem afastados da sociedade que os rodeia numa localidade costeira. Cedo percebemos que misteriosos homens são afinal padres e a mulher uma freira encarregada de cuidar dos mesmos.
O seu único contacto com o exterior dá-se quando vão treinar o seu galgo, o “único cão mencionado na Bíblia” que a freira leva a competir localmente com o propósito de lhes render dinheiro. Aí começamos a perceber que estamos na presença de padres com hábitos pouco “convencionais”.
A harmonia rotineira é abalada com a chegada do padre Lazcano. De semblante carregado a interpretação de Jose Soza traz-nos todo o peso da existência que a personagem deve carregar. Uma existência cujos contornos começamos a conhecer quando Sandokan (Roberto Farias) se faz sentir quando chega à porta da casa dos padres e grita o segredo que carrega consigo. Os habitantes da casa não mais serão os mesmos e tanto eles como nós seremos obrigados a confrontar-nos com o seu negro passado e com o seu presente.
The Club é um filme corrosivo e de desfechos trágicos. Um irresistível amargo de boca. Duro de se ver, é uma obra assinalável com interpretações fantásticas por parte dos seus actores e uma fotografia e ambiance de relevo. Cinema do real e da moral.
Uma fábula sobre fé e o seu oposto, o pecado, mas sobretudo sobre a culpa e consequente redenção. Uma soberba obra dentro do género, infelizmente destinada a ficar esquecida ou abafada pelo seu cunho polémico. É por tudo isto que deve ser devidamente elevada.